O desenvolvimento das técnicas de fotografia aérea teve forte impulso durante e após a 2ª Guerra Mundial. Servindo objectivos tácticos muito específicos, rapidamente se disseminou entre os arqueólogos, sobretudo britânicos, devido às muitas novidades que permitiu documentar.
Actualmente, contamos com uma série de novos meios de fazer foto-interpretação, desde o advento dos geoportais, como o Google Earth, Bing Maps ou Flash Earth, que permitem um acesso simples e rápido a imagens aéreas de qualquer parte do mundo. O rápido desenvolvimento destas tecnologias, foi de enorme utilidade para os arqueólogos, pois muitas vezes, estas possuem maior definição e qualidade que as tradicionais fotografias aéreas, apesar de não as substituírem, mas antes as complementarem.
O Outeiro do Circo só foi alvo deste tipo de análise muito recentemente (SERRA et alii, 2008), proporcionando importantes novidades em relação à planta anteriormente publicada (PARREIRA, 1977) e permitindo um cálculo mais concreto da área do povoado, anteriormente estimada em 8 ha, e que actualmente se julga ter cerca de 17 ha.
No primeiro artigo específico sobre este importante povoado, Rui Parreira, publica uma primeira planta do recinto (fig. 1), que revela a configuração ainda hoje facilmente reconhecível na fotografia aérea (fig. 2), com forma elipsoidal alongada e observando-se um pequeno troço com dupla cintura de muralha.
Fig. 1
Fig. 2
Um exame mais pormenorizado desta imagem, permitiu a apresentação de uma nova planta (fig. 3), reveladora algumas novidades, como o facto de aparentemente a dupla linha de muralha se estender a todo o povoado e o surgimento de uma entrada principal ladeada por dois bastiões (fig. 3 D), para além da integração de várias estruturas indeterminadas no topo Norte do povoado (fig. 3 A).
Fig. 3
No decorrer do actual projecto, procurou-se documentar novamente a fotografia aérea, de forma a servir para a definição de áreas de potencial interesse a intervencionar, conjugando esta análise com a informação obtida com as prospecções no terreno. Recorreu-se, desta vez, a uma selecção de imagens históricas do Google Earth, de modo a obter aquela que revelasse maior potencial informativo (fig. 4).
Fig. 4
O resultado deste pequeno estudo, permitiu corrigir algumas interpretações (falhas de leitura nas formas observadas) da planta anterior, produzindo-se uma planta com maior aproximação em relação à realidade observada também no terreno (fig 5 e 6), sendo de destacar o facto de a dupla linha de muralha não ser completamente observável em todo o perímetro defensivo.
Fig. 6
A zona onde se identificou a possível entrada principal do povoado revela agora maior pormenor, após o tratamento da imagem com aumento de contraste (fig. 7), facilitando o reconhecimento das formas (fig. 8), que neste caso já não se observam no local, devido à acção destruidora da agricultura mecanizada.
Fig. 8
As novas funcionalidades disponíveis no Google Earth, como por exemplo a ferramenta de inclinação automática com zoom, permitem-nos novos meios de percepcionar o sítio e a envolvência e inclusivamente criam um suporte para a realização de reconstituições tridimensionais simples (fig. 9), para efeitos de divulgação através da percepção imediata da configuração dos espaços.
Fig. 9
Bibliografia:
PARREIRA, R. (1977), O povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo, Arquivo de Beja, 28 – 32, pp. 31 – 45.
SERRA, M., PORFÍRIO, E. e ORTIZ, R. (2008), O Bronze Final no Sul de Portugal – Um ponto de partida para o estudo do povoado do Outeiro do Circo, Actas do III Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, Aljustrel, 26 a 28 de Outubro de 2006, VIPASCA, Arqueologia e História, n.º 2, 2ª série, 2008, pp. 163 – 170.
4 comentários:
Excelente trabalho!
Marcos Osório
Faço minhas também as palavras do Marcos Osório. Fico à espera de mais novidades :-)
Muito bom!
Abraço
AB (Topê)
Sendo de Beringel e tendo o curso de técnico de arqueologia, sempre conheci o outeiro do circo e fui lá várias vezes. Sempre achei que deveria ser um povoado importante devido à sua posição estratégica (dominando a planície em redor sem outras elevações num raio de vários quilómetros).
Parabéns pelo projecto o outeiro do circo merece ser estudado. É pena é ter sido já depois de tão estragado pelos consecutivos de lavoura...
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