quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Diário de Campanha (27 de Agosto)

Último dia da campanha de 2011. Em jeito de balanço podemos considerar como muito positiva a intervenção deste ano, quer pelo cumprimento integral dos objectivos propostos quer pelos resultados obtidos.
O maior esforço foi canalizado para a finalização da sondagem 1 que acabou por revelar algumas surpresas agradáveis.
Assim, conseguiu-se atingir o substrato geológico na zona baixa do talude, enquanto que na restante área da sondagem atingiu-se uma camada de argilas avermelhadas que deverá corresponder ao nível de solo existente quando as comunidades da Idade do Bronze se instalaram no local.
A primeira intervenção humana que se detecta no Outeiro do Circo corresponde à abertura de um fosso de dimensões razoáveis na zona baixa do talude e que poderá significar uma tentativa inicial de cercar este espaço e individualizá-lo.
Julgamos que este fosso terá sido desactivado devido a problemas relacionados com aluimentos de terras, como se parece observar na estratigrafia do seu enchimento, levando à sua colmatação e à aplicação de uma engenhosa solução construtiva que passou pela criação de uma rampa de barro cozido na encosta, de modo a consolidar as terras argilosas, por cima da qual se aplicou uma outra camada de terras de caliço que asseguram maior consistência a toda esta rampa. Para garantir mais solidez ainda se reforçou o enchimento do fosso com terra e pedras garantido a contenção necessário ao peso exercido pelas terras colocadas na encosta.
Sobre esta base sólida, que na zona mais plana do topo assume a forma de uma verdadeira plataforma de regularização, construiu-se muro de pequenas dimensões, mas de aspecto compacto e bem construído, composto por dois alinhamentos paralelos em pedra de média dimensão travada por cunhos verticais, com o espaço interior preenchido por pedra miúda e terra, configurando um possível alicerce para outra estrutura em terra que se lhe sobreporia.
Entre o paramento interno deste muro e o limite da sondagem para o interior do povoado detectaram-se vários níveis arqueológicos que possuíam enorme quantidade de cerâmica e de restos de fauna, podendo significar que estamos perante uma área de preparação de alimentos ou mesmo numa zona habitacional.
Com o fim dos trabalhos deste ano dá-se também por terminada aquela que considerámos como uma pequena fase de avaliação do Outeiro do Circo. O conjunto de dados alcançados permite-nos considerar nova etapa de projecto a partir do próximo ano com o intuito de intervir no interior do povoado e em outros sítios do território envolvente.
Por último queremos expressar o nosso sincero agradecimento a todos os voluntários que participaram nesta campanha, pelo seu emprenho, dedicação e demonstração de qualidade. Assim, agradecemos a presença de: Carlos Pires, Rita Leal, Daniela Ferreira, Filipe Vaz, Maria João Marques, Ana Jesus e André Gatões. Também queremos deixar o nosso obrigado aos diversos amigos que se juntaram à equipa quer num animado fim-de-semana de trabalho quer de forma pontual ao longo de todo o mês. O nosso obrigado a: José Inverno, Rafael Ortiz, Maria Luz Sánchez, Michelle Santos e André Gregório. Queremos também deixar um especial destaque nos agradecimentos a Ana Osório, quer apesar de se encontrar muito atarefada com a finalização da sua tese de doutoramento, ainda consegui reunir-se a nós para em mais um ano nos proporcionar, como sempre, novas formas de ver o sítio e trazer pontos de vista diferentes na discussão sobre a interpretação do Outeiro do Circo e ao André Santos que atravessou meio país para nos ajudar no levantamento de arte rupestre, pois sem ele não nos teria sido possível concretizar esse objectivo. Uma palavra especial também para a Sofia Silva e para a Diana Fernandes que em mais um ano mostraram a habitual entrega, assumindo muitas vezes tarefas e responsabilidades superiores ao que seria correcto exigir-lhes e talvez por isso e muito mais este projecto não seria o mesmo sem a sua presença.
Agora sim, para terminar, outro agradecimento sincero à população de Mombeja por mais um ano de caloroso acolhimento e boa disposição.















segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diário de Campanha (26 de Agosto)

Alguns atrasos provocados por uma manhã chuvosa impediram que este fosse o último dia da campanha de 2011. Aproveitou-se o facto para se avançar com o tratamento de materiais e organização do espólio recolhido.
Os trabalhos de registo foram retomados da parte da tarde, mas o atraso registado levará a que a conclusão dos trabalhos só ocorra no Sábado dia 27. Cabe-nos agradecer a disponibilidade e entrega da equipa de voluntários que prontamente revelaram a sua disponibilidade para permanecerem mais um dia.
Com a melhoria das condições climatéricas a meio da manhã, foi ainda possível realizar mais algumas visitas guiadas, que incluíram alguns colegas que se encontram a trabalhar em áreas próximas no âmbito de obras decorrentes do Projecto Alqueva, elementos da imprensa escrita local e dois membros da Associação Arqueológica do Algarve (AAA), a Ute e o Bill, a quem agradecemos o interesse demonstrado em efectivar uma colaboração mais próxima com a instituição a que pertencem, de modo a realizar futuras acções com a AAA, quer sejam conferências sobre o projecto ou visitas organizadas ao local. Aguardemos pelo futuro do projecto para poder corresponder a esta e outras solicitações.





Diário de Campanha (25 de Agosto)

Dia para terminar algumas pontas soltas na escavação antes de nos dedicarmos inteiramente aos registos gráficos, fotográficos e topográficos finais.
No topo da sondagem 1 deu-se por terminada a intervenção numa camada de terra argilosa que corresponde ao nível sobre o qual foi realizada a rampa de barro cozido que se detectou na zona de pendente mais inclinada, mas que não se prolongava para esta área.
Na parte baixa da mesma sondagem acabou-se a escavação do fosso após a remoção do nível de terras vermelhas, que apesar de aparentar ser de natureza geológica ainda forneceu alguns materiais cerâmicos. A secção do fosso revela uma estrutura com cerca de 3 m de largura máxima no topo por 2 m de profundidade com um perfil em U. Será praticamente impossível datar o momento de abertura deste fosso, mas esperemos que os escassos materiais e as recolhas de sedimento das diversas camadas de enchimento ajudem a datar o momento (ou momentos!) da sua desactivação e colmatação.
Há ainda que destacar a visita dos colegas da escavação do Monte da Chaminé em Ferreira do Alentejo que iniciaram mais uma campanha neste importante sítio de época romana. Apesar de não nos ter sido possível retribuir a gentileza da sua visita, resta-nos agradecer o seu interesse e as questões pertinentes levantadas sobre o nosso projecto. Desejamos-lhes uma boa campanha de escavações com muitas novidades.







domingo, 28 de agosto de 2011

Diário de Campanha (24 de Agosto)

Com os trabalhos a aproximarem-se do fim é altura de se proceder aos registos finais na área intervencionada, apesar de ainda existirem algumas pequenas zonas que continuam em fase de escavação e limpezas.
Mesmo nos últimos dias de trabalho de campo matem-se a regularidade das visitas ao Outeiro do Circo, demonstrando o interesse suscitado pelos trabalhos arqueológicos num público cada vez mais diversificado.







Diário de Campanha (23 de Agosto)

No topo da sondagem 1 já se encontra integralmente removida a plataforma constituída por caliços misturados com terras argilosas que serviu de base à edificação da estrutura designada como “muro superior”. Em seguida documentou-se o topo de um outro nível, que ainda revela materiais arqueológicos se bem que muito escassos, formado por terras bastante argilosas. Verificou-se que o nível de barro cozido não se prolongava para esta zona mais plana, concentrando-se apenas na parte mais pronunciada do talude.
No fosso continuam a surgir alguns materiais cerâmicos nos níveis de base, tendo sido escavada uma camada de terras vermelhas argilosas e muito plásticas que deverá corresponder ao primeiro enchimento.
Continuam a decorrer a bom ritmo as visitas ao Outeiro do Circo, sendo de destacar a presença de alguns colegas que se encontram na região a desenvolver trabalhos de arqueologia preventiva e cujos resultados contribuem de modo inegável para um melhor conhecimento deste vasto território durante a Pré-história recente.






Diário de Campanha (22 de Agosto)

Para além da continuação dos trabalhos no Outeiro do Circo, o dia de hoje foi também preenchido com uma visita à Olaria de António Mestre, situada em Beringel, com o intuito de conhecer melhor alguns aspectos desta actividade tradicional que poderá ajudar a compreender certas actividades mais antigas.
Esta pesquisa, desenvolvida pela nossa colaboradora Ana Osório no âmbito do seu doutoramento, tem sido direccionada sobretudo para a localização dos barreiros tradicionais e para o conhecimento dos critérios de selecção de determinados tipos de barro consoante o tipo de produção a que se destinam, bem como alguns aspectos técnicos do processo de fabrico.
De momento possuímos amostras de natureza arqueológica e etnográfica sobre solos, barro cozido e cerâmicas, concentrados num território envolvente à nossa área de projecto, que esperamos poderem contribuir com dados importantes para aumentar o nosso conhecimento sobre as comunidades que habitaram o Outeiro do Circo.
Não menos importante é a recolha de informações orais junto da comunidade local, que contínua a ter presença assídua nas visitas aos trabalhos arqueológicos, e que continuamente nos fornecem indicações sobre diversos aspectos da região onde trabalhamos.











quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Diário de Campanha (21 de Agosto)

Este Domingo não foi dia de descanso, já que se aproveitou o facto de não se trabalhar no Outeiro do Circo para ir fazer o reconhecimento de diversos poços antigos e zonas de captação de águas superficiais ao longo do pequeno vale que se estende entre Mombeja e Beringel, passando entre o Outeiro do Circo e os cabeços da Serpe e do Mira, prefigurando uma autêntica faixa verde envolvida por terrenos secos.
Agradecemos ao Orlando a condução da visita aos poços e a transmissão de conhecimento sobre este aspecto particular que para nós assume especial importância para tentar conhecer mais aprofundadamente diversos aspectos do território onde se insere o Outeiro do Circo.







Diário de Campanha (20 de agosto)

Já é tradição que pelo menos um fim-de-semana em cada campanha se juntem mais alguns colegas para participarem nas escavações do projecto. Assim, foi possível desenvolver várias acções em simultâneo, quer na camada de regularização no topo, quer no fosso.
Foi ainda possível concluir as prospecções direccionadas para observar a distribuição de blocos de barro cozido, assinalando-se uma presença maior na área correspondente ao talude que foi destruído algumas décadas antes e onde se observa uma provável zona de entrada, o que não é de estranhar tendo em consideração que este terreno é lavrado todos os anos fazendo surgir à superfície maior número de evidências. No entanto é de realçar a vasta área onde foi aplicada a solução construtiva com utilização de barro cozido, o que é bastante natural, uma vez que a terra, tal como a madeira seriam os materiais mais frequentes, apesar de raramente observáveis no registo arqueológico.









Diário de Campanha (19 de Agosto)

Na sondagem 1 prossegue a remoção de um grande enchimento de terras misturadas com caliço geológico, que já havia sido escavado no ano anterior na área onde cobria o nível de barro cozido. Este enchimento, com cerca de 60 cm de espessura, poderá tratar-se de uma regularização do terreno que ao mesmo tempo serviria para consolidar a encosta, permitindo a criação de uma plataforma nivelada para receber a construção do muro superior.
Este tipo de solução construtiva, para além de engenhosa e pragmática, demonstra uma elevada capacidade de organização do trabalho por parte da comunidade instalada no Outeiro do Circo.
Na área inferior da sondagem o fosso começa a apresentar dimensões nada coincidentes com a nossa hipótese anterior, onde julgávamos que este pudesse servir como sistema de condução de águas. A sua largura, profundidade e forte enchimento de pedra e terras é sinal de uma intencionalidade diferente que interpretamos agora como directamente relacionada com o restante conjunto do talude estruturado.
Talvez se trate de uma estrutura anterior, como aliás já havíamos proposto, mas que faria parte de um dispositivo defensivo mais antigo e que teria problemas provocados pelo deslizamento de terras para o seu interior. O nível de argilas que serve de base ao barro cozido (que por sua vez está directamente sobre o primeiro nível de pedras do fosso) parece ter aluído para o interior do fosso, com uma orientação idêntica à pendente escavada no geológico. Posteriormente terá sido desactivado e preenchido com uma forte colmatação de pedras, cujas terras apresentam um tom mais escuro e portanto não estarão relacionadas com as argilas que se terão desprendido da encosta.
Outra hipótese em aberto seria o facto de este fosso ter servido para a extracção dos caliços que iriam servir para a colmatação do barro cozido, no entanto como o nível de barro cozido se sobrepõe à abertura na rocha do fosso não parece ser uma proposta muito viável, a não ser que se tenha em conta a possibilidade de se tratar de uma zona de derrube do barro cozido que mais uma vez devido aos deslizamentos provocados por estes terrenos bastante plásticos acabaria por colmatar o topo do fosso.
O facto de continuarem a ser detectados escassos fragmentos cerâmicos em todo o enchimento permite esperar que seja possível identificar algumas formas que ajudem a compreender a sequência cronológica destas acções.
Cabe-nos ainda assinalar a presença de um grande número de visitas, com destaque para a presença do executivo municipal e de freguesia e ainda um agradecimento a António Monge Soares e Paulo Félix, que proporcionam sempre discussões agradáveis e pertinentes sobre diversos aspectos e pormenores da intervenção no Outeiro do Circo.













domingo, 21 de agosto de 2011

Diário de Campanha (18 de Agosto)

Para além dos trabalhos de campo, tem-se procurado envolver os participantes no projecto noutras actividades, nomeadamente no tratamento de materiais, entre as quais se inclui a secagem e limpeza dos ossos de animais.
No terreno prossegue a escavação da sondagem 1 em simultâneo com as prospecções para assinalar a distribuição de blocos de barro cozido em toda a área do povoado.



Diário de Campanha (17 de Agosto)

Junto das terras de regularização do topo do talude detectou-se uma outra camada de cor castanha escura na qual se recolheu grande quantidade de fragmentos de ossos de animais, com destaque para a existência de presas de javali, junto com ossos de ovicaprinos e outros ainda por identificar. Esta camada é anterior à edificação do muro superior, pelo que os elementos aí recolhidos poderão ser de extrema importância para a compreensão da sequência cronológica do sítio.
Em simultâneo com os trabalhos de escavação na sondagem 1, deu-se início às prospecções sistemáticas dos taludes com o objectivo de definir mais pormenorizadamente a sua morfologia e assinalar a concentração/dispersão dos blocos de barro cozido que aparentam estar associados à construção da muralha.



Diário de Campanha (16 de Agosto)

Com o desmonte integral do muro superior entrámos finalmente nos níveis de base que revelam a preparação intencional do terreno, através da sua regularização, para criar uma plataforma sob a qual se edificou a estrutura. Este nível arqueológico é composto por uma mistura das terras de barro com os caliços do substrato geológico, demonstrando que foi extraído e depositado neste local para criar uma base sólida de construção e que ao mesmo tempo consolidava as terras argilosas da encosta, evitando desprendimentos e aluimentos de terras.