O Projeto Outeiro do Circo marcou presença na 6ª edição das Jornadas de Pré e Proto-história da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra dedicadas ao tema "Territórios e Materialidade - Revelações e desafios na construção do conhecimento das sociedades pré e proto-históricas".
As jornadas, que iniciaram com uma conferência a cargo de Ana Arruda sobre a Idade do Ferro no Sul de Portugal, foram compostas por diversas mesas redondas que permitiram abordar temáticas muito distintas, contando ainda com sessões sobre arqueologia experimental e uma sessão de posters.
O Projeto Outeiro do Circo participou na mesa redonda dedicada aos "Territórios e Paisagem: formas de perceção e construção", através de uma intervenção de Eduardo Porfírio sobre a estrutura de povoamento da Idade do Bronze na Margem Esquerda do Guadiana e na sessão sobre "A (in)transmissibilidade do conhecimento a nível social", com uma apresentação de Miguel Serra intitulada "Arqueologia Comunitária como forma de divulgação em meio rural".
A
Arqueologia Comunitária como forma de divulgação em meio rural
Miguel Serra
Câmara Municipal de Serpa; Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património
Resumo
Em termos muito sucintos podemos definir a Arqueologia
Comunitária como uma prática de integração, de envolvimento e de partilha. Esta
forma de atuação procura conectar uma comunidade, que se centra num território
concreto, com o património aí existente, neste caso o arqueológico, de modo a
envolvê-la em todos os processos, desde a investigação, à salvaguarda ou à
valorização e divulgação, criando uma nova consciência sobre a importância e a
relação entre a comunidade e o seu património.
No caso concreto em análise focamos o nosso olhar no meio
rural, tradicionalmente mais afastado das estratégias e processos de decisão,
bem como dos investimentos e recursos, quer humanos, quer económicos, para
ações de desenvolvimento.
Nos territórios rurais confrontamo-nos com dificuldades como
o despovoamento, o envelhecimento e a dispersão populacional, a escassez de
oportunidades, entre outros, que, regra geral, se traduzem num certo sentimento
de abandono e de desilusão.
A partir do exemplo do Projeto Arqueológico Outeiro do Circo
(Beja), pretendemos mostrar o programa de envolvimento comunitário aplicado a
uma comunidade concreta, a aldeia de Mombeja, a partir de um projeto de
investigação dedicado ao povoado fortificado da Idade do Bronze do Outeiro do
Circo. Este sítio arqueológico dista cerca de 3 km da aldeia de Mombeja e era
em 2008, data de início do projeto de investigação, praticamente desconhecido
da comunidade local, apesar da sua reconhecida importância no meio científico.
A ligação entre a comunidade e o sítio arqueológico foi
trabalhada como um processo contínuo, assente numa abertura pública de todos os
momentos e aspetos do projeto arqueológico, como forma de vencer alguma
eventual desconfiança inicial, bem como de evitar o aparecimento de discursos ou
expetativas desadequadas dos objetivos do projeto. A possibilidade de visitar e
participar na escavação arqueológica, face mais visível do projeto, criou uma
relação empática com a comunidade, traduzida na participação regular em muitas
outras atividades de divulgação especialmente concebidas para a(s)
comunidade(s) local(is).
Desta forma procurámos associar o sítio arqueológico a um território e a uma comunidade, criando ao longo dos anos um vínculo que hoje nos permite afirmar, com toda a certeza, que o Outeiro do Circo passou a integrar a memória identitária dos habitantes de Mombeja, que assim se tornam a linha da frente na sua divulgação, proteção e valorização, tornando esta estratégia de atuação numa forma de empoderamento.
Palavras-chave:
Idade do Bronze, comunidades, meio rural, divulgação,
empoderamento
"Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?" Alto de Brinches 3 (Serpa) e a estrutura de povoamento da Idade do Bronze na Margem Esquerda do Guadiana.
Eduardo Porfírio
Câmara Municipal de Sintra; Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património
Resumo
A estrutura do povoamento da Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana define-se por um grande polimorfismo, bem evidente ao nível das implantações topográficas dos sítios escolhidos pelas comunidades humanas deste período. No território do concelho de Serpa, que utilizamos como referencial geográfico para este trabalho, a variabilidade existente ao nível do povoamento relaciona-se com as características específicas dos recursos naturais existentes a nível local. Assim e para além do factor de atracção desempenhado pelo rio Guadiana e respectiva rede hidrográfica subsidiária sobre o povoamento, também as características da geologia, da orografia, da pedologia e a existência de recursos mineralógicos influenciaram o modo como as sociedades da Idade do Bronze se fixaram nesta região moldando a paisagem existente (Vilaça, 1997; Soares, 2005 e Baptista, 2013).
Pode subdividir-se o concelho de Serpa em duas grandes sub-regiões cuja paisagem apresenta características díspares entre si. Na região Norte encontramos um relevo constituído por colinas suaves e onduladas, pouco expressivo altimetricamente, o qual recebe tradicionalmente a designação de Campo de Serpa dada as potencialidades agrícolas dos seus solos argilosos. A sul, a orografia é dominada pelas serranias de xisto com valores altimétricos mais elevados, cujos solos, pouco espessos e de fraco potencial agrícola favorecem a criação de gado. No entanto, é nesta região que se concentram os principais recursos minerais, nomeadamente no que ao cobre diz respeito.
Palavras-chave: Idade do Bronze, povoamento, Margem Esquerda do Guadiana, polimorfismo.