Ao longo do mês de Agosto decorreram filmagens para um documentário sobre o Outeiro do Circo. Este projecto, abraçado pela realizadora colombiana Andrea Mendoza, decorreu em simultâneo com as escavações arqueológicas da campanha de 2017, mas foi adquirindo uma vida própria que o transformou em muito mais do que um documentário sobre arqueologia ou sobre o sítio que lhe serviu de inspiração.
O guião, discutido e trabalhado à distância nos meses prévios, foi ganhando novos contributos a cada nova realidade contactada e levou a equipa a procurar outros lugares onde filmar a estória que se pretende contar.
Esta será a estória de um vento, inicialmente anónimo, que todos os dias visita o Outeiro do Circo e varre as suas encostas, não ultrapassando a sua espinha dorsal para continuar o seu caminho pela vertente oposta, fenómeno registado pela oralidade sábia de gente antiga que baptizou de Olival de Corta Vento uns terrenos ali próximos já em plena planície.
Foi a busca deste vento, do seu percurso e da sua ancestralidade que conduziu o olhar e a câmara da Andrea levando-a a percorrer diversas paragens, desde a Serra da Arrábida, à Mina de São Domingos, passando pelas margens do Guadiana, para além de muitos espaços em Beja ou Mombeja e nos campos à sua volta.
De muito mais fala este documentário, que através da visão artística da Andrea mostra as mãos que trabalham o barro e o pão, as vozes que se elevam desde a planície, de como se contam histórias e muito mais que por agora não queremos revelar, deixando essa oportunidade para o momento da sua apresentação pública.
Queremos no entanto deixar aqui o profundo agradecimento a todos os que contribuíram para este imenso trabalho, quer como participantes activos quer como colaboradores na sombra, e cujos nomes serão anunciados na totalidade em momento mais oportuno.
Resta dizer que durante o tempo de estadia da autora criou-se a oportunidade de mostrar outros seus trabalhos graças à colaboração com a Câmara Municipal de Beja através do Centro UNESCO, local onde foram exibidos dois outros documentários, Alto Contrasto e Dandelion, que juntaram perto de 80 pessoas em duas noites quentes de Agosto.
Os trabalhos de pós-produção ainda nos irão consumir mais algum tempo mas esperamos divulgar em breve a data e o local da exibição do Xaroco, nome por fim dado ao vento que serve de título ao documentário.
Entrevista de Andrea Mendoza para o Diário do Alentejo
Andrea Mendoza, natural da Colômbia
Doutorou-se em Milão, em Design Industrial e Comunicação Multimédia, em 2008, onde apresentou uma dissertação sobre a criatividade primordial como elemento essencial da sustentabilidade. São diversificadas as áreas onde desenvolveu trabalhos: biologia marinha, fotografia, semiótica, psicanálise e ensino. Nesta última área, foi professora convidada na Universidade de Jiangjan, na China. Trabalhou como copywriter e editora na rádio e televisão. Visitou o mundo através de uma objetiva e neste momento está em Beja a filmar o seu mais recente documentário.
Visual raconteuse (contadora de histórias visuais), é assim que se define. A autora de documentários como “Berlim Ocupado”, de 2013, e de “AltoCostrasto”, filmado em 2015, no Nepal, e apresentado em Beja na passada semana, está a preparar um novo trabalho em Portugal. Mais precisamente sobre o Outeiro do Circo. Com formação na área do Design e Comunicação Multimédia, correspondente de diversas revistas de arte, tem vindo a trabalhar em locais tão distintos como Israel, Índia, Turquia, África do Sul ou Japão. Neste momento está em Beja a preparar “Xaroco”. A tradição oral e a arqueologia ligadas, sob um só fio condutor.
Está em Beja, a filmar um novo trabalho, em colaboração com o projeto Outeiro do Circo. Concretamente, o que se pretende com este novo documentário?
A intenção é ter uma proximidade com as características da arqueologia dos nossos dias e promover uma discussão à volta do seu instrumental, numa área meramente científica, mas também no seu âmbito social, valorizando o seu contexto geográfico e cultural, não desde o seu passado longínquo, mas salientando a sua validade atual e futura.
Como surgiu a ideia de vir a Portugal, em especial a Beja, para realizar mais um trabalho?
No ano passado vim visitar um grande amigo, Rui Gaibino, que, durante a rodagem do meu último documentário, “Dandelion”, me apresentou Florival Baioa, uma pessoa que passou a ser central neste filme. “Dandelion” é uma aproximação à “beleza” e fala de algum modo de arqueologia, de fragmentos de vida, de reconstrução. Assim, este ano, através destas pessoas, pude contatar Miguel Serra [arqueólogo responsável pelas escavações] e atraiu-me muito a paixão, a “beleza” e as vitórias que tem alcançado com o seu projeto Outeiro do Circo, sobre o qual decidimos rodar este documentário, chamado “Xaroco”. A minha primeira visita ao Alentejo foi em 2007.
Durante esta estadia sabemos que está a colaborar com entidades locais, nomeadamente com o grupo Cantadores do Desassossego. Qual a importância do cante neste trabalho?
A tradição oral, a sua importância na transmissão de saberes e a sua pertinência para “falar” do futuro, ouvindo as vozes do passado. Nisto, digamos que “o vento” (por isso o nome “Xaroco”) é uma peça importante. Assim que estas vozes cantam, a música fala, como se os “muros” tivessem voz. Além da estupenda presença dos Cantadores do Desassossego, também contamos com a participação dos Tango Paris, saindo um pouco daquilo que é convencional nos documentários científicos.
Natacha Lemos
Entrevista de Andrea Mendoza para o Diário do Alentejo
Doutorou-se em Milão, em Design Industrial e Comunicação Multimédia, em 2008, onde apresentou uma dissertação sobre a criatividade primordial como elemento essencial da sustentabilidade. São diversificadas as áreas onde desenvolveu trabalhos: biologia marinha, fotografia, semiótica, psicanálise e ensino. Nesta última área, foi professora convidada na Universidade de Jiangjan, na China. Trabalhou como copywriter e editora na rádio e televisão. Visitou o mundo através de uma objetiva e neste momento está em Beja a filmar o seu mais recente documentário.
Visual raconteuse (contadora de histórias visuais), é assim que se define. A autora de documentários como “Berlim Ocupado”, de 2013, e de “AltoCostrasto”, filmado em 2015, no Nepal, e apresentado em Beja na passada semana, está a preparar um novo trabalho em Portugal. Mais precisamente sobre o Outeiro do Circo. Com formação na área do Design e Comunicação Multimédia, correspondente de diversas revistas de arte, tem vindo a trabalhar em locais tão distintos como Israel, Índia, Turquia, África do Sul ou Japão. Neste momento está em Beja a preparar “Xaroco”. A tradição oral e a arqueologia ligadas, sob um só fio condutor.
Está em Beja, a filmar um novo trabalho, em colaboração com o projeto Outeiro do Circo. Concretamente, o que se pretende com este novo documentário?
A intenção é ter uma proximidade com as características da arqueologia dos nossos dias e promover uma discussão à volta do seu instrumental, numa área meramente científica, mas também no seu âmbito social, valorizando o seu contexto geográfico e cultural, não desde o seu passado longínquo, mas salientando a sua validade atual e futura.
Como surgiu a ideia de vir a Portugal, em especial a Beja, para realizar mais um trabalho?
No ano passado vim visitar um grande amigo, Rui Gaibino, que, durante a rodagem do meu último documentário, “Dandelion”, me apresentou Florival Baioa, uma pessoa que passou a ser central neste filme. “Dandelion” é uma aproximação à “beleza” e fala de algum modo de arqueologia, de fragmentos de vida, de reconstrução. Assim, este ano, através destas pessoas, pude contatar Miguel Serra [arqueólogo responsável pelas escavações] e atraiu-me muito a paixão, a “beleza” e as vitórias que tem alcançado com o seu projeto Outeiro do Circo, sobre o qual decidimos rodar este documentário, chamado “Xaroco”. A minha primeira visita ao Alentejo foi em 2007.
Durante esta estadia sabemos que está a colaborar com entidades locais, nomeadamente com o grupo Cantadores do Desassossego. Qual a importância do cante neste trabalho?
A tradição oral, a sua importância na transmissão de saberes e a sua pertinência para “falar” do futuro, ouvindo as vozes do passado. Nisto, digamos que “o vento” (por isso o nome “Xaroco”) é uma peça importante. Assim que estas vozes cantam, a música fala, como se os “muros” tivessem voz. Além da estupenda presença dos Cantadores do Desassossego, também contamos com a participação dos Tango Paris, saindo um pouco daquilo que é convencional nos documentários científicos.
Natacha Lemos
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