quarta-feira, 27 de abril de 2011

Artigos do Projecto Outeiro do Circo - 3

Encontra-se disponível para download mais um artigo do Projecto Outeiro do Circo, desta vez dedicado à arqueologia social. Foi apresentado sob o formato de poster no V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular (Almodôvar) em 2010.

http://coimbra.academia.edu/MiguelSerra/Talks/41145/Um_Projecto_de_Arqueologia_Social_em_Mombeja_Beja_

domingo, 24 de abril de 2011

Artigos do Projecto Outeiro do Circo - 2

Encontra-se disponível para download a versão para actas da comunicação sobre o balanço de 2 anos de investigação no Outeiro do Circo, proferida ao II Encontro de Jovens Investigadores do CEAUCP, que teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto entre 9 e 10 de Abril de 2010.


Pode ser descarregada em: http://coimbra.academia.edu/MiguelSerra/Talks/40980/O_povoado_do_Bronze_Final_do_Outeiro_do_Circo_Mombeja_Beringel_Beja_._Balanco_de_2_anos_de_investigacao

sábado, 23 de abril de 2011

Artigos do Projecto Outeiro do Circo

Encontra-se disponível para download o primeiro artigo dedicado ao projecto Outeiro do Circo. Este artigo baseia-se em trabalhos de prospecção e fotointerpretação anteriores ao início do actual projecto e foram apresentados sob o formato de poster no III Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular (Aljustrel, 26 a 28 de Outubro de 2006). Em breve contamos disponibilizar neste mesmo site outras publicações referentes aos trabalhos mais recentes sobre o Outeiro do Circo que ainda se encontram no prelo.

http://coimbra.academia.edu/MiguelSerra/Papers/401261/O_Bronze_Final_no_Sul_de_Portugal._Um_ponto_de_partida_para_o_estudo_do_povoado_do_Outeiro_do_Circo

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 15

Terminadas as II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, resta-nos agradecer, em nome da organização, pela enorme adesão registada, com cerca de 100 participantes o que tornou o espaço escolhido demasiado pequeno para esta iniciativa.

Não só de números se fez este encontro e o que mais sobressai é o facto de uma temática aparentemente estanque continuar bem viva e geradora de interesse por parte da comunidade científica com especial destaque para o público estudantil, grande responsável pelo sucesso do debate final e pelas inúmeras discussões durante a sessão analítica.

A variedade dos temas apresentados permitiu um panorama muito completo da realidade do Bronze do Sudoeste. Desde logo o início dos trabalhos ficou pautado pelo traçar de uma verdadeira biografia do Bronze do Sudoeste, a cargo de Rui Parreira, que para além dos aspectos relacionados com a historiografia deste período ainda incluíu na sua análise a caracterização da Idade do Bronze na região do Algarve.

O bloco seguinte centrou-se na apresentação de temas sobre o povoamento e a análise territorial de diversas regiões dentro do Bronze do Sudoeste e abrangendo uma vasta diacronia e destacando aspectos distintos, que permitem observar o grande poliformismo desta entidade arqueográfica.

As novidades surgidas nos últimos anos no Baixo Alentejo sobre sítios da Idade do Bronze, ficou bem patente na apresentação de Eduardo Porfírio acerca do sítio de Torre Velha 3 (Serpa), um flagrante exemplo de como o Bronze do Sudoeste ainda era apenas parcamente conhecido, sobretudo por achados funerários, mas ficando com um quadro geral mais completo com a enorme quantidade de povoados abertos de planície entretanto detectados. Mas Torre Velha 3 não revela só a sua importância no âmbito do conhecimento das estratégias de povoamento do Bronze Pleno, mas também mostra a riqueza das práticas funerárias e a proximidade da relação entre o mundo dos vivos e dos mortos que aqui compartem espaços muitos próximos.

Seguidamente a apresentação de Miguel Serra acerca do Outeiro do Circo (Beja), revela alguns aspectos relacionados com o pragmatismo das soluções construtivas postas em práctica pelas comunidades do Bronze Final neste vasto povoado fortificado, mas procurando também compreender a origem deste sítio através da sua inserção no espaço geográfico e na evolução do povoamento nesta região entre o Bronze Pleno e a Iª Idade do Ferro.

A apresentação de Pavón Soldevila e Duque Espino centrou-se no povoado de Castillo de Alange (Badajoz) e no seu território, revelando um intenso programa de investigação, que mesmo com as diversas dificuldades sentidas, permite considerar este um dos sítios melhor conhecidos do Bronze do Sudoeste. Aspectos como a existência de uma arquitectura monumental ou o estabelecimento de hierarquias de lugares entre Alange e as necrópoles de cistas ou os povoados de fossas da planície permitem traçar diversas perspectivas acerca dos processos sociais deste período. O complemento a este trabalho é fornecido pelo intenso e laborioso estudo arqueobotânico que permite a reconstituição paleoambiental, mostrando como estas comunidades interagiram com o espaço natural, antropizando-o e humanizando-o.

As conferências da tarde centraram-se em trabalhos especificamente dedicados ao estudo de metais e cerâmicas.

Ana Osório e Sara Almeida traçaram o perfil das cerâmicas decoradas da Idade do Bronze para em seguida se centrarem no caso concreto das cerâmicas de ornatos brunidos, após um interessante percurso por outros tipos de cerâmicas brunidas de vários períodos e de diversas regiões da Europa.

Carlo Bottaini por sua vez abordou a questão da evolução da prática metalúrgica no Sudoeste peninsular desde o calcolítico até ao Bronze Final, detendo-se em alguns exemplos concretos e terminando com uma interessante abordagem de arqueologia experimental onde se tenta a reconstituição dos processos metalúrgicos.

A sessão prática permitiu aos participantes terem um contacto mais directo com diversos materiais cerâmicos, desde os exemplares de Torre Velha 3, todos eles provenientes de contextos funerários e que revelam tipos bem conhecidos das cistas do Bronze Médio, mas também alguns materiais mais raros ou mesmo únicos nesta região. Uma outra mesa apresentava diversos tipos de cerâmicas brunidas, de várias épocas, sendo que a curiosidade dos participantes se centrava bastante nos exemplares de ornatos brunidos do Castelo de Arraiolos.

Por fim, ainda houve forças suficientes para fazer um balanço e algumas conclusões dos trabalhos a cargo de Raquel Vilaça e Rui Parreira, que permitiram sobretudo alimentar algumas questões para o interessante debate de mais de uma hora.

Não se poderia terminar este breve balanço sem uma referência aos trabalhos de alguns alunos de 2º ciclo de Arqueologia e Território, no âmbito do programa do seminário de Espaços e Sociedades (dirigido por Raquel Vilaça) que apresentaram os seus trabalhos sobre o formato de posters incidindo sobre temáticas variadas da Pré e Proto- História portuguesa e peninsular e que preencheram ainda mais umas jornadas já de si bastante intensas.


















sexta-feira, 8 de abril de 2011

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 14

Recordamos o programa das Jornadas:

Informamos ainda da comunicação que foi acrescentada ao programa, mas que já não foi possível inserir no cartaz de divulgação:

12:00 – Ignacio Pavón Soldevila e David Manuel Duque Espino, Paisaje y poblamiento en el II milenio a.C.: El Cerro del Castillo de Alange (Extremadura, España) y su territorio

quinta-feira, 7 de abril de 2011

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 13

Metalurgia proto-histórica na região do Bronze do Sudoeste

Carlo Bottaini
(CEAUCP)


O estudo dos metais proto-históricos representa uma importante chave de leitura para a compreensão da evolução tecnológica das sociedades arcaicas, bem como da sua evolução em termos de articulação social e de organização económica: na sua dupla dimensão de factores “de transformação” e “em transformação”, o estudo dos metais antigos precisa ser enquadrado na sua própria realidade arqueológica não devendo reduzir-se à mera exposição de dados analíticos. Só desta forma é que os artefactos metálicos podem dar um contributo essencial para a reconstrução do ambiente cultural, económico e social dentro do qual têm sido fabricados.

Nos últimos anos, o Sudoeste ibérico foi palco de vários projectos de investigação ligados ao estudo da arqueometalurgia e da arqueomineração, o que se traduziu na publicação crescente de artigos e de monografias sobre a matéria. Resultante destes trabalhos foi o acréscimo de informações disponíveis para a compreensão de vários aspectos da organização das sociedades proto-históricas da região e, inclusive, de dados respeitantes o âmbito da metalurgia.

Os trabalhos analíticos mais recentes focaram-se não apenas na determinação da composição química dos materiais analisados, bem como, apesar que de forma ainda bastante residual, na sua caracterização micro-estrutural e isotópica. Estas novas abordagens contribuíram para um estudo mais global e uma melhor avaliação do fenómeno metalúrgico, quer na sua vertente tecnológica, quer como elemento integrante das práticas sociais e económicas das sociedades proto-históricas da região.

A observação da realidade arqueológica até hoje conhecida na região em objecto permite deduzir, à semelhança do que foi registado em outras regiões do ocidente ibérico, uma metalurgia difusa mas de modesta escala até, pelo menos, o Bronze final: face a uma fraca tendência para a acumulação de metais, elementos próprios da cadeia operatória (moldes, cadinhos, escórias ou restos de fundição e, apesar de mais raros, tuyéres), para além dos próprios artefactos metálicos, aparecem de forma bastante generalizada na maior parte dos sítios intervencionados.

Em termos qualitativos, o quadro que se vai delineando no sudoeste ibérico descreve portanto uma metalurgia arcaica com modesta especialização e direccionada à produção de objectos dirigidos a um consumo de alcance local. Noutras palavras, uma metalurgia que, por largos séculos desde o seu aparecimento, se caracterizou por uma evidente monotonia tipológica e conservadorismo tecnológico: objectos em cobre e em cobre arsenical aparecem, no sul de Portugal, em contextos do Calcolítico médio continuando a ser fabricados, mesmo que com algumas variações, até ao Bronze final, altura em que o bronze, isto é ligas de Cu e Sn, manifestaram-se, pela primeira vez, no registo arqueológico da região.

Os dados procedentes do Sudoeste parecem portanto esboçar um quadro em que a primeira metalurgia não se configura como elemento estruturante do poder mas, bem pelo contrário, como actividade prática e suficientemente desenvolvida para responder às necessidades quotidianas.

Com base numa sintética reconstrução da actividade metalúrgica, o presente módulo repercorrerá a evolução tecnológica das ligas de Cu na área em objecto, enfrentando, pontualmente, problemáticas relativas aos outros metais em uso; a partir da análise dos contextos regionais, procura-se enquadrar algumas problemáticas próprias da metalurgia arcaica; finalmente, pretende-se reflectir sobre o papel do metal dentro das economias das comunidades locais, enquanto factor de mudança social e elemento de estruturação e organização territorial.

Bibliografia básica:

Childs T. S. (1991), Style, Technology, and Iron Smelting Furnaces in Bantu-Speaking Africa, Journal of Anthropological Archaeology 10: 322-359.

Gómez Ramos P. (1999), Obtención de metales en la Prehistoria de la Península Ibérica, BAR International Series 753

Hunt Ortiz M. (2003), Prehistoric Mining and Metallurgy in the South West Iberian Peninsula, BAR International Series 1188

Senna-Martinez J.C. (2007) Aspectos e problemas das origens e desenvolvimento da metalurgia do bronze na fachada atlântica peninsular, Estudos Arqueológicos de Oeiras, 15: 119-134

Soares A.M.M., Araújo M.F., Alves L., Ferraz M.T. (1996), Vestígios metalúrgicos em contextos calcolíticos e da Idade do Bronze no Sul de Portugal, in Miscellanea em Homenagem ao Professor Bairrão Oleiro, Colibri, Lisboa: 553-579.

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 12

Tipologias cerâmicas esmiúçam o Bronze Final: A cerâmica com decoração brunida no Sudoeste (SO) Peninsular



Ana Osório e Sara Almeida
(CEMUC/CEAUCP e Gabinete do Centro Histórico – Câmara Municipal de Coimbra)


As características e elementos de uma sociedade reflectem-se em todos os âmbitos da sua produção material. Essa cultura material resulta da objectivação do Homem através da acção (individual) que transforma a matéria prima inserido num contexto colectivo de necessidades, práticas e expressões (ser social). A interpretação dos objectos pauta-se pois por diversos aspectos visuais exteriores mas também se pode documentar em todas as fases do processo produtivo e distribuidor.

É inegável que a qualidade visual de uma imagem captura a atenção de modo ímpar, condicionando a percepção do arqueólogo na classificação dos seus objectos de estudo, tal como um dia terá exprimido a percepção, identidade e saber fazer daqueles que a produziram. Por isso , a partir daí pode discutir-se não só a dinâmica criadora das comunidades de práticas e das comunidades estéticas, mas também o papel da criatividade, da identidade e da passagem da tradição na produção artesanal.

Quando nos anos 60, Cunha Serrão, escavou um grupo de cerâmicas decoradas na Lapa do Fumo (Sesimbra) considerou que a decoração brunida daquele conjunto denotava alguma unidade. Comparou-as então a algumas outras descobertas em Espanha na região de Huelva e do Baixo Guadalquivir.

Circunscritos ao grupo da cerâmica decorada, as cerâmicas com decoração brunida equivalem a um conjunto minoritário, dentro do universo global da cultura cerâmica onde se inscrevem. Desde a identificação até hoje, a categoria que engloba as cerâmicas decoradas por brunimento foi aprofundada e melhor definida. Assim, conceptualmente definida pela especificidade técnica, aplicada na reprodução de uma linguagem estética própria, esta modalidade artefactual assumiu a conotação cronológica com o Final da Idade do Bronze; e uma distibuição geográfica, porque surge essencialmente no SO da Península Ibérica, com alguma extensão para NO e para a Meseta (correspondendo à àrea ocupada pelo chamado “Bronze do Sudoeste”).

O brunimento é um polimento intenso executado, quando a peça está na fase”meio seco”, com uma superfície dura e homogénea. A fricção produz um deslizamento e compactação das partículas argilosas criando uma superfície homogénea que reflecte a luz. Isto confere-lhe um aspecto brilhante e uma tonalidade mais intensa que, no caso dos motivos decorativos, contrasta com o restante aspecto das superfícies sem decoração.

De modo a enquadrar as cerâmicas com decoração brunida no contexto do Bronze Final Peninsular é pertinente abordar, de modo geral, os vários tipos decorativos cerâmicos que lhe surgem associados para delimitar os traços de contraste entre o SO e a restante Península.

Grupos como: cerâmicas pintadas a vermelho (de tipo Carambolo ou outros subtipos); cerâmicas excisas e de boquique (associadas na Meseta ao complexo Cogotas I), cerâmicas com almagra, cerâmicas incisas e cerâmicas incisas pós cozedura (de tipo Baiões/Santa Luzia) configuram a panóplia de estéticas e técnicas tradicionalmente relacionadas com o Bronze Final Peninsular. A sua definição, a delimitação de subgrupos e sobretudo as discussões sobre a cronologia e contextos de influência têm sido alvo de inúmeras revisões à medida que as sequências estratigráficas são reinterpretadas com base em novas escavações.

Na interpretação das cerâmicas de ornatos brunidos do SO, bem como dos tipos seus contemporâneos, deve ter em conta que elas representam ideias comuns manifestas em formas interrelacionais entre si mas que podem ter tido desenvolvimentos próprios, paralelos.

Apesar dos traços unificadores que congregam a ocorrência de Ornatos Brunidos no SO, cedo sobressaiu a individualização de duas expressões - diferenciadas ao nível dos suportes formais e esquemas decorativos de referência.

Estabelecida esta grande cisão em duas áreas nucleares, cuja inter-relação é para já conjectural, a análise mais atenta dos modelos manifestados por este tipo decorativo, ao nível dos contextos de proveniência (ocupacionais e funerários), em território nacional revela, ainda que de forma hesitante, a definição de padrões regionais, que matizam a aparente homogeneidade desta ainda consideravelmente mal conhecida realidade material.

Efectivamente, o contributo desta abordagem para a aproximação aos substratos culturais criadores, produtores e consumidores destes bens é de difícil aferição, em termos imediatos. Crê-se contudo, que uma percepção menos deformada deste fenómeno decorre forçosamente de um superior conhecimento, (sistemático, detalhado e cronologicamente enquadrado) desta cerâmica nas suas manifestações locais.

Bibliografia básica:

Almeida, S., Silva, R., e Osório, A. (no prelo), O povoado de S. Pedro de Arraiolos (Alentejo) – Novos dados para o seu conhecimento. Actas Siderum Ana II – El rio Guadiana en el Bronce Final. Mérida-Badajóz. Instituto de Arqueologia de Mérida.

Bubner, T. (1996), A cerâmica de ornatos brunidos em Portugal. In De Ulisses a Viriato. O primeiro milénio a.C. Lisboa: IPM: 66-72

Gómez Toscano, F. (1997), El final de la Edad del Bronce entre el Guadiana y el Guadalquivir: el território y su entorno. Huelva: Universidad de Huelva Publicaciones, Cap.5 "La Definición del Tiempo Y del Espacio": 231--254 .

Lopez Roa, M. (1977), La ceramica con decoración bruñida en el suroeste peninsular. Trabajos de Prehistoria, Vol. 34 , 341-370.

Serrão, E. (1970), As cerâmicas de «retícula bruñida» das estações arqueológicas espanholas e com «ornatos brunidos» da Lapa do Fumo". Actas das I Jornadas Arqueológicas (Lisboa, 1969), Vol 2. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses: 271-308.

Soares, A. M. (2005), Os povoados do Bronze Final do Sudoeste na margem esquerda portuguesa do Guadiana: novos dados sobre a cerâmica de ornatos brunidos. Revista Portuguesa de Arqueologia, vol. 8 (1): 111-145



Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 11

O povoamento aberto do Bronze Pleno no Sudoeste. Caso de estudo: o sítio de Torre Velha 3 (Serpa)

Eduardo Porfírio
(Palimpsesto, Lda. e CEAUCP)


Aquando da sistematização do quadro evolutivo da Idade do Bronze do Sudoeste da Península Ibérica por H. Schubart em 1975, a ausência de povoados correlacionáveis com os cemitérios de cistas foi desde logo motivo de problematização. Esta ausência reflectiu-se em certa medida no modo como o autor caracterizou as sociedades daquele período, como populações seminómanadas, dispersas num vasto território, cujo único factor de coesão e reunião, seria o culto aos mortos realizados nas necrópoles, das quais algumas ocupavam lugares destacados na paisagem.

A importância que o arqueólogo alemão concedeu ao quadro geográfico da Idade do Bronze do Sudoeste, permitiu-lhe identificar um rol de potencialidades locais que determinariam a principal vocação económica destas comunidades. Assim, a existência de extensas e inóspitas áreas de serra favoreceria a criação de gado, enquanto a riqueza dos filões de cobre da faixa piritosa possibilitaria a prática metalúrgica, por seu turno, a fertilidade dos solos de algumas zonas do Alentejo e Algarve, permitiria o desenvolvimento da agricultura.

Posteriormente, na década de setenta do século XX, foram identificados no território português alguns povoados associados a necrópoles de cistas, entre os poucos que foram escavados, encontram-se os núcleos habitacionais da Quitéria e do Pessegueiro na zona de Sines e de Alcaria no concelho de Ourique. Comum a todos estes sítios é a sua localização bastante próxima dos núcleos funerários, a sua implantação em zonas aplanadas e abertas junto a linhas de água, e a ausência de condições naturais de defesa.

As estruturas habitacionais são constituídas por cabanas de planta rectangular, com embasamentos de pedra, sendo o restante construído com materiais perecíveis. No povoado do Pessegueiro, melhor conhecido em extensão, identificaram-se ainda lareiras de morfologia sub-circular, pavimentos lajeados e buracos de poste estruturados.

Os materiais arqueológicos recolhidos nestes núcleos habitacionais, revelam a existência de uma relação estreita entre os recursos naturais disponíveis nas proximidades e as actividades económicas desenvolvidas por estas comunidades, nomeadamente a agricultura e a produção metalúrgica de pequena escala. No caso dos povoados da zona de Sines, haveria ainda que acrescentar àquele quadro, a pesca e a recolecção de marisco.

Mais recentemente, a construção de diversos empreendimentos no âmbito do projecto Alqueva, implicou grandes movimentações de solos em áreas consideráveis do Alto e Baixo Alentejo, daqui resultando um incremento no número de ocorrências arqueológicas relacionáveis com a Idade do Bronze. Apesar do número de novos sítios que vão sendo estudados e publicados ser ainda reduzida, é desde já possível analisar a existência de tendências comuns.

O conjunto de contextos habitacionais intervencionados na zona de S. Manços (Évora), Serpa e Trigaches (Beja), compartilham com os exemplos da área de Sines e Ourique o carácter aberto e a implantação topográfica. No entanto, diferenciam-se daquele grupo de povoados pela ausência quase total de contextos arqueológicos de cota positiva, caracterizando-se principalmente pela aglomeração de estruturas escavadas no substrato geológico, de “fossas” tipo silo, algumas das quais revelaram utilizações funerárias. Este tipo de estruturas que terão funcionado enquanto áreas de armazenagem de alimentos, em conjunto com elementos de foice e numerosos dormentes e moventes pertencentes a mós de tipo vai e vem, testemunham indirectamente a vocação agrícola destas comunidades que praticavam ainda uma metalurgia de pequena escala.

A grande maioria destes núcleos habitacionais está datada do Bronze Final, seja através de datações absolutas, seja pela presença de cerâmica de ornatos brunidos, no entanto, no caso de Casarão da Mesquita 3 (S. Manços, Évora), foi possível recuar a ocupação até ao período do Bronze Pleno.

O sítio Torre Velha 3 (Serpa) situa-se numa elevação de altitude pouco expressiva (180 m.), rodeada por encostas de pendentes suaves, delimitada a Norte e a nascente pela Ribeira da Laje. A ocupação da Idade do Bronze identificada neste sítio, é também constituída por um conjunto de estruturas escavadas no “caliço”, únicos vestígios sobreviventes do que poderá ter sido um extenso povoado dedicado à exploração dos recursos agrícolas.

A vertente funerária da Idade do Bronze de Torre Velha 3, a exemplo do que ocorre frequentemente neste conjunto de povoados, encontra-se documentada através da identificação de inumações humanas em “fossas” de tipo silo. Um outro tipo de estrutura sepulcral já datada por C14 de um período integrável no Bronze Pleno, é constituída por hipogeus compostos por antecâmara e câmara em forma de pequena cavidade escavada no substrato geológico, datados do Bronze Pleno.

Um grande óbice ao conhecimento mais aprofundado de povoados como Torre Velha 3, prende-se com a afectação por fenómenos pós-deposicionais dos níveis arqueológicos correspondentes ao topo das “fossas” de tipo silo e aos níveis de ocupação, impossibilitando por completo a análise da relação estratigráfica entre as estruturas. Deste modo, resulta difícil estabelecer contemporaneidades, continuidades ou rupturas para as várias ocupações que parecem coexistir espacialmente neste conjunto de povoados.

A solução para questões desta índole, assim como de outras que se têm levantado no decurso do processo de análise destes sítios, dependente em grande medida de uma abordagem multidisciplinar, conjugada com o investimento em áreas de estudo mais tradicionais no seio da própria arqueologia, como é o caso do estudo de materiais.

Nesta comunicação pretende-se não só caracterizar e problematizar a ocupação da Idade do Bronze de Torre Velha 3, na sua vertente habitacional e funerária, apresentando-se os vários trabalhos de investigação que têm sido desenvolvidos, assim como alguns dos resultados obtidos e as perspectivas de investigação a desenvolver futuramente.

Bibliografia básica:

Alves, C., Costeira, C., Estrela, S., Porfírio, E., Serra, M., Soares, A. M., Moreno-García, M. (2010), Hipogeus funerários do Bronze Pleno da Torre Velha 3 (Serpa, Portugal). O Sudeste no Sudoeste?!. Zephyrus, LXVI: 133-153.

Deus, M., Antunes, A. S., Soares, A. M. (2010), A Salsa 3 (Serpa) no contexto dos povoados abertos do Bronze Final do Bronze do Sudoeste. Actas del IV Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular (J.A. Pérez y E. Romero, eds.): 514-543.

Rebelo, P., Santos, R., Neto, N., Fontes, T., Soares, A. M., Deus, M., Antunes, A. S. (2010), Dados preliminares da intervenção arqueológica no sítio do Bronze Final de Entre Águas 5 (Serpa). Actas del IV Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular (J.A. Pérez y E. Romero, eds.): 463 - 488.

Santos, F. J. C., Arez, L., Soares, A. M., Dues, M., Queiroz, P., Valério, P., Rodrigues, Z., Antunes, A. S., Araújo, M. de F. (2010), O Casarão da Mesquita 3 (S. Manços, Évora): um sítio de «fossas» silo do Bronze/Final na encosta do Albardão. Revista Portuguesa de Arqueologia, 11 (2): 55-86.
Em:http://www.igespar.pt/media/uploads/revistaportuguesadearqueologia/ 11.2/1_2_3_4/04_p.055-086.pdf

Valera, A. C., Filipe, V. (2010), Outeiro Alto 2 (Brinches, Serpa): nota preliminar sobre um espaço funerário e de socialização do Neolítico à Idade do Bronze. Apontamentos de Arqueologia e Património, 5: 49-56. http://www.nia-era.org/component/option,com_docman/task,doc_download/gid,78/Itemid,55/




Localização de Torre Velha 3 (Serpa)


Implantação topográfica de Torre Velha 3


Hipogeu


Enterramento humano em fossa tipo silo

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 11

O Bronze do Sudoeste como entidade arqueográfica: a visibilidade dos dados empíricos e os resultados da pesquisa como produto social


Rui Parreira
(Direcção Regional de Cultura do Algarve)


Para o Sudoeste peninsular os dados empíricos referentes ao 2.º milénio anterior à era cristã têm sido abordados, desde o século XIX, sob distintos enquadramentos teóricos. Procura-se, por isso, reflectir como essas diferentes perspectivas têm condicionado interpretações discrepantes e abordagens diferenciadas, desde as centradas nos objectos e nos sítios, às que consideram os territórios e as paisagens culturais, ou às que, na materialidade do registo arqueológico, procuram discernir contradições, transformações e continuidades na sociedade da chamada Idade do Bronze.

1.
Ainda nos anos 1960, todas as evidências empíricas da Idade do Bronze do Sul peninsular eram identificadas com a «Cultura de El Argar», entidade definida a partir de um estabelecimento escavado por Siret nos finais do século XIX, na região de Almeria. Para além dos trabalhos realizados em El Argar, os Siret empreenderam trabalhos de terreno fundamentais em outros sítios, como Fuente Álamo, El Ofício ou Gatas, criando os esquemas básicos de periodização e a primeira definição arqueográfica de uma Idade do Bronze peninsular de feição mediterrânea.

Para o Sudoeste, é obrigatório mencionar os contributos de Estácio da Veiga no conhecimento empírico dos contextos funerários da Idade do Bronze. Os seus registos constituem muitas vezes a única base de argumentação, uma vez que os contextos que ele descreveu e ilustrou nas «Antiguidades Monumentaes do Algarve» desapareceram fisicamente ou deles apenas restam os artefactos. No texto das «Antiguidades…» ou na «Carta Arqueológica do Algarve / Tempos Pré-Históricos», Estácio da Veiga coligiu e sistematizou os registos anteriores, classificando os diversos contextos sepulcrais, motivou o interesse científico pelas necrópoles da Idade do Bronze no Sudoeste peninsular, e os seus resultados desencadearam uma nova fase da investigação.

Esta inicia-se logo a partir da publicação das «Antiguidades…», com os trabalhos de Santos Rocha, e prolonga-se durante os três primeiros quartéis do século XX, de acordo com uma perspectiva histórico culturalista. Com os contributos de José Formosinho, Veiga Ferreira e Abel Viana, entre outros, foi possível complementar e acumular mais dados. Mas os incipientes registos das intervenções de terreno e a incidência das investigações em áreas específicas e limitadas (Barros de Beja, Caldas de Monchique, p. ex.), revelam limitações arqueográficas idênticas às das necrópoles identificadas por Estácio da Veiga. Somente nos anos 1960 os ensaios de síntese de Fernando Nunes Ribeiro (com base na sua própria colecção particular) e de Miguel Tarradell permitiram começar a encarar o Sudoeste peninsular como uma área distinta dentro das «culturas» da Idade do Bronze peninsular, começando os autores a referenciar um «Bronze meridional português».

Em inícios de 1962, numa viagem científica feita com Vera Leisner pelo Sul de Portugal, Hermanfrid Schubart visitou as escavações de Abel Viana no Monte da Atalaia, no município de Ourique, no Portugal profundo, onde duas campanhas de terreno (1959 e 1960) haviam revelado importantes estruturas sepulcrais. Por aquela altura, Abel Viana dava já sinais de uma saúde precária e convidou Schubart para continuar as escavações por ele iniciadas. Assim se realizaram as campanhas de 1962 e 1963 na Atalaia. O próprio Schubart recordaria nostalgicamente essas campanhas e o excelente convívio com Abel Viana, que junto dos seus amigos classificava aquilo como um «trabalho gigantesco», inimaginável, onde se trabalhava inclusivamente aos domingos e, já próximo do final das campanhas, todos os dias e com horas extra! Devido à sua já precária saúde, Viana ia pouco à escavação mas informava-se de tudo e apreciava os trabalhos através dos planos desenhados no terreno. Fiel ao compromisso que assumira com o Instituto Arqueológico Alemão, encarregava-se das ferramentas, do alojamento (na casa de peregrinos da Senhora da Cola, onde se reuniam todos para o jantar) e da alimentação, preparada por uma cozinheira por ele contratada e onde o vinho nunca faltava. Diz Schubart que, apesar do trabalho duro durante todo o dia, «vivia-se bem naquele ermo». Apesar das distâncias, as sardinhas chegavam regularmente, levadas pelo peixeiro em caixas, conservadas em sal. Numa ocasião, Schubart levou alguns dos trabalhadores no seu jipe, até à Praia, a Vila Nova de Milfontes: nunca tinham visto mar! E foi agarrados, dando as mãos a Schubart, que entraram juntos na água!

Viana faleceu em 1964, não chegando a ver a publicação dos resultados, mas na sequência deles, em 1975, Schubart publicou numa obra de conjunto todas as informações disponíveis na bibliografia e nos principais museus e colecções. Uma rigorosa compilação e sistematização que lhe permitiu fundamentar aquilo que ele então definira já como «Cultura da Idade do Bronze do Sudoeste da Península Ibérica» (entidade arqueográfica que passou a ser abreviadamente designada como «Bronze do Sudoeste»). A síntese que elaborou, largamente assente nos achados funerários, tornou possível ensaiar uma sistematização regional e traçar um quadro evolutivo do Bronze inicial e médio no Sudoeste peninsular.

Atendendo a que as necrópoles não apresentam uma ocupação prolongada e contínua, que possibilitasse una periodização baseada em estratigrafia horizontal, o sistema de periodização proposto por Schubart, de dois períodos, foi baseado exclusivamente nas evidências sepulcrais, particularmente na diversidade da arquitectura tumular e na ocorrência nos cemitérios de materiais cerâmicos e metálicos, aferida por critérios simples de ausência/presença. Um período «de formação» inicial foi colocado em paralelo com o campaniforme tardio e com Argar A e, para ele, Schubart introduziu o conceito de «Horizonte de Ferradeira». O período I corresponderia ao Argárico B e o período II ao Bronze tardio do Sueste peninsular. Em 1976, Almagro chegou a propor a designação de período III para o Bronze final do Sudoeste mas a diversidade dos contextos e materiais levou a que esta nomenclatura não fosse adoptada. A definição de distintas formas de cerâmica e de artefactos metálicos e a sua diferenciada distribuição regional levou a que se propusessem matizes regionais no «Bronze do Sudoeste».

Este «Bronze do Sudoeste» foi também espacialmente delimitado: fazia extrema com o Norte alentejano e com a Extremadura espanhola, onde materiais idênticos surgiam em contextos de reuso de sepulcros megalíticos (Colada de Monte Nuevo e alguns sepulcros do Norte alentejano); para nascente não alcançava o Vale do Guadalquivir e a noroeste fazia extrema com o Vale do Tejo: em ambas as zonas, a forte presença do vaso campaniforme indiciava uma continuidade durante o Bronze Antigo (até ao século XVIII a.n.e.) e no Vale do Tejo a circulação de materiais idênticos aos do período II do Sudoeste permitia argumentar a ocorrência de um Bronze Tardio.

Neste esquema se baseou a «integração cronológica e cultural» de algumas evidências específicas: as peças de ourivesaria e as estelas decoradas. Se bem que os argumentos em que se apoia a contextualização das estelas não sejam totalmente convincentes, a sua ocorrência (por vezes vários exemplares) nos mesmos locais onde se regista a presença de sepulturas em cista ajustou-se à ideia de que as estelas assinalavam os locais de enterramento de personagens destacadas no plano social, constituindo a evidência empírica de uma «mudança nos meios e nas formas utilizadas na valorização / memorialização» desses indivíduos, sugerindo «a substituição do grande ‘tumulus’ pela estela» (M. V. Gomes) reproduzindo artefactos raros ou totalmente ausentes dos inventários sepulcrais, como «objectos ancoriformes», espadas e alabardas.

Foi a disponibilização dos dados sistematizados que permitiu uma nova fase na produção de conhecimento acerca do Bronze do Sudoeste. Autores como García Sanjuan , Barceló ou Susana Jorge puderam ensaiar novas reflexões sobre cronologia e evidência empírica de uma estruturação social complexa.

Contudo, o carreamento de dados e a sua sistematização enfrentava diversos problemas, que até aos recentes trabalhos realizados no Alentejo dificultaram a interpretação do processo histórico do Sudoeste peninsular entre o final do 3.º e os inícios do 1.º milénio a.n.e.

2.
Procuremos sumariar o conhecimento produzido sobre a Idade do Bronze antigo e médio do Sudoeste peninsular até aos inícios do século XXI:
• A evidência empírica aponta para comunidades que, em regra, tumularam em sepulcros individuais em fossa ou em cista, contendo um repertório cerâmico e metálico estandardizado.
• As listagens de sítios atribuídos ao «Bronze do Sudoeste» incluem sempre a simples ocorrência de cistas, mesmo que sem material diagnóstico; tal não é, contudo, um argumento cronológico evidente, pois reiteradas vezes demonstrou-se que também as comunidades da Idade do Ferro do Algarve e do Alentejo tumulavam em cistas rectangulares (Gregórios, Fonte Velha de Bensafrim, Corte Margaridinha, …).
• Os dados da sequência horizontal da Atalaia demonstram a «longa duração» de alguns dos «monumentos», embora não cubram toda a sequência do «Bronze do Sudoeste»; nenhuma outra necrópole apresenta uma utilização contínua ao longo de todo o 2.º milénio (ou, pelo menos, dos seus três primeiros quartéis); ainda assim, as necrópoles «em favo» apresentam uma sequência que autoriza uma periodização baseada na estratigrafia horizontal – mas constituem uma minoria.
• Tão pouco a orientação das sepulturas em cista é, necessariamente, um indicador cronológico, embora se tenha sugerido uma tendência para uma maior antiguidade das cistas dispostas norte / sul.
• O esquema cronológico do «Bronze do Sudoeste» baseia-se, assim, na diversidade da arquitectura tumular e, sobretudo, na desigualdade dos acervos sepulcrais, contrastada por critérios de ausência / presença, quer em contextos funerários fechados, quer entre as diferentes necrópoles.
• Esse esquema foi já por diversas vezes contestado, quer no que respeita aos matizes regionais, quer relativamente aos parâmetros cronométricos.
• Em contrapartida, não se conheciam praticamente os espaços habitacionais (no Algarve, Vinha do Casão – e agora também Vale de Boi e Catalão, no Alentejo, Pessegueiro, Quitéria e Alcaria constituíam excepções) – e esta «invisibilidade arqueológica» sugeria a presença de uns «casarios perecíveis» [a expressão foi usada por Arteaga para os povoados situados nas terras planas na área argárica clássica], de duração seguramente muito limitada, que a erosão dos solos, provocada pelos trabalhos agrícolas modernos, ou a prospecção mal direccionada para estas realidades, teria impedido de registar convenientemente; ou seja, o «Bronze do Sudoeste» (pelo menos até aos momentos terminais do período II) seria caracterizado por povoados que não possuíam de todo características de povoados estáveis, vastos e de longa duração, e que também não podiam ser confundidos com os estabelecimentos de altura característicos do Bronze final
• Quem aceitasse o esquema cronológico proposto por Schubart, procurando ajustar-lhe os, até então escassos, contextos do «Bronze do Sudoeste» datados por radiocarbono, obtinha os seguintes parâmetros cal BC para a evolução da Idade do Bronze no Sudoeste peninsular:
o Séc. XXII-XXI — Bronze inicial («Horizonte de Ferradeira»)
o Séc. XX-XVIII — Bronze médio antigo (período I do SW)
o Séc. XVII-XIII — Bronze médio recente (período II do SW)
Já o conhecimento da Idade do Bronze final do Sudoeste ao iniciar o século XXI parecia limitado pela escassa visibilidade das necrópoles, pelo insuficiente conhecimento dos espaços habitacionais, quer em altura, quer sem condições naturais de defesa, e pela incipiente caracterização dos possíveis santuários em cavidades naturais (como a Lapa do Fumo ou a gruta de Ibne Amar).

Ainda assim, parecia possível ensaiar uma visão de síntese do processo histórico entre os finais do 3.º e inícios do 1.º milénio a.n.e.

3.
Em meados do 3º Milénio a.n.e., o panorama civilizacional do arco atlântico-mediterrâneo do Sul da Península Ibérica caracteriza-se por um conjunto de centros de poder, que correspondem a aglomerados habitacionais que alcançam grandes dimensões. A necessidade de uma maior eficácia na exploração dos territórios implicou uma gestão dirigida e controlada a partir desses estabelecimentos e o aparecimento de personagens notáveis, constituindo uma elite que geria as comunidades e os territórios dependentes. Esses aglomerados habitacionais funcionaram não só como grandes armazéns de uma produção planificada, mas também como centros de redistribuição de produtos muito variados, obtidos por tributação dos produtores assentados em povoados, de menor dimensão e duração, localizados junto às áreas de produção do território controlado, o que permitiu a toda a comunidade aceder ao consumo de produtos diferentes dos que eram produzidos por cada um dos seus elementos e que significou um inegável progresso na economia. As reservas de produção arrecadadas nas grandes aldeias permitiram aos mais notáveis assegurar o intercâmbio de bens de consumo entre os centros de poder e as suas periferias. Mas permitiram igualmente sustentar uma vasta rede de intercâmbio supra-regional de produtos raros e de bens de prestígio, dando lugar a transacções entre as elites estabelecidas nos grandes centros de poder.

Evidências desses centros de poder, muitos deles de elevada visibilidade arqueológica graças à sua posição topográfica e longa duração, localizam-se na Baía de Lagos, na Estremadura portuguesa, nos vales do Guadalquivir, do Alto Sado e do Guadiana Médio, em Antequera ou na Andaluzia Oriental.

As elites apareciam perante todos como garantes da estabilidade comunitária, como intermediárias entre os homens e as divindades, ou assegurando a continuidade dos cultivos e o sustento das comunidades. O poder foi exercido com meios de coerção ideológica e política, na aparência aplicada pelo bem da comunidade, razão pela qual os mais notáveis viram o seu poder reforçado e o aparelho de estado se viu consolidado na sua forma prístina.

Suportadas na sujeição e exploração da força de trabalho mediante tributação, esse panorama consolidou-se cerca de 2800 cal BC, e evolucionou até cerca de 2200 cal BC com base num sistema de reprodução das desigualdades sociais mediante uma estrutura de dependência e hegemonia organizada sobre articulações centro/periferia.

4.
Cerca de 2200 a.n.e. parece evidente o colapso do sistema tributário sobre o qual assentava o panorama civilizacional do 3º milénio, emoldurado por contradições sociais e económicas. A situação caracteriza-se a partir de então por um particular desenvolvimento das periferias mineiras e das aristocracias que dominam esses territórios e controlam os recursos, estimulando neles a afirmação de lideranças personalizadas e uma maior segregação social, e conduzindo à desestruturação dos circuitos de obtenção e distribuição dos bens de consumo mais raros, p. ex. minério. Estas formações económico-sociais correspondem a entidades arqueográficas que se identificam com a Idade do Bronze.

O período seguinte (2200-2000 a.n.e.) corresponde a uma rede de povoamento mal conhecida, consequência de um processo de descentralização política. Esta época é marcada não apenas pela ocorrência de tumulações «tardias» em sepulcros monumentais calcolíticos mas igualmente por uma alteração visível nos rituais funerários, referenciada a um pequeno grupo de tumulações individualizadas, praticadas em antelas de planta ovalada delimitada por lajes imbricadas. Nessas tumulações estão presentes punhais de lingueta, pontas de cobre variantes do tipo Palmela e «braçais de arqueiro», artefactos que, em outras áreas, podem aparecer associados aos vasos campaniformes mais tardios. Estas ocorrências integram-se numa entidade arqueográfica a que Schubart chamou «Horizonte de Ferradeira».

No período seguinte, do Bronze Médio antigo (I do SW), de 2000-1700 a.n.e., acentua-se o processo de descentralização política e de dispersão do povoamento, a que corresponde um razoável número de cemitérios onde as inumações são praticadas em cistas de pedra ou em covas, tapadas com uma laje horizontal e dimensionadas à justa para a colocação de um cadáver em posição fetal, acompanhado ou não de espólio detectável pelo registo arqueológico. Essas sepulturas são por vezes envolvidas por uma estrutura tumular que lhes confere monumentalidade. São estruturas tumulares complexas, onde a um túmulo inicial foram sucessivamente justapostos outros, em regra de menor dimensão, dando ao conjunto, no final, um aspecto de um favo de túmulos adossados. Perto, mas separadas desses favos, aparecem por vezes sepulturas, com ou sem túmulo, interpretadas como «periféricas e mais tardias». Em outros casos, aliás mais frequentes, os cemitérios são polinucleados com agrupamentos sepulcrais definidos pela aproximação espacial das cistas, estando aparentemente ausente qualquer estrutura que lhes confira monumentalidade. A maior monumentalidade dos túmulos ou a posição destes na sequência construtiva dos monumentos em favo pode ser interpretada como indício da desigual posição social dos indivíduos inumados. Em diversos casos foi possível registar o modo de deposição dos indivíduos e os gestos funerários. Vasos de cerâmica e, raramente, artefactos de cobre, constituem o acervo funerário, cuja desigual distribuição nas sepulturas (de nenhum objecto a vários, ausência ou presença de armas metálicas) reflecte um tratamento diferenciado dos cadáveres e exprime a diferença dos estatutos relativos à idade, ao género ou à função numa hierarquia de poder.

Ao período mais recente do Bronze Médio (II do SW), de 1700-1200 a.n.e., são atribuídas inumações em cista por vezes localizadas em necrópoles que ofereceram igualmente materiais que autorizam datar o início do seu uso ainda no período I do SW. A par da menor dimensão das cistas, desconhecem-se neste período recintos, mamoas ou estruturas tumulares complexas que lhes confiram monumentalidade. É a desigual distribuição dos acervos nas sepulturas que constitui o principal indício da desigualdade social dos indivíduos inumados. Nesses inventários do período II estão presentes cerâmicas que imitam, na cor e na forma, recipientes metálicos: taças de carena marcada e ornatos no fundo interno, vasos com decoração de «gomos», recipientes com o colo estrangulado e corpo esférico com decoração nervurada, mamilos na metade superior do vaso ou sobre as carenas e bordos. Para além destes vasos cerâmicos, o acervo funerário inclui artefactos metálicos como punhais de rebites, machados planos e, mais raramente, alabardas. Na interpretação da estratificação social, esses dados devem, porém, ser avaliados com reservas, tendo em conta a crescente importância que, nas sociedades do 2º milénio, adquire a «ideologia da emulação». Alguns objectos deixam de ser exclusivos das elites guerreiras, já que ao porte de algumas armas, como os punhais, convertidos em meio de produção para a guerra e a rapina, é atribuído um significado social de pertença à comunidade.

É assim plausível que, nas necrópoles, a expressão do poder tenha sido alterada: na necrópole de Alfarrobeira (Silves), em posição periférica à estrutura de túmulos monumentalizados em favo do período I do SW, registou-se uma sepultura em cista sem tumulus à qual terá estado associada uma estela decorada de «estilo alentejano», do subtipo A. Embora os argumentos em que se apoia a contextualização da estela de Alfarrobeira não sejam totalmente convincentes, a ocorrência de um conjunto de estelas em Passadeiras, no mesmo sítio onde se registaram cistas desprovidas de túmulo, ajusta-se à ideia de que as estelas identificavam os locais de enterramento de determinados personagens, destacados na hierarquia social. Parece assim verificar-se uma «mudança nos meios e nas formas utilizadas na valorização-memorialização» desses indivíduos. Estas estelas reproduzem artefactos raros ou ausentes dos inventários sepulcrais: «objectos ancoriformes», espadas, alabardas.

5.
À descentralização política e dispersão do povoamento ocorrido durante o Bronze médio (períodos I e II do SW) sucede a partir de 1200 a.n.e., no final da Idade do Bronze, um processo de reconfiguração dos centros do poder político-administrativo. Estes correspondem a uma sociedade guerreira acentuadamente hierarquizada, baseada num controlo económico fortemente centralizado. Ocorre então a formação de povoados de altura, com aptidões naturais de ocupação e de defesa, lugares de residência das elites guerreiras que controlavam os territórios, reforçados pela construção de recintos amuralhados. É a partir deles que se controla e armazena a produção agropecuária e a metalurgia do bronze e se gere o sistema tributário que garante a coesão dessas entidades políticas. Apesar de um conhecimento insuficiente dos locais de habitat do Bronze final, parece verificar-se que estes centros políticos detinham hegemonia sobre territórios que incluíam sítios de produção e lugares de controlo das rotas de circulação dos bens materiais. Neste âmbito, os rituais funerários podem ter deixado de ser o meio privilegiado para as elites exibirem os sinais do seu poder, que se transferem agora para outros lugares sacralizados, como as cavidades naturais, e para cerimoniais de outro tipo, como a redistribuição de bens de consumo ou o uso ostentatório de objectos de excepção, nomeadamente daqueles que estão presentes na iconografia das estelas de «estilo estremenho», alguns de inspiração exótica.

A propósito de uma tumulação no tholos do Malhanito (Alcoutim), a única no Algarve atribuída ao final da Idade do Bronze, Cardoso (2004) recenseou as reutilizações funerárias de monumentos megalíticos ocorridas nos finais do 2º e no 1º milénio a.n.e no Sul de Portugal, constatando a coexistência das práticas da inumação e da incineração dos cadáveres. Alguns autores procuraram, aliás, associar a estela de Figueira, do «estilo estremenho», a uma sepultura de incineração. Porém, e ao contrário da vizinha área tartéssica da Andaluzia Ocidental, a escassez de necrópoles referenciadas para o Bronze final no Sudoeste não autorizava qualquer síntese fundamentada.

Bibliografia básica:

Barceló, J. (1991), El Bronce del Sudoeste y la cronologia de las estelas alentejanas, Arqueologia, 21, Porto: 15 - 24

Gomes, M. V., Gomes, R. V., Beirão, C. de M., Matos, J. L. de (1986) - A necrópole da Vinha do Casão (Vilamoura, Algarve), no contexto da Idade do Bronze do Sudoeste peninsular. Trabalhos de Arqueologia, 2, Lisboa: Instituto Português do Património Cultural.

Parreira, R. (1995), Aspectos da Idade do Bronze no Alentejo Interior, in A Idade do Bronze em Portugal - Discursos de Poder, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa: 131 - 134.

Ribeiro, F. N. (1965), O Bronze Meridional Português. Beja. Ed. de Autor.

Schubart, H. (1965), Atalaia: uma necrópole da Idade do Bronze no Baixo Alentejo, Arquivo de Beja, Beja, vol. 22: 7 – 136

Schubart, H. (1971), Acerca de la cerâmica del Bronce Tardio en el Sul y Oeste peninsular, Trabajos de Prehistoria, Madrid, 28: 153 – 182

Schubart, H. (1972), Novos achados sepulcrais do Bronze do Sudoeste II, Actas das II Jornadas Arqueológicas, Vol. II, Lisboa: 65 – 86

Schubart, H. (1975a), Die Bronzezeit im Sudwesten der Iberichen Halbinsel, Madrider Forschungen, Berlin, 91

Schubart, H. (1975b), Die Kultur der Bronzezeit im Sudwesten der Iberichen Halbinsel, Madrider Forschungen, Berlin, Walter de Gruyter & Co.


Hermanfrid Schubart

terça-feira, 5 de abril de 2011

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 10

Paisaje y poblamiento en el II milenio a.C.: el Cerro del Castillo de Alange (Extremadura, España) y su territorio.

Ignacio Pavón Soldevila y David M. Duque Espino

(PRETAGU. Área de Prehistoria. Universidad de Extremadura)


Desde el estudio y publicación, por parte de H. Schubart, de los enterramientos de Colada de Monte Novo (Olivenza), el sur de la Extremadura española ha venido considerándose como una geografía de “difusión” de elementos puntuales de la “Cultura del Bronce del Suroeste”. Sin embargo, la propuesta que en esta comunicación se defiende es más bien la de su plena “integración”, en base a la documentación generada en las últimas décadas.

Los ítems materiales relacionados con dicha “cultura” ofrecen una distribución dispar por las diferentes comarcas badajocenses. Entre ellas, sin duda es la denominada Tierra de Barros la que acoge un mayor número de manifestaciones, contando con además con algunos de los pocos yacimientos que han sido objeto de excavaciones, como el poblado del Cerro del Castillo de Alange o la necrópolis de Las Minitas.

Como sucede en buena parte del Suroeste, los hábitats de la Edad del Bronce resultan muy mal conocidos. Si bien al Bronce Final puede adscribirse un conjunto creciente, al Bronce Antiguo y Pleno apenas puede llevarse el poblado del Cerro del Castillo de Alange; objeto de excavaciones discontinuas entre 1987 y 2006. Ubicado en un punto estratégico, en alto, en el tramo final del río Matachel, este sitio ha aportado –hallazgos casuales al margen– una secuencia estratigráfica amplia; suficiente documentación para reconstruir el paleoambiente y la paleoeconomía; y últimamente, sugerentes estructuras arquitectónicas que permiten hoy empezar a estudiar uno de los aspectos peor conocidos del Bronce del Suroeste, como es el urbanístico. Además, Alange ofrece un interesante contrapunto al poblamiento que se extiende por los barros (principalmente reconocible a través de agregaciones de cistas), y por la comarca de Mérida (con el campo de hoyos del Carrascalejo), permitiendo plantear nuevos elementos de discusión sobre la dinámica territorial y cultural en esta zona limítrofe del Suroeste.

Los diferentes trabajos estratigráficos nos permiten hablar hoy de una secuencia ocupacional que discurre desde el Bronce Antiguo y el Bronce Pleno al Bronce Final; distinguiendo en este punto la articulación de un Bronce Tardío (Bronce Final I de la secuencia local) y un Bronce Final Precolonial (o Bronce Final II). Si bien los ítems de la ocupación más antigua denotan puntos de continuidad con los que acompañan al campaniforme en el Calcolítico Final bajoextremeño, igualmente preludian las formas carenadas que se afianzan en el Bronce Medio. Éste, cabalmente, puede calificarse de “Bronce del Suroeste”, por la similitud formal de su alfarería y metalurgia con las que por el Algarve, Alentejo y parte de la Estremadura portuguesa –o la provincia de Huelva– se desarrollan. Más claro resulta, como elemento intrusivo y ajeno a las tradiciones locales o suroccidentales, el universo material del Bronce Tardío, con abundantes piezas decoradas de claro signo meseteño (horizonte Cogotas I), para las que –sobre todo a raíz de los hallazgos del Carrascalejo y del propio Alange– tal vez pueda plantearse un proceso seminal algo anterior. Por último, el Bronce Final, precolonial, ha sido reconocido en contextos estratigráficos sólo recientemente, si bien asociado a estructuras muy arrasadas.

A nivel paleoambiental y paleoeconómico, las diferentes disciplinas arqueobotánicas, y la arqueofauna, han permitido caracterizar al entorno alangeño como un espacio progresivamente antropizado. Una antropización relacionable esencialmente con la actividad agro-ganadera, personalizada tanto por la consolidación de una cabaña doméstica mayoritariamente representada, y diversamente explotada, como por el desarrollo de una agricultura cerealista complementada con el cultivo de algunas leguminosas.

Precisamente con el almacenamiento del trigo desnudo, ya limpio, se han relacionado los restos de un edificio parcialmente excavado en la campaña de 2005-06, que constituye la referencia hoy por hoy más visible y destacable de la arquitectura del Bronce Pleno de Alange. Se trata de un granero asentado sobre una terraza dispuesta en la ladera del sector de “La Solana”; construidos ambos con materiales locales; donde se guardaría el grano posiblemente en sacos. Compartiendo pautas constructivas con otros contextos habitacionales bien conocidos –entre otros– en el mundo argárico, constituye una de las más vistosas expresiones de la capacidad proto-urbanística de las gentes del Bronce del Suroeste. Sin embargo, el interés del granero de Alange puede ir más allá, sugiriendo a nivel teórico –dadas sus dimensiones y entidad suprafamiliar– prácticas de integración/redistribución que nos sitúan ante una sociedad de una cierta complejidad, del tipo “jefatura”, que otros hallazgos puntuales (como la orfebrería) parecen avalar.

No obstante, es la valoración de Alange en su territorio la que en mayor medida ayuda a ponderar esa teórica supremacía. En él, las necrópolis de cistas documentadas en contextos rurales (entre las que destaca la de Las Minitas, en Almendralejo) contribuyen a definir hábitats sincrónicos de menor entidad, en el llano, a priori volcados a actividades agropecuarias, y donde los ítems encontrados apuntan a menores desigualdades sociales. La convivencia de ambos tipos de yacimientos la entendemos en una estructura territorial jerarquizada, aunque son muchas aún las preguntas sobre su dinámica de funcionamiento. Pero Tierra de Barros, y su panorama relativamente complejo, no debió ser la única comarca vinculada culturalmente al Bronce del Suroeste; una entidad “arqueográfica”, de amplio desarrollo espacial y temporal, que muy posiblemente ofreciera diversas caras en términos socio-políticos y económicos.


Bibliografía básica:

Enríquez, J. J. y Drake, B. (2007), El Campo de Hoyos de la Edad del Bronce del Carrascalejo (Badajoz). Memorias de Arqueología Extremeña, 7. Mérida.

Pavón, I. (1998), El Cerro del Castillo de Alange. Intervenciones arqueológicas de 1993. Memorias de Arqueología Extremeña, 1. Mérida.

Pavón, I. (2008), El mundo funerario de la Edad del Bronce en la Tierra de Barros: una aproximación desde la bioarqueología de Las Minitas. Memorias de Arqueología Extremeña, 9. Mérida.

Pavón, I. (2008), La Edad del Bronce en la Tierra de Barros: nuevos hallazgos en el Cerro del Castillo de Alange (Badajoz). Nonnullus Revista de Historia, 3: 4-15. En: http://www.nonnullusrevistadehistoria.com/nonnullus-3/

Pavón, I., Duque, D., Pérez Jordà, G. y Márquez, J. M. (2010), Novedades en la Edad del Bronce del Guadiana Medio: intervención en el Cerro del Castillo de Alange (2005-2006). Actas del IV Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular (J.A. Pérez y E. Romero, eds.): 442-462.

Rodríguez, A. y Enríquez, J. J. (2001), Extremadura tartésica. Arqueología de un proceso periférico. Barcelona.


El poblamiento del II milenio a.C. en la Baja Extremadura, en el contexto de la Edad del Bronce del Suroeste (indicios de poblados en amarillo; indicios de necrópolis en blanco)


El Cerro del Castillo de Alange (Extremadura, España): zonas de intervención arqueológica y hallazgos casuales

Almacén de la plena Edad del Bronce en Alange (Corte 9, sector de La Solana, 2005)

Tipología cerámica del II milenio a.C. en Alange (según las excavaciones de 1987 y 1993)

Necrópolis de cistas de Las Minitas de Almendralejo (Extremadura, España)

II Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 9

O Povoamento Fortificado do Bronze Final no Sudoeste: caso de estudo: o sítio do Outeiro do Circo (Beja)

Miguel Serra

(Palimpsesto, Lda. e CEAUCP)


Trabalham em vão os que constroem defesas que esperam ver manter-se em pé sozinhas

(KEEGAN, John (2006), Uma História da Guerra, Edições tinta-da-china, Lisboa, p. 208)


As muralhas constituem, durante o Bronze Final no Sudoeste Peninsular, o elemento que definia a paisagem de populações e territórios, assumindo também um especial relevo na ideologia dessas comunidades. Trata-se de uma inversão do esforço colectivo, aplicado na arquitectura, em relação ao período precedente, pois durante o Bronze Pleno os elementos marcantes no território são constituídos pelas necrópoles de cistas, por vezes monumentalizadas através de recintos delimitadores e tumulus destacados.


Estes aspectos relacionam-se com a necessidade das comunidades garantirem a estabilidade e reclamarem a posse do território, realizando para o efeito grandes construções colectivas, que se traduzem no Bronze Final pela edificação de complexos sistemas defensivos (fossos, muralhas, bastiões, etc.), prefigurando aquilo que alguns autores designam como verdadeiros rostos pétreos das comunidades.


No Sudoeste peninsular são conhecidos diversos povoados fortificados, ainda que poucos tenham sido objecto de programas de investigação continuados, causando um deficit no conhecimento das suas dinâmicas e evolução. De facto, a abordagem centra-se muitas vezes no elemento mais visível destes povoados, como as muralhas e reforços defensivos, havendo escassas aportações sobre as suas vastas áreas interiores e sobre a sua relação com o povoamento envolvente.


Alguns dos casos abordados nesta apresentação (Outeiro do Circo, Passo Alto, Castro dos Ratinhos, Corôa do Frade e Castillo de Alange), revelam níveis de investigação muito distintos, mas permitem-nos traçar um panorama onde se pretende analisar algumas das soluções adoptadas, reveladoras do conhecimento técnico e do pragmatismo destas populações. Noutra esfera de análise, pretender-se-á compreender a emergência destes povoados através da sua inserção no espaço geográfico relacionando-os com uma vasto conjunto de evidências que nos últimos anos têm surgido, em particular no Baixo Alentejo, como os povoados abertos de planície.


Dentro deste conjunto, o Outeiro do Circo surge como um sítio com características muito distintas, desde logo pela sua inusual dimensão (cerca de 17 ha), mas também por alguns aspectos práticos utilizados na construção das suas muralhas, que revelam uma grande capacidade de adaptação aos condicionalismos locais, articulando arquitecturas de pedra e de terra numa simbiose feliz.


A região onde se situa é desde há muito reconhecida pela existência de diversos elementos que contribuíram para a definição da chamada “Cultura do Bronze do Sudoeste”, como as necrópoles de cistas do Bronze Pleno das regiões de Santa Vitória, Ervidel ou Odivelas. Nesta região assiste-se actualmente ao aparecimento de um significativo conjunto de novos sítios, sobretudo povoados abertos de planície, que permitem a criação de um cenário evolutivo ao longo de toda a Idade do Bronze revelador das estratégias de povoamento.


A relação cronológica e espacial entre o Outeiro do Circo e estes sítios será um objectivo a seguir na investigação futura da região de modo a completar o quadro da reconstituição de um território profundamente alterado pela presença humana, constituindo-se como uma autêntica paisagem cultural.


Bibliografia básica:

Berrocal-Rangel, L. e Silva, A. C., (2007), O Castro dos Ratinhos (Moura, Portugal), Um complexo defensivo no Bronze Final do Sudoeste Peninsular, in Berrocal-Rangel, L. e Moret, P. (eds), Paisajes Fortificados de la Edad de Hierro. Las murallas protohistóricas de la Meseta y la vertiente atlántica en su contexto europeo, Real Academia de la Casa de Velázquez, Madrid: 169-190.


Parreira, R., (1977), O povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo (Beringel/Beja), in Arquivo de Beja, vols. 28-32, Beja: 31-45.


Parreira, R. (1998), As arquitecturas como factor de construção da paisagem do Alentejo Interior, in Existe uma Idade do Bronze Atlântico, Trabalhos de Arqueologia, 10, Instituto Português de Arqueologia, Lisboa: 267-273.


Serra, M., Porfírio, E. e Ortiz, R., (2008) O Bronze Final no Sul de Portugal – Um ponto de partida para o estudo do povoado do Outeiro do Circo, in Actas do 3º Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, Aljustrel, 26 a 28 de Outubro de 2006, Vipasca, 2, 2ª série, Aljustrel: 163-170.


Serra, M. e Porfírio, E. (no prelo), O povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Mombeja, Beja). Balanço de 2 anos de investigação, IIº Encontro de Jovens Investigadores, Universidade do Porto, CEAUCP/CAM, 9, 10 de Abril de 2010.


Soares, A. M. (2003), Passo Alto: uma fortificação única do Bronze Final do Sudoeste, in Revista Portuguesa de Arqueologia, Lisboa, vol. 6.2: 293-312.

Localização dos povoados mencionados na comunicação

Fotointerpretação do Outeiro do Circo


Vista geral do sistema defensivo


Muro de contenção inferior

Muro superior