segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Notas de Campo (3) - Campanha de 2016

Os trabalhos do Projecto Outeiro do Circo continuaram durante a 2ª semana de Agosto, sempre marcados pelo intenso calor que se fez sentir, o que dificultou em muito o andamento das tarefas a realizar. No entanto foi possível manter o cumprimento dos objectivos propostos para esta campanha, tendo sido possível concluir a escavação da sondagem 3 e prosseguir a intervenção nas novas áreas.
Na sondagem 3 apenas restavam por escavar alguns níveis de sedimento misturado com matéria geológica devido ao revolvimento provocado pela passagem dos arados, não surgindo assim outras evidências de interesse arqueológico para além da fossa escavada no ano anterior e da grande quantidade de materiais, sobretudo cerâmicos, aí recolhidos.
Na sondagem 7, localizada nas proximidades de uma sondagem anterior que permitiu a escavação de um troço de muralha, ainda não se vislumbram sinais de estruturas, continuando a ser escavada uma espessa unidade de barros negros que já atinge cerca de 70 cm de profundidade e embalando grande quantidade de materiais cerâmicos muito fragmentados e rolados. A profundidade alcançada até ao momento leva-nos a esperar que possam aqui ter subsistido níveis ou estruturas conservadas, uma vez que já nos encontramos abaixo das afectações provocadas pela agricultura mecanizada que oscilam entre os 20 a 40 cm.
O cenário na sondagem 8 apresenta-se bastante diferente pois começa a definir-se o que aparenta ser uma estrutura, talvez correspondente ao muro superior já anteriormente identificado noutro troço da muralha, mas que foi parcialmente destruída pela acção dos arados que arrastou e deslocou algumas pedras que formavam um alinhamento. A estratigrafia nesta sondagem também se apresenta mais complexa com níveis distintos de cada lado da provável estrutura e com o aparecimento de zonas mais compactadas e com inclusão de pequenos nódulos de barro cozido, para além de uma maior quantidade de materiais e de maior variedade nas formas documentadas. 
Foi ainda realizada uma sondagem de 2 x 2 m que não estava inicialmente programada, mas que se encontrava prevista, juntamente com outras sondagens de dimensão idêntica, no programa geral de trabalhos do projecto, e que servem para avaliar de modo disperso várias áreas do povoado onde de momento não estão previstos trabalhos de maior envergadura, possibilitando deste modo pequenas avaliações que poderão ser úteis para definir a programação de trabalhos no futuro. 
A sondagem 9 foi então implantada numa zona do topo do povoado entre a grande concentração de blocos de pedra situados em volta do ponto mais alto e junto a uma área lavrada virada para Oeste. Pretendia-se com esta sondagem verificar o nível de afectação provocado pelas lavouras anuais neste local o que se verificou ser total, pois após breve raspagem observou-se logo de seguida o substrato geológico. Em toda a área envolvente as terras apresentam uma coloração mais clara relacionada com a presença pouco profunda do geológico o que indica escassas possibilidades de aí encontrarmos estruturas preservadas.
Durante toda a semana decorreram várias acções de formação prática com os voluntários, sendo dada particular atenção aos participantes com menos experiência em escavações arqueológicas.
Assim, e com o apoio dos voluntários mais experientes, houve oportunidade para se desenvolverem actividades práticas de desenho e topografia, que irão continuar nas próximas semanas.

Também prosseguiram os trabalhos de lavagem de materiais durante toda a semana e prevê-se que nos próximos dias se iniciem trabalhos de marcação e inventário, o que permitirá seguramente uma formação mais completa aos voluntários que assim têm oportunidade de colaborar nas acções principais de campo e de gabinete do projecto.
Complementarmente continuaram também as visitas guiadas ao centro histórico de Beja, sendo de destacar a ida ao Hospital da Misericórdia onde a equipa do Outeiro do Circo foi recebida por elementos da direcção da Santa Casa da Misericórdia de Beja a quem agradecemos desde já a amabilidade e efectuando-se a visita aos vários espaços deste monumento, como a sala de arcos ogivais que serviu de enfermaria, ao claustro e pátio interior, à Capela de Nossa Senhora da Piedade e ao núcleo museológico que integra a antiga farmácia do hospital que aí funcionou até à segunda metade do século XX: 



É ainda de referir que a semana começou praticamente com mais uma conferência, no dia 9 e que teve como oradora a Dr.ª Kate Leonard que participa nas escavações do Outeiro do Circo no âmbito de um projecto por si desenvolvido com o intuito de integrar 12 projectos em 12 países ao longo de 12 meses, tendo partilhado esta aventura e as diferentes experiências acumuladas com 15 interessados em conhecer esta viagem pelo globo através da arqueologia.

Esta semana ficou ainda marcada pelo início das iniciativas com grupos de Actividades de Tempos Livres e que levaram ao Outeiro do Circo um total de 33 participantes entre crianças e monitores dos ATLs da Academia de Ginástica da Zona Azul, da União de Freguesias de Santiago Maior e São João Baptista (Penedo Gordo) e da Be-Happy, Actividades Educativas, Lda.. Os jovens, com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos puderam assim conhecer um povoado com 3000 anos através do contacto com materiais e réplicas arqueológicas e de explicações com recurso a imagens e ilustrações para posteriormente participarem nos trabalhos de escavação e ajudarem a equipa de arqueólogos e estudantes a descobrirem os artefactos da Idade do Bronze que a terra ainda esconde!
 






Por último resta-nos agradecer aos voluntários que terminaram a sua participação no final desta 1ª quinzena e que contribuíram com grande empenho e dedicação e com um grande grau de envolvimento em todas as acções desenvolvidas ao longo destas duas semanas. Um muito obrigado ao Victor Almiron, à Irene Faza e ao Mladen Rachev e desejos de que seja possível um reencontro o mais brevemente possível.

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