sábado, 11 de dezembro de 2021

VI Jornadas de Pré e Proto-história da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - Balanço

O Projeto Outeiro do Circo marcou presença na 6ª edição das Jornadas de Pré e Proto-história da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra dedicadas ao tema "Territórios e Materialidade - Revelações e desafios na construção do conhecimento das sociedades pré e proto-históricas". 

As jornadas, que iniciaram com uma conferência a cargo de Ana Arruda sobre a Idade do Ferro no Sul de Portugal,  foram compostas por diversas mesas redondas que permitiram abordar temáticas muito distintas, contando ainda com sessões sobre arqueologia experimental e uma sessão de posters.

O Projeto Outeiro do Circo participou na mesa redonda dedicada aos "Territórios e Paisagem: formas de perceção e construção", através de uma intervenção de Eduardo Porfírio sobre a estrutura de povoamento da Idade do Bronze na Margem Esquerda do Guadiana e na sessão sobre "A (in)transmissibilidade do conhecimento a nível social", com uma apresentação de Miguel Serra intitulada "Arqueologia Comunitária como forma de divulgação em meio rural".

Apresentação de Eduardo Porfírio 

Mesa redonda: Territórios e Paisagem: formas de perceção e construção

Mesa redonda: A (in)transmissibilidade do conhecimento a nível social

Resumos das apresentações:

A Arqueologia Comunitária como forma de divulgação em meio rural

Miguel Serra

Câmara Municipal de Serpa; Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património

Resumo

Em termos muito sucintos podemos definir a Arqueologia Comunitária como uma prática de integração, de envolvimento e de partilha. Esta forma de atuação procura conectar uma comunidade, que se centra num território concreto, com o património aí existente, neste caso o arqueológico, de modo a envolvê-la em todos os processos, desde a investigação, à salvaguarda ou à valorização e divulgação, criando uma nova consciência sobre a importância e a relação entre a comunidade e o seu património.

No caso concreto em análise focamos o nosso olhar no meio rural, tradicionalmente mais afastado das estratégias e processos de decisão, bem como dos investimentos e recursos, quer humanos, quer económicos, para ações de desenvolvimento. 

Nos territórios rurais confrontamo-nos com dificuldades como o despovoamento, o envelhecimento e a dispersão populacional, a escassez de oportunidades, entre outros, que, regra geral, se traduzem num certo sentimento de abandono e de desilusão.

A partir do exemplo do Projeto Arqueológico Outeiro do Circo (Beja), pretendemos mostrar o programa de envolvimento comunitário aplicado a uma comunidade concreta, a aldeia de Mombeja, a partir de um projeto de investigação dedicado ao povoado fortificado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo. Este sítio arqueológico dista cerca de 3 km da aldeia de Mombeja e era em 2008, data de início do projeto de investigação, praticamente desconhecido da comunidade local, apesar da sua reconhecida importância no meio científico.

A ligação entre a comunidade e o sítio arqueológico foi trabalhada como um processo contínuo, assente numa abertura pública de todos os momentos e aspetos do projeto arqueológico, como forma de vencer alguma eventual desconfiança inicial, bem como de evitar o aparecimento de discursos ou expetativas desadequadas dos objetivos do projeto. A possibilidade de visitar e participar na escavação arqueológica, face mais visível do projeto, criou uma relação empática com a comunidade, traduzida na participação regular em muitas outras atividades de divulgação especialmente concebidas para a(s) comunidade(s) local(is).

Desta forma procurámos associar o sítio arqueológico a um território e a uma comunidade, criando ao longo dos anos um vínculo que hoje nos permite afirmar, com toda a certeza, que o Outeiro do Circo passou a integrar a memória identitária dos habitantes de Mombeja, que assim se tornam a linha da frente na sua divulgação, proteção e valorização, tornando esta estratégia de atuação numa forma de empoderamento.

Palavras-chave: Idade do Bronze, comunidades, meio rural, divulgação, empoderamento



"Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?" Alto de Brinches 3 (Serpa) e a estrutura de povoamento da Idade do Bronze na Margem Esquerda do Guadiana.

Eduardo Porfírio

Câmara Municipal de Sintra; Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património

Resumo

A estrutura do povoamento da Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana define-se por um grande polimorfismo, bem evidente ao nível das implantações topográficas dos sítios escolhidos pelas comunidades humanas deste período. No território do concelho de Serpa, que utilizamos como referencial geográfico para este trabalho, a variabilidade existente ao nível do povoamento relaciona-se com as características específicas dos recursos naturais existentes a nível local. Assim e para além do factor de atracção desempenhado pelo rio Guadiana e respectiva rede hidrográfica subsidiária sobre o povoamento, também as características da geologia, da orografia, da pedologia e a existência de recursos mineralógicos influenciaram o modo como as sociedades da Idade do Bronze se fixaram nesta região moldando a paisagem existente (Vilaça, 1997; Soares, 2005 e Baptista, 2013).

Pode subdividir-se o concelho de Serpa em duas grandes sub-regiões cuja paisagem apresenta características díspares entre si. Na região Norte encontramos um relevo constituído por colinas suaves e onduladas, pouco expressivo altimetricamente, o qual recebe tradicionalmente a designação de Campo de Serpa dada as potencialidades agrícolas dos seus solos argilosos. A sul, a orografia é dominada pelas serranias de xisto com valores altimétricos mais elevados, cujos solos, pouco espessos e de fraco potencial agrícola favorecem a criação de gado. No entanto, é nesta região que se concentram os principais recursos minerais, nomeadamente no que ao cobre diz respeito.

Palavras-chave: Idade do Bronze, povoamento, Margem Esquerda do Guadiana, polimorfismo.

sábado, 4 de dezembro de 2021

A ocupação do território 19

Pedreira de Trigaches 3 (União de Freguesias de Trigaches e São Brissos) - povoado aberto do Bronze Pleno

Este sítio localiza-se a apenas 200 metros de Pedreira de Trigaches 2, e encontra-se implantado numa zona de planície rodeada por cursos de água secundários. 

No decurso de trabalhos de minimização sobre o património cultural do Bloco de Rega do Pisão, a cargo da empresa Arqueologia & Património, foram escavadas cinco estruturas negativas que genericamente podem ser enquadradas no Bronze Pleno apesar da ausência de datações radiométricas. Tal como em Pedreira de Trigaches 2, também aqui se registou a presença de uma fossa contendo sementes de cereais (Antunes et al. 2012: 286). Dada a curta distância para Pedreira de Trigaches 2 poderá tratar-se do mesmo povoado, demonstrando a extensão que estes sítios abertos de planície podem atingir.

Localização do sítio Pedreira de Trigaches 3 na CMP 509
Estrutura onde foram recolhidas sementes de cereais (Foto: Arqueologia & Património, Lda.)

Bibliografia:

ANTUNES, A., DEUS, M., SOARES, A. M., SANTOS, F., ARÊZ, L., DEWULF, J., BAPTISTA, L. e OLIVEIRA, L. (2012) – Povoados abertos do Bronze Final no Médio Guadiana. In JIMÉNEZ ÁVILA, J. (ed) – Sidereum Ana II. EL río Guadiana en el Bronce Final (Anejos de AEspA LXII). Mérida, p. 277-308.

SERRA, M., e PORFÍRIO, E. (2017), Estratégias de povoamento entre o Bronze Pleno e Final na região de Beja. Scientia Antiquitatis, Vol. 1, N.º 1. Actas do III Congresso Internacional de Arqueologia de Transição - Estratégias de Povoamento: da Pré-história à Proto-história, pp. 209.232. 

domingo, 21 de novembro de 2021

Memórias fotográficas 2019-2021

Terminamos o ciclo de pequenas memórias fotográficas de cada um dos três projetos de investigação sobre o Outeiro do Circo, com as fotos respeitantes aos primeiros e últimos momentos das campanhas de trabalhos decorridas entre 2019 e 2021. 

2019
A - Trabalhos de desmatação. B - Selagem
2020
A - Trabalhos de desmatação. B - Selagem
2021
A - Limpeza da sondagem. B - Selagem 

sábado, 6 de novembro de 2021

Projeto Outeiro do Circo presente nas VI Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

As VI Jornadas de Pré e Proto-História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra realizam-se no dia 10 de Dezembro no Teatro Paulo Quintela e contam com a presença do Projeto Outeiro do Circo.

O tema das jornadas será "Territórios e Materialidades - Revelações e desafios na construção do conhecimento das sociedades pré e proto-históricas", e o programa contempla uma conferência de abertura, uma apresentação sobre arqueologia experimental e quatro mesas redondas dinamizadas por diversos convidados. 

A participação do Projeto Outeiro do Circo encontra-se a cargo dos coordenadores científicos, Eduardo Porfírio, que integrará o painel da mesa redonda dedicada a "Territórios e Paisagem: formas de perceção e construção", e Miguel Serra, que intervirá na mesa redonda sobre "A (in)transmissibilidade do conhecimento a nível social". 

O Projeto Outeiro do Circo tem uma forte ligação a estas jornadas, nas quais participou desde o seu início a 22 de Maio de 2009, com uma comunicação sobre os objetivos do primeiro projeto de investigação sobre o Outeiro do Circo, iniciado pouco antes em Agosto de 2008. A 15 de Abril de 2011 o Projeto Outeiro do Circo seria mesmo coorganizador das IIas Jornadas dedicadas à "Idade do Bronze do Sudoeste: novas perspetivas sobre uma velha problemática", e que seriam as primeiras a ser editadas (publicação disponível AQUI). Por fim, assinalou-se nova presença nas últimas jornadas realizadas em 14 de Maio de 2019, a serem dedicadas a aspetos metodológicos relacionados com o estudo da pré e da proto-história e cabendo ao Projeto Outeiro do Circo uma apresentação sobre o estudo da muralha do Bronze Final do Outeiro do Circo. 

Mais informações em: https://www.facebook.com/VI-Jornadas-de-Pr%C3%A9-e-Proto-Hist%C3%B3ria-104350688710112


domingo, 24 de outubro de 2021

Outeiro do Circo no XI Encontro de Arqueologia do Sudoeste

Decorreu entre os dias 21 e 23 de Outubro o XI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, em Loulé,  que contou com a presença do Projeto Outeiro do Circo.

Eduardo Porfírio, co-responsável do projeto, apresentou uma comunicação de síntese sobre os trabalhos desenvolvidos de 2019 a 2021. 

O principal destaque foi para a identificação de um troço de muralha, semelhante ao que havia sido escavado em trabalhos anteriores, mas que apresentava um melhor grau de preservação. Esta muralha é constituída por um muro pétreo na parte mais elevada do talude, por uma rampa de barro cozido e por um muro de contenção no exterior. A principal diferença em relação a um outro troço escavado entre 2008 e 2013 residiu no muro superior, constituído por dois alinhamentos pétreos claramente demarcados e por um enchimento interior com pedras de menor dimensão que formavam um alinhamento central, ladeado por terras acinzentadas que embalavam muito material carbonizado, sobretudo cerâmicas e faunas. Este muro também apresentava uma dimensão consideravelmente superior (3 metros de largura) em relação ao troço já conhecido (1 metro de largura). 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Balanço do colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021"

O colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021", realizado no passado dia 16 de Outubro no Museu Regional de Beja, teve como objetivo realizar o balanço de 13 anos de trabalho, marcar simbolicamente o fim deste ciclo de investigação, discutir o futuro e sobretudo ser uma celebração que pretendeu juntar grande parte dos investigadores que ao longo dos anos têm dado os seus contributos a este projeto e muitas outras pessoas que têm apoiado e acompanhado o percurso efetuado. 

Esta jornada dividiu-se em dois momentos distintos, iniciando-se com a sessão de abertura que contou com intervenções de Miguel Serra, em nome da equipa do Projeto Outeiro do Circo, de João Nuno Marques, da empresa Palimpsesto, parceira do projeto e organizadora do evento, e de Deolinda Tavares, em representação da Diretora Regional de Cultura do Alentejo que não pôde estar presente devido a imprevistos de última hora, mas não deixando de assinalar o compromisso da entidade que dirige para com a coorganização deste encontro. Também não puderam estar presentes por diferentes impedimentos os representantes da Câmara Municipal de Beja e da União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja. 

Sessão de abertura

A parte da manhã foi ocupada com duas conferências de caracter mais generalista, a primeira a cargo de Miguel Serra sobre o historial do projeto, os seus principais resultados e o balanço científico geral, e a segunda, apresentada por Eduardo Porfírio, cocoordenador científico do projeto, que destacou o percurso do programa de Educação Patrimonial e Arqueologia Comunitária que desde o início do projeto em 2008 sempre acompanhou a vertente de investigação. 

Comunicação de Miguel Serra

Comunicação de Eduardo Porfírio

O bloco da tarde foi dedicado a quatro áreas específicas que revelam as diferentes colaborações estabelecidas entre o Projeto Outeiro do Circo e uma série de investigadores de diferentes especialidades, que a título inteiramente gracioso e voluntário têm permitido aumentar o conhecimento sobre este povoado da Idade do Bronze Final.

A primeira intervenção da tarde, apresentada por Sofia Silva e Ana Osório, foi dedicada ao estudo das cerâmicas nas vertentes morfológica, técnica e experimental e que integrou dados das teses, respetivamente de mestrado e doutoramento, das duas autoras. 

Comunicação de Sofia Silva e Ana Osório

De seguida tomaram a palavra Eduardo Porfírio e Sofia Soares, numa comunicação em coautoria com Helena Reis, que não pôde estar presente, e que apresentaram o enquadramento geológico do território onde se insere o Outeiro do Circo, de forma a enquadrar a investigação realizada sobre a componente lítica do povoado.

Comunicação de Sofia Soares, Eduardo Porfírio e Helena Reis

A terceira intervenção da tarde foi da responsabilidade de Nelson J. Almeida, que apresentou os dados sobre a coleção faunística, com particular incidência para os estudos tafonómicos e a integração deste conjunto no quadro da pré-história recente e proto-história do Sul de Portugal.

Comunicação de Nelson J. Almeida

A última comunicação foi proferida por Pedro Valério, em coautoria com António Monge Soares, sendo subordinada à temática da metalurgia e que enquadrou os dados obtidos no Outeiro do Circo no panorama geral da metalurgia da Idade do Bronze no Alentejo Interior. 

Comunicação de Pedro Valério e António Monge Soares

Após um breve, mas incisivo, período de debate no final das comunicações, procedeu-se às conclusões do colóquio, tarefa assumida por Raquel Vilaça, que não se limitou a destacar os principais aspetos do projeto e do colóquio, mas que também colocou diversas questões científicas a merecerem resolução futura e que servem de mote para futuros projetos para o Outeiro do Circo.

Momento do debate com António Monge Soares

Conclusões do colóquio por Raquel Vilaça

Por fim, teve lugar a sessão de encerramento, com os agradecimentos a todos os intervenientes a ficar a cargo de Eduardo Porfírio, seguindo-se o anúncio de algumas propostas para o futuro imediato, que foram reveladas por Miguel Serra, e que consistem no compromisso de propor um projeto educativo baseado no estudo das coleções, na publicação de um trabalho monográfico sobre os 13 anos de investigação realizados no Outeiro do Circo e na apresentação de uma estratégia de investigação para um próximo ciclo, ações a concretizar em 2022. De seguida tomou a palavra Deolinda Tavares para deixar um último agradecimento a todos os presentes e as palavras finais de despedida. 

Não podemos deixar de aproveitar este balanço para reforçar todos os agradecimentos enunciados na sessão de abertura do colóquio, a todos os que vieram assistir a esta jornada, a todos os comunicantes e à relatora, bem como a todos os elementos da organização, secretariado e a toda a equipa do Museu Regional de Beja, bem como a todas as entidades envolvidas, a Palimpsesto, a Direção Regional de Cultura do Alentejo, O Legado da Terra, a Câmara Municipal de Beja, a União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja, Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências de Património, Uniarq - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, Rádio Voz da Planície e ao Curso Profissional Técnico Multimédia do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Beja. E também à equipa do Restaurante Pereira, à Celina da Piedade e à Ana Santos, e a todos os amigos e amigas que se juntaram a nós para este momento de celebração e de convívio fraterno. 

Até breve!

Almoço na Adega Típica 25 de Abril 

Fim de tarde n`A Pracinha 

Jantar de encerramento no Restaurante Pereira 

Momento de animação musical com Celina da Piedade e Ana Santos - Restaurante Pereira



Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular

Programa final do Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular (Loulé, 21 a 23 de Outubro de 2021).

Comunicação do Projeto Outeiro do Circo:

21 de Outubro

Miguel Serra, Eduardo Porfírio, Sofia Silva e Nelson J. Almeida - Projeto Outeiro do Circo (Beja, Portugal): breve balanço dos trabalhos de 2019 a 2021.

Programa completo AQUI.




segunda-feira, 11 de outubro de 2021

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Outeiro do Circo no Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular

O Projeto Outeiro do Circo irá mais uma vez marcar presença no Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, cuja 11ª edição irá decorrer em Loulé entre os dias 21 e 23 de Outubro.

A participação do Projeto Outeiro do Circo irá centrar-se numa comunicação sobre os resultados preliminares dos trabalhos desenvolvidos entre 2019 e 2021, da autoria de Miguel Serra, Eduardo Porfírio, Sofia Silva e Nelson J. Almeida. 

Aqui deixamos o resumo da comunicação e o link para a página do Encontro: XI EASP

Projeto Outeiro do Circo (Beja, Portugal): breve balanço dos trabalhos de 2019 a 2021

Resumo

No seguimento dos projetos de investigação realizados sobre o povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Beja, Portugal) nos períodos 2008-2013 e 2014-2017, que se centraram, respetivamente, no estudo do sistema defensivo e na caracterização da área interior do povoado, desenvolveu-se um novo projeto de investigação, decorrido entre 2017 e 2021, que incidiu na escavação em área de uma zona de muralha em conjunto com o espaço interior do povoado, do qual se apresentam os resultados preliminares.

Os trabalhos realizados tiveram como objetivo o alargamento de uma sondagem escavada em 2016-2017, para um total de 100 m², abarcando um prolongamento pelo talude da muralha, com a restante área a abranger o espaço interior do povoado.

Documentou-se um troço de muralha em bom estado de conservação e que apresenta algumas caraterísticas construtivas diferentes de um outro troço escavado a cerca de 20 metros para Sudoeste entre 2008 e 2013, mas mantendo outras caraterísticas semelhantes, como a presença de uma rampa em barro cozido entre a base da muralha pétrea e o extremo do talude. A área onde se desenvolve a linha de muralha permitiu ainda a recolha de um importante conjunto de materiais cerâmicos enquadráveis no Bronze Final, entre os quais se destacam as cerâmicas com decoração em “ornatos brunidos”, para além de uma assinalável quantidade de vestígios faunísticos e de elementos ligados à atividade agrícola (dormentes de mós e denticulados de foice), sendo o conjunto metálico apenas residual.

Destaca-se ainda a recolha de um grande conjunto cerâmico relacionado com ocupações posteriores, nomeadamente da Idade do Ferro, havendo ainda a registar a presença mais escassa de elementos atribuíveis à Época Romana. 


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

PROGRAMA - Colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021

O colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021" irá decorrer no Museu Regional de Beja a 16 de Outubro de 2021, com o objetivo de apresentar o balanço dos trabalhos de investigação e de divulgação sobre o povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo, desenvolvidos nos últimos 13 anos.

A participação é gratuita mas é necessária inscrição através do mail: miguel.antonio.serra@gmail.com. 

Os participantes terão direito a certificado de participação e pasta de documentação. 

Programa:

Colóquio

“Projeto Arqueológico Outeiro do Circo – 2008-2021”

Museu Regional de Beja

16 Outubro 2021

 Programa:

09:30 – 10:00 Abertura do secretariado. Entrega de documentação

10:00 – 10:45 Sessão de Abertura (Coordenadores do Projeto Outeiro do Circo, Palimpsesto, União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja, Câmara Municipal de Beja, Direção Regional de Cultura do Alentejo)

10:45 – 11:30 Projeto Arqueológico Outeiro do Circo – 13 anos: Miguel Serra (CM Serpa/CEAACP-Univ. Coimbra)

11:30 – 12:15 Arqueologia Comunitária e Educação Patrimonial no Projeto Outeiro do Circo: Eduardo Porfírio (CM Sintra/CEAACP-Univ. Coimbra)

12:15 – 12:30 Debate

12:30 – 14:30 Almoço

14.30 – 14.55: Cerâmicas do Outeiro do Circo – estudo morfológico, técnico e experimental: Ana Osório e Sofia Silva (Axis Mundi)

14:5515:20: Materiais líticos do Outeiro do Circo – da exploração ao objeto: Sofia Soares (LNEG), Eduardo Porfírio (CM Sintra/CEAACP) e Helena Reis (ICArEHB-Univ. Algarve)

15:2015:45: Faunas do Outeiro do Circo – a ementa dos campos e dos bosques: Nelson J. Almeida (UNIARQ-Univ. Lisboa/Cooperativa O Legado da Terra)

15:45 – 16:15: Pausa para café

16:1516:40: A metalurgia do Bronze Final no Alentejo Interior: António Monge Soares e Pedro Valério (Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares - C2TN, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa)

16:40 – 17.10: Debate

17:1017:30: Conclusões. Relatora: Raquel Vilaça (Univ. Coimbra, CEAACP)

17:30 – 17:45: Encerramento

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021

O colóquio "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo 2008-2021" irá ter lugar a 16 de Outubro de 2021 no Museu Regional de Beja.

Este colóquio pretende assinalar o fim do ciclo de investigação que decorreu entre 2008 e 2021 no povoado fortificado da Idade do Bronze Final do Outeiro do Circo, reunindo um conjunto de investigadores que ao longo de 13 anos tem dado o seu contributo, nas mais diversas áreas, para o estudo deste importante sítio arqueológico. Para além das apresentações referentes às diversas áreas de estudo, também haverá lugar ao balanço das ações de investigação e de divulgação.

Trata-se de uma organização do Projeto Outeiro do Circo conjuntamente com a Direção Regional de Cultura do Alentejo, a empresa Palimpsesto e a cooperativa O Legado da Terra, contando com o apoio da Câmara Municipal de Beja, da União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja, do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra, da UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e da Rádio Voz da Planície como Media Partner. 

Muito em breve será divulgado o programa definitivo do colóquio. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Ornatos brunidos

Fragmentos com decoração de "ornatos brunidos" da campanha arqueológica de 2021 do Projeto Outeiro do Circo.

Fotos de Dinis Cortes. 










quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Campanha arqueológica de 2021: balanço

A 3ª e última campanha do Projeto Arqueológico do Outeiro do Circo terminou no dia 27 de Agosto, colocando um ponto final nos trabalhos deste projeto iniciado em 2019. 

Foram 20 dias de trabalho, iniciados a 2 de Agosto, que revelaram algumas novidades, destacando-se a presença da muralha da Idade do Bronze e a recolha de diversos materiais associados a ocupações da Idade do Ferro, entre outras. 

A equipa contou com um total de 10 voluntários, de áreas de formação distintas, sob a direção de Sofia Silva, da Axis Mundi, Archaeology & Heritage, e coordenação de Miguel Serra, da Câmara Municipal de Serpa e Eduardo Porfírio, da Câmara Municipal de Sintra.

O principal destaque da campanha de 2021 vai para o alargamento da área de escavação sobre a muralha, permitindo a confirmação do bom estado de preservação que já havia sido observado em 2020. Estes trabalhos colocaram à vista um troço de cerca de 8 metros de largura da muralha, na sua parte superior, onde se encontra devidamente preservado um embasamento de pedra bem estruturado, delimitado por dois alinhamentos de pedra claramente diferenciados, e o espaço interior colmatado com um enchimento de pedra mais irregular e que se encontra separado dos alinhamentos por um sedimento esbranquiçado formado por cinzas e terras de tonalidade branca pouco compactas. Este nível de cinzas cobre ainda o interior da muralha e permitiu a recolha de uma vasta quantidade de cerâmicas do Bronze Final, entre as quais se encontram vários fragmentos com decorações em “ornatos brunidos”, para além de uma importante coleção de fauna, observando-se a presença regular de ossos carbonizados.



Os restantes elementos da muralha confirmam o tipo de estrutura anteriormente identificado na sondagem 1 (trabalhos de 2008 a 2013), onde se assinala uma rampa de barro cozido que preenche a zona mais inclinada no talude entre o embasamento pétreo acima descrito e um largo muro de contenção exterior.

A principal diferença entre o tipo de construção identificado neste troço, em relação ao outro já identificado numa área que dista cerca de 20 metros para Sudoeste, centra-se na estrutura do embasamento pétreo do muro superior que aqui apresenta maior largura e uma construção mais cuidada e regular. Se na sondagem 1 o muro superior tinha cerca de 1 metro de largura, sendo constituído por dois alinhamentos pétreos algo irregulares, preenchidos no interior por cascalho e terras compactadas, no caso agora detetado, o muro superior apresenta 2,5 metros de largura, com os alinhamentos claramente marcados com pedras em “cutelo” e reforçadas por pequenos calços na base, e um robusto enchimento interior constituído por pedras do mesmo calibre das utilizadas nos alinhamentos, onde se evidenciam muitos fragmentos de dormentes de mós aí reutilizados. Também os sedimentos que cobrem ambos os troços são bastante distintos, sendo que na área agora escavada identifica-se um claro nível de terras esbranquiçadas com muitas cinzas e que reportam a utilização do fogo nesta zona, sem que se compreenda claramente a razão.

 
2012
                                                              
2021

Na zona mais interior da sondagem identificou-se a presença de níveis de ocupação da Idade do Ferro, onde surgem cerâmicas com caraterísticas distintas do reportório habitual da Idade do Bronze, com destaque para um grande recipiente fraturado in situ, e que ainda se encontra a ser restaurado. Apesar do estudo de materiais ainda estar em curso, os materiais recolhidos ao longo de uma camada de terras escuras que parece formar uma vala paralela à muralha, parecem integrar-se numa fase avançada da Idade do Ferro, hipótese que estará sujeita a confirmação posterior.

Nesta área confirmou-se ainda a continuidade do alinhamento de pedras, de forma irregular, que de desenvolve paralelo à muralha, a cerca de 1,5 a 2 metros para o interior do povoado, e um nível de barro cozido que forma uma base plana, com presença de muitas pedras de pequena dimensão no seu interior, e que encosta no alinhamento pétreo. Até ao final da campanha não foi possível concluir a escavação integral deste nível de barro cozido, de onde se recolheram vários fragmentos cerâmicos atribuíveis ao Bronze Final e algumas amostras para eventuais trabalhos analíticos posteriores que possam vir a lançar alguma luz sobre a sua interpretação.


Entre os restantes materiais identificados nesta campanha, para além dos já mencionados conjuntos cerâmicos e faunísticos, recolheram-se alguns fragmentos disformes e pequenas hastes metálicas em liga de cobre, um denticulado de foice, a juntar às 3 dezenas recuperadas em anos anteriores, e vários fragmentos de dormentes de mós em rocha local (gabros), que atestam claramente a importância da atividade agrícola para as comunidades do Bronze Final que habitaram o Outeiro do Circo.

A campanha de 2021 também permitiu algum regresso à normalidade no que diz respeito às visitas às escavações arqueológicas, registando-se 74 visitantes, alguns deles tendo aproveitado para participar nos trabalhos durante algumas horas. Recordamos que as restrições impostas pelo combate à pandemia COVID 19 limitaram em muito a programação de visitas no ano anterior.



No âmbito das ações de divulgação há ainda que mencionar a participação de dois elementos da equipa (Sofia Silva e Eduardo Porfírio) na iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Beja, “Pelas Aldeias de Beja”, que incidiu num passeio comentado pela aldeia de Mombeja, com diversos temas de interesse, entre os quais a arqueologia e os trabalhos desenvolvidos no Outeiro do Circo.


O plano de formação aos voluntários integrou a realização de diversas ações, desde logo uma visita ao Museu Regional de Beja, onde houve a oportunidade de acompanhar os trabalhos da arqueóloga Marta Díaz-Guardamino, professora da Universidade de Durham (Reino Unido), que se encontrava em Beja a realizar levantamentos de alta resolução para a criação de modelos digitais sobre as estelas da Idade do Bronze que integram a coleção do museu no âmbito do projeto RAW – Rock Art, Atlantic Europe, Words and Warriors.



Foram ainda realizadas visitas a diversos sítios arqueológicos e museus da região, como as villae romanas de Pisões (Beja), e de São Cucufate (Vidigueira), Museu Municipal de Arqueologia e Castelo de Serpa e Núcleo Museológico da Rua do Sembrano (Beja).

O plano de formação incluiu ainda 3 sessões realizadas em Mombeja, no café “Esquina do Mousinho”, sob o já habitual conceito de Barferências, onde temas de investigação são apresentados e discutidos em ambiente informal. A primeira barferência ficou a cargo de Nelson J. Almeida, investigador da UNIARQ e centrou-se numa apresentação geral sobre zooarqueologia e numa breve síntese comparativa de alguns casos de estudo entre o Calcolítico e a Idade do Bronze no Sul de Portugal. A barferência seguinte foi da responsabilidade de Luís Laceiras, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim, que apresentou o interessante projeto de divulgação arqueológica e patrimonial desenvolvido pela seção cultural desta instituição e que se trata de um caso de caraterísticas únicas no país. A última barferência foi dinamizada por João Barreira, arqueólogo do Museu Regional de Beja, sobre fotogrametria aplicada ao património, recorrendo ao exemplo dos trabalhos realizados no Outeiro do Circo através do apoio prestado pela Direção Regional de Cultura do Alentejo nos levantamentos fotogramétricos das estruturas arqueológicas descobertas este ano.



Concluímos este balanço da campanha de 2021 com o agradecimento aos voluntários que integraram a equipa: Borja Seoane, Elena Duque, Tiago Terra, Nelson J. Almeida, Denise Lima, Laura Perez, Bruno Reginaldo, Samuel Paulo, Eva Guedes e Ricardo Guedes; aos “Barferencistas” Nelson J. Almeida, Luís Laceiras e João Barreira, e à Marta Díaz-Guardamino pela disponibilidade para nos apresentar os trabalhos que se encontrava a realizar em Beja.

Um agradecimento às entidades que deram apoio à campanha de 2021 do Projeto Outeiro do Circo, nomeadamente Câmara Municipal de Beja, Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda., União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja, Grupo Desportivo e Cultural de Mombeja e Direção Regional de Cultura do Alentejo.

Por último deixamos o nosso grande obrigado aos amigos e amigas de Mombeja que a nós se juntaram em diversos momentos de convívio fraterno e em particular à equipa do café “Esquina do Mousinho” pelo habitual acolhimento irrepreensível e ao José Luís Mousinho, ao Jorge Serrano e à Maria José Ruas pelo caloroso momento de despedida com que nos brindaram no final da campanha e a todos os que aí estiveram presentes.

O Projeto Outeiro do Circo de 2019-2021 chega ao fim, mas segue-se um ano de 2022 dedicado ao estudo e publicação dos resultados obtidos, e algumas surpresas que contamos anunciar ao longo do próximo ano. Mas ainda em 2021 haverá lugar a mais iniciativas, informando-se desde já sobre a realização de um colóquio dedicado à investigação conduzida no Outeiro do Circo nos últimos anos e que terá lugar em Beja a 16 de Outubro e cujo programa será brevemente divulgado.