quinta-feira, 11 de junho de 2015

Arqueologia experimental ou a “engenharia inversa” de recipientes cerâmicos do Bronze Final: Parte 3 – Experiências de selagem e uso

Durante a actividade “You make, I break, together we glue” que decorreu em 2013 no Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, para além das oficinas de modelação e cozedura de recipientes foi testada a sua utilidade recorrendo a várias matérias orgânicas para melhor impermeabilizar ou “selar” a porosidade das peças. Para isso, no dia 30 de Maio de 2013, a equipa (Ana Osório, Diana Fernandes, Sofia Silva, Eduardo Porfírio e Miguel Serra) reuniu alguns materiais e os recipientes das sessões prévias (cozidos a baixas temperaturas que não ultrapassaram os 700ºC). Mais uma vez a sessão começou com uma pequena apresentação, neste caso sobre práticas etnográficas de “selagem” das peças para diminuir a porosidade e recuperar fracturas.
De modo a compreender melhor os possíveis factores em jogo nesta fase esta sessão foi planeada de acordo com vários aspectos:
O primeiro passo consistiu em encher os recipientes com uma quantidade fixa de água durante 2 minutos e voltar a medir a água para observar quanta teria sido absorvida pela superfície dos recipientes. A maioria dos recipientes absorveu cerca de ¼ do volume de água, revelando grande presença de micro-fracturas pouco visíveis.


Em seguida construiu-se uma pequena fogueira para colocar os recipientes e ferver água. Os recipientes foram secos em volta da fogueira e aqueles que não apresentavam fracturas evidentes foram parcialmente cheios com água e postos sobre brasas na fogueira, controlando-se o tempo até à água ferver. Em muitos casos os recipientes rapidamente ficavam com as superfícies húmidas ou encharcadas, o que impedia que a água entrasse em ebulição e em alguns casos mais exagerados apagava as brasas.

Para recuperar os recipientes os participantes testaram materiais diferentes, presentes em diversa literatura etnográfica, ou uma combinação de vários: farinha integral; farelo; gordura animal (banha) e vegetal (azeite), sangue (no caso de galinha) e cera de abelha. Testou-se ainda o efeito de alguns produtos na cor: foi o caso do limão (ácido) e do vinho (por ser rico em taninos).Alguns materiais não melhoraram a performance dos recipientes, mas outros mostraram resultados muito interessantes e permitiram utilizar recipientes que até então não tinham permitido ferver a água.




Destaca-se a utilidade da cera na recuperação de recipientes com fissuras e que não tenham de ser usados sobre o fogo. O azeite, a banha e a papa de farelo/farinha com água, também funcionaram bastante bem em recipientes menos danificados mas cujas superfícies ficavam húmidas devido à porosidade excessiva, o que dificultava a ebulição.
Por brincadeira e curiosidade, perto do final da sessão preparou-se uma pequenina “refeição” composta por uma perna de coelho, favas e alho, cozida com sal num dos recipientes, e uma mistura de papas de farinha integral e água, cozida em outro. Quem provou diz que o coelho estava bastante bom, mas as papas… bom, eram papas de farinha! Além disso, e provavelmente devido à inspiração de dia 24, nesta actividade contámos outra vez com um bolo de chocolate fantástico! Desta vez foi feito e oferecido por uma das alunas participantes. Um bem-haja à Carla, e, evidentemente, à Eunice, que deu o mote!



Por fim, tal como nas actividades anteriores, os recipientes foram quebrados, para se poder observar os efeitos das três sessões experimentais nas fracturas dos recipientes, sobretudo no que dizia respeito às evidências de modelação e à cor.


A equipa do Projecto Outeiro do Circo gostava de agradecer o empenho da Doutora Raquel Vilaça, a presença de todos os participantes, e ainda o apoio das instituições envolvidas, como a AAA (Associação Arqueológica do Algarve) que financiou a actividade, o Instituto de Arqueologia, o CEMUC e o CEAUCP. Só com estes apoios foi possível realizar estas actividades com tranquilidade. Agradece-se ainda à Misericórdia de Coimbra a cedência do Campo de Jogos para fazer as fogueiras e ao Led&Mat do IPN em Coimbra pelo empréstimo dos termopares utilizados na sessão 2. 






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