Após as primeiras tentativas de dar início a um processo de investigação sistemática para o Outeiro do Circo e consequentemente para o estudo da Idade do Bronze nos Barros de Beja, foi apresentado ao Instituto Português de Arqueologia um novo projecto com a designação “A transição Bronze Final / Iª Idade do Ferro no Sul de Portugal. O caso do Outeiro do Circo”, que foi aprovado em 2008 num enquadramento institucional em que já não existiam financiamentos no âmbito do PNTA.
Para evitar repetir a situação do PNTA de 2001, procurou-se desde logo motivar alguns agentes locais, que responderam afirmativamente ao repto lançado, ou seja, apoiar financeira e logisticamente um projecto de investigação arqueológica. A Câmara Municipal de Beja surgiu assim como o principal suporte de apoio, envolvendo também a Junta de Freguesia de Mombeja que cede os transportes e a estadia. Em termos logísticos, foi indispensável o apoio da DEGEBE – Associação de Valorização do Património Cultural e da empresa Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda., que fornece todos os equipamentos necessários à execução dos trabalhos.
Com a reformulação do projecto mantiveram-se os objectivos genéricos, mas identificaram-se de forma mais precisa as áreas de interesse a intervencionar com base nos resultados da fotointerpretação e das prospecções no terreno.
Foram assim identificadas duas áreas principais a serem objecto de intervenção arqueológica que permitissem um avaliação geral do sítio, o que se adivinhava algo difícil de cumprir devido à vastidão da área ocupada pelo povoado.
Uma das áreas correspondia à entrada principal ladeada por bastiões, que se havia identificado na fotografia aérea, mas que não foi possível de escavar por insuficiência de meios.
Face a estes constrangimentos optou-se por centrar as atenções numa zona do talude Sudoeste onde aparentemente a muralha poderia estar melhor conservada.
A 11 de Agosto de 2008 inciaram-se os trabalhos na designada sondagem 1 (12 x 4 m), com o objectivo de documentar a técnica construtiva da muralha, obter dados cronológicos mais precisos que os observados em prospecção e verificar o seu estado de conservação.
Foto 1: Desmatação e limpeza da sondagem 1 (2008)
Foto 2: Sondagem 1 após limpeza superficial (2008)
Foto 3: Vista da zona de implantação da sondagem 1 (2008)
Foto 4: Sondagem 1 após remoção da camada vegetal. Nível de acumulação de pedra de época contemporânea (2008)
A escavação da sondagem 1 decorreu durante 18 dias contando com a participação de vários voluntários, incluindo algumas jornadas de fim-de-semana.
Foto 5: Fase dos trabalhos (2008)
Foto 6: Fase dos trabalhos (2008)
Nesta primeira campanha apenas se escavaram estratos revolvidos que documentam a exploração do local em diversas épocas históricas, sobretudo para uso da pedra da muralha como material de construção reutilizado.
Nos níveis intervencionados é de registar a presença de vários derrubes que fariam parte da muralha, juntamente com muitos fragmentos (em grande parte rolados) de cerâmica enquadrável na Idade do Bronze, bem como vestígios de épocas mais recentes (tegulae, faiança, cerâmica vidrada, telha industrial, plástico, etc) e outros de períodos mais recuados (braçal de arqueiro), atestando o grande revolvimento ocorrido neste sector.
Foto 7: Final dos trabalhos de 2008
Foto 8: Aspecto da sondagem 1 no final dos trabalhos de 2008
Foto 9: Lavagem de materiais (2008)
Outra presença constante são os numerosos fragmentos de barro cozido, que poderão ter feito parte da estrutura da muralha, sugerindo-se a sua utilização como ligante para preenchimento de lacunas na construção, à semelhança do que se propôs para outros povoados muralhados da mesma época (BERROCAL-RANGEL e SILVA, 2007: 181).
No fim dos trabalhos ainda foi possível iniciar a escavação de uma camada (C.3) que já não revelava a presença de materiais mais recentes, podendo corresponder a uma eventual fase de abandono do sítio, mas isso seria algo a ter de aguardar confirmação no ano seguinte.
Foto 10: Fotografia de despedida! (2008)
Foto 11: O último dia (2008)
No decurso dos trabalhos de campo realizaram-se diversas outras actividades que podemos enquadrar naquilo que designamos como o Projecto Social do Outeiro do Circo, quer com o objectivo de divulgação, quer para sensibilização e educação patrimonial. Fomentaram-se visitas ao local das escavações, especialmente direcionadas para a população local e realizou-se uma acção de formação para os participantes nos trabalhos.
Foto 12: Visitas aos trabalhos (2008)
Foto 13: Acção de formação para os participantes (2008)
Foto 14: Acção de formação para os participantes (2008)
Após a selagem da área de escavação, para garantir a preservação dos níveis intervencionados, deram-se por terminados os trabalhos, aguardando-se que a campanha seguinte fosse mais profícua em termos de resultados.
Foto 15: Selagem da sondagem 1 (2008)
Bibliografia
BERROCAL-RANGEL, Luis e SILVA, António Carlos (2007), O Castro dos Ratinhos (Moura, Portugal), Um complexo defensivo no Bronze Final do Sudoeste Peninsular, in Berrocal-Rangel, Luis e Moret, Pierre (eds), Paisajes Fortificados de la Edad de Hierro. Las murallas protohistóricas de la Meseta y la vertiente atlántica en su contexto europeo, Real Academia de la Casa de Velázquez, Madrid, pp. 169 – 190.
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