O Projecto Outeiro do Circo irá marcar presença nas Jornadas Internacionais "Amanhar a terra - Arqueologia da Agricultura (do Neolítico ao Período Medieval)", que irão decorrer em Palmela entre os dias 17 e 19 de Junho.
Esta iniciativa é organizada pela Câmara Municipal de Palmela, com o apoio do CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, do Campo Arqueológico de Mértola / Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património e da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
As jornadas estão estruturadas em sete sessões temáticas: "Organizar e gerir o território agrícola"; "A água que a terra precisa: captação, distribuição e gestão"; "Cultivar, colher, conservar: materialidades e tecnologias"; "Transformar e consumir os produtos da terra"; " Domesticação das espécies vegetais e animais"; "Espaços de vida e morte das comunidades campesinas" e "Representações e simbolismo".
A comunicação do Projecto Outeiro do Circo está inserida na sessão "Cultivar, colher, conservar: materialidades e tecnologias", com o título: Campos, pastos e bosques. Comunidades agro-pastoris do Bronze Final no Outeiro do Circo (Mombeja, Beja, Portugal), da autoria de Miguel Serra (Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património), Eduardo Porfírio (Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património), Nelson J. Almeida (UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa), Sofia Silva (Axis Mundi - Heritage & Archaeology) e Sofia Soares (LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia).
Programa e ficha de inscrição: AQUI
Resumo da comunicação do Projecto Outeiro do Circo:
Na região onde se insere
o povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Beja), a agricultura e a
pecuária sempre moldaram a paisagem e os ritmos da atividade humana. Do seu
cimo, a meros 276 metros de altitude sobre a vasta planície circundante,
assiste-se hoje a uma transformação agrícola de larga escala, com a monocultura
intensiva de olival a ocupar toda a terra. Em simultâneo observa-se a regressão
dos anteriormente vastos campos cerealíferos, a teimosa resistência de algumas
manchas de montado, a escassez da floresta mediterrânica no cimo de algumas
colinas e os ténues bosques ripários nas secas linhas de água que sulcam os
terrenos de barro preto.
Há 3.000 anos atrás
este território era a base de exploração de um regime agropecuário que permitiu
a emergência e consolidação de uma comunidade capaz de construir as muralhas
complexas de um dos mais vastos povoados conhecidos no Sudoeste Ibérico,
durante a última etapa da Idade do Bronze, o Outeiro do Circo ou Cerro dos
Muros.
As escavações
arqueológicas empreendidas neste sítio desde 2008, a que se acrescem os
trabalhos de prospeção realizados nos anos 70 e 80 do século passado,
permitiram a recolha de um importante conjunto de evidências diretamente
relacionadas com as práticas agrícolas, pecuárias e cinegéticas dos seus habitantes.
O conjunto artefactual do Outeiro do Circo revela a existência de cerca de 3
dezenas de elementos de foice, obtidos a partir de materiais recolhidos em
zonas não muito distantes, situação que o afasta de outros povoados
fortificados coevos na região, onde estes elementos mostram uma rara presença,
ao contrário dos povoados abertos de planície, onde surgem mais comummente.
Este conjunto de utensilagem lítica é também revelador de uma manutenção da
tradição do trabalho da pedra durante o Bronze Final, escassamente estudado na
região, contrariando tendências de outras áreas geográficas, nas quais as
foices metálicas fazem o seu aparecimento. No Outeiro do Circo regista-se
também a recolha de algumas dezenas de fragmentos de dormentes e moventes, em
rocha gabro-diorítica local, elemento mais comum noutros sítios coevos, quer de
altura, quer de planície. O conjunto faunístico revela também a importância
da ligação da comunidade à terra, com uma maioria de animais de criação, dos quais se destacam as ovelhas e as cabras, que
terão provido carne, mas também recursos secundários como o leite e a lã. A
cabana pecuária contava ainda com gado bovino e suíno, demonstrando a
importância destas espécies para a economia de então. Para além da presença de
equídeos e do cão, cabe destacar que as práticas cinegéticas seriam
complementares, assentes na caça de veado e, eventualmente, javali,
coelho-bravo e lebre, assim como outras espécies ainda ausentes do
reportório faunístico.