O Outeiro do Circo, localmente conhecido como o “Cerro dos Muros”, é um grande povoado fortificado da Idade do Bronze Final (1250-850 a.C.) localizado no concelho e distrito de Beja em plena peneplanície do Baixo Alentejo.
Ocupa uma colina alongada, com cota máxima de
276 m, integrada numa formação geológica de tipo horst- graben, rodeado a norte e oeste por outras pequenas elevações,
enquanto que a sul e este domina a planície ondulada.
Os terrenos que o envolvem são constituídos
por solos de grande potencial agrícola denominados “Barros Pretos”, onde são conhecidos inúmeros sítios arqueológicos
datados do II e inícios do I milénio a.C.
O elemento estrutural que lhe confere maior
destaque corresponde a uma impressionante muralha que o delimita na sua quase
totalidade, definindo uma área ocupada de cerca de 17 hectares, o que o torna
um dos maiores povoados deste período na península ibérica. As muralhas revelam um sistema defensivo complexo, com troço de dupla muralha, bastiões e fossos.
Os trabalhos de escavação arqueológica
desenvolvidos entre 2008 e 2013 (de forma não continuada) incidiram sobre uma
zona melhor preservada da muralha, onde se documentou o que se
designou como “muralha compósita”,
composta por um muro superior, um sistema de rampas e plataformas e um muro de
contenção exterior construído sobre um fosso desativado. Atualmente os trabalhos arqueológicos desenvolvem-se no interior do povoado com o intuito de compreender melhor a área habitacional.
Os materiais recolhidos compunham-se maioritariamente de cerâmicas integráveis no Bronze Final, onde as peças a torno têm uma presença meramente residual. Destacam-se as formas carenadas, perfis em S e pegas mamilares, entre as mais comuns. Dentro das poucas cerâmicas decoradas, merece relevância a identificação de cerca de 50 fragmentos de ornatos brunidos, decoração típica do sudoeste, mas não exclusiva desta região.
Para além da componente cerâmica, há que
destacar a identificação de alguns objetos em bronze (argola, anel e brinco), bem
como de vestígios de produção metalúrgica que atestam estes fabricos no interior do povoado, sendo estes, até ao momento, os mais antigos do
sudoeste ibérico. Igualmente importante foi a descoberta de um cadinho com
vestígios de ouro, documentando pela primeira vez a metalurgia do ouro em
povoados do Bronze Final do Sudoeste.
Há ainda que referir a componente lítica,
pouco expressiva, mas atestando a existência de materiais ligados à prática
agrícola, mas também alguns elementos de adorno, entre os quais uma rara conta
de colar em variscite.
O Outeiro do Circo seria assim um importante povoado no quadro geográfico do sudoeste peninsular, assumindo funções de grande centro de poder regional, capaz de controlar e explorar um vasto território rico em recursos naturais, bem como importantes rotas comerciais que cruzavam esta vasta região durante a Idade do Bronze.
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