O Diário do Alentejo fez uma reportagem sobre o tema da conferência "Um mundo em mudança - Transformação e diversidade nas sociedades da idade do bronze do Sudoeste", proferida no passado dia 19 de Abril no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano, no âmbito da exposição temporária sobre a Idade do Bronze, integrada na exposição "Sob a Terra e as Águas - 20 anos de arqueologia entre o Guadiana e o Sado".
A reportagem foi realizada por Joana Silva e Marta Sofia Mansinhos, alunas do curso de Educação e Comunicação Multimédia do Instituto Politécnico de Beja, no âmbito do acolhimento de alunos de jornalismo no Diário do Alentejo entre 19 e 21 de Abril.
Beja antes da chegada dos romanos
Na quinta-feira da semana passada, dia 19, o arqueólogo Miguel Serra deu uma conferência subordinada ao tema “Um mundo em mudança - Transformação e diversidade nas sociedades da idade do bronze do Sudoeste”, no Museu do Sembrano, em Beja, no âmbito da inauguração de uma exposição sobre a Idade do Bronze, período compreendido entre 4 a 3/2 800mil anos atrás. Serão realizadas outras conferências de outras épocas, como a Idade do Ferro e a Época Romana.
O conhecimento sobre os primeiros povos a habitar esta região é insuficiente, diz o arqueólogo, “visto que se está a falar de povos pré-históricos antes do aparecimento da escrita”. Nas épocas seguintes já existem relatos de autores romanos e de outros geógrafos gregos. Segundo Miguel Serra, “não se sabe que nomes possuíam ou como se entenderiam em termos de linguagem, mas provavelmente tratava-se de povos que viveram na sua primeira fase em clãs familiares num sentido quase tribal. Com o avançar desta época para o final, o que chamamos como o bronze final, existe uma maior consciência deste povo no sentido em que surgiram grandes locais arqueológicos”.
O melhor exemplo que existe, adianta o especialista, é o Outeiro do Circo, herdade de 17 hectares, situada nos arredores de Beja, “onde provavelmente a comunidade que lá vivia poder-se-ia entender a si própria como um povo que dominaria uma vasta região e que foi evoluindo ao longo de todo este período”. Mas “só na época seguinte, com o aparecimento da escrita, é que se descobriu, de forma mais concreta, informações sobre como era a vida desses povos”, diz o arqueólogo que foi coordenador científico do projeto arqueológico do Outeiro do Circo, entre 2008-2017.
A maior parte das descobertas efetuada na região do Baixo Alentejo, no século XIX, “não eram escavações, eram achados isolados no âmbito de trabalhos agrícolas “, esclarece o arqueólogo. Ao longo do século XX registaram-se várias escavações, algumas levadas a cabo pelo arqueólogo Abel Viana. Nos últimos 20 anos, mas com maior intensidade, na região de Beja, nos últimos 10, as escavações associadas aos trabalhos do Alqueva, desenvolvidas pela EDIA- Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva e o foco da conferência proferida por Miguel Serra, permitiram “descortinar vestígios, por estes territórios, praticamente de todas as épocas, desde a pré-história mais antiga até aos momentos mais recentes”.
O arqueólogo diz que o que mais tem surpreendido é o facto “de passarmos de uma situação em que para esta época da idade do Bronze tínhamos uma ausência, ou raridade, de vestígios para agora termos uma profusão de vestígios que desconhecíamos”. Miguel Serra considera que “a maior importância se calhar não é um sítio ou um achado em si, mas sim o conjunto de informação que todos estes sítios proporcionam por nos dar uma ideia de como era o povoamento ao longo desta época, de com estas pessoas habitavam aqui, sobretudo na planície, como é que enterravam os seus mortos, como é que exploravam o território”. O arqueólogo diz ainda que “às vezes é tão importante achar uma semente como encontrar um artefacto em ouro, porque a semente também nos conta muito sobre como estas pessoas viviam, mais até do que o artefacto em ouro”.
O especialista salienta ainda que a partir de uma determinada altura da idade do bronze, depois de uma primeira fase em que estas comunidades viviam dispersas “em, digamos, numa espécie de aldeias na planície”, tiveram tendência “para se concentrarem em espaços maiores, melhor defendidas em sítios altos”, sendo que se pode fazer “uma analogia, assim um bocadinho forçada, com o que o ser humano ainda faz hoje em dia, que é tentar viver em grandes comunidades nas cidades”.
Texto Joana Silva e Marta Sofia Mansinhos Alunas do IPBeja
Foto DR