Durante a actividade “You make, I
break, together we glue” que decorreu em 2013 no Instituto de Arqueologia da
Universidade de Coimbra, para além das oficinas de modelação e cozedura de
recipientes foi testada a sua utilidade recorrendo a várias matérias orgânicas
para melhor impermeabilizar ou “selar” a porosidade das peças. Para isso, no
dia 30 de Maio de 2013, a equipa (Ana Osório, Diana Fernandes, Sofia Silva,
Eduardo Porfírio e Miguel Serra) reuniu alguns materiais e os recipientes das
sessões prévias (cozidos a baixas temperaturas que não ultrapassaram os 700ºC).
Mais uma vez a sessão começou com uma pequena apresentação, neste caso sobre
práticas etnográficas de “selagem” das peças para diminuir a porosidade e
recuperar fracturas.
De modo a compreender melhor os
possíveis factores em jogo nesta fase esta sessão foi planeada de acordo com
vários aspectos:
O primeiro passo consistiu em
encher os recipientes com uma quantidade fixa de água durante 2 minutos e
voltar a medir a água para observar quanta teria sido absorvida pela superfície
dos recipientes. A maioria dos recipientes absorveu cerca de ¼ do volume de
água, revelando grande presença de micro-fracturas pouco visíveis.
Em seguida construiu-se uma
pequena fogueira para colocar os recipientes e ferver água. Os recipientes
foram secos em volta da fogueira e aqueles que não apresentavam fracturas
evidentes foram parcialmente cheios com água e postos sobre brasas na fogueira,
controlando-se o tempo até à água ferver. Em muitos casos os recipientes
rapidamente ficavam com as superfícies húmidas ou encharcadas, o que impedia
que a água entrasse em ebulição e em alguns casos mais exagerados apagava as
brasas.
Para recuperar os recipientes os
participantes testaram materiais diferentes, presentes em diversa literatura
etnográfica, ou uma combinação de vários: farinha integral; farelo; gordura
animal (banha) e vegetal (azeite), sangue (no caso de galinha) e cera de
abelha. Testou-se ainda o efeito de alguns produtos na cor: foi o caso do limão
(ácido) e do vinho (por ser rico em taninos).Alguns materiais não melhoraram a
performance dos recipientes, mas outros mostraram resultados muito
interessantes e permitiram utilizar recipientes que até então não tinham
permitido ferver a água.
Destaca-se a utilidade da cera na
recuperação de recipientes com fissuras e que não tenham de ser usados sobre o
fogo. O azeite, a banha e a papa de farelo/farinha com água, também funcionaram
bastante bem em recipientes menos danificados mas cujas superfícies ficavam
húmidas devido à porosidade excessiva, o que dificultava a ebulição.
Por brincadeira e curiosidade, perto
do final da sessão preparou-se uma pequenina “refeição” composta por uma perna
de coelho, favas e alho, cozida com sal num dos recipientes, e uma mistura de
papas de farinha integral e água, cozida em outro. Quem provou diz que o coelho
estava bastante bom, mas as papas… bom, eram papas de farinha! Além disso, e
provavelmente devido à inspiração de dia 24, nesta actividade contámos outra
vez com um bolo de chocolate fantástico! Desta vez foi feito e oferecido por
uma das alunas participantes. Um bem-haja à Carla, e, evidentemente, à Eunice,
que deu o mote!
Por fim, tal como nas actividades
anteriores, os recipientes foram quebrados, para se poder observar os efeitos
das três sessões experimentais nas fracturas dos recipientes, sobretudo no que
dizia respeito às evidências de modelação e à cor.
A equipa do Projecto Outeiro do
Circo gostava de agradecer o empenho da Doutora Raquel Vilaça, a presença de
todos os participantes, e ainda o apoio das instituições envolvidas, como a AAA
(Associação Arqueológica do Algarve) que financiou a actividade, o Instituto de
Arqueologia, o CEMUC e o CEAUCP. Só com estes apoios foi possível realizar
estas actividades com tranquilidade. Agradece-se ainda à Misericórdia de
Coimbra a cedência do Campo de Jogos para fazer as fogueiras e ao Led&Mat
do IPN em Coimbra pelo empréstimo dos termopares utilizados na sessão 2.
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