Alcarias (Mombeja) - necrópole de cistas
Em 1898, José Leite de Vasconcellos visitou a região de Mombeja, onde na companhia do Reverendo António da Silva Pires, pároco de Santa Vitória e do Reverendo António Maria de Brito, prior de Mombeja, lhe foram mostradas três lajes de xisto decoradas aí descobertas e que se integravam na Idade do Bronze. Referimo-nos às três estelas da Idade do Bronze recolhidas por Leite de Vasconcellos e transportadas para o Museu Etnológico Nacional (actual Museu Nacional de Arqueologia), das quais uma se perdeu durante umas mudanças ocorridas no museu.
Estas estelas terão sido descobertas durante a realização de trabalhos agrícolas nuns terrenos designados por Alcarias e localizados a cerca de 2 km de Mombeja, onde serviam de paredes e tampas de sepulturas (Vasconcellos 1906: 184,185).
Uma das estelas conserva a figura de um ancoriforme decorado com uma série de linhas rectas e onduladas horizontais na sua parte superior. Também se observam duas perfurações e duas linhas que partem para cima, interpretadas como correias. Na parte esquerda, também em alto relevo, surge parte de uma espada embainhada, com empunhadura de rebites onde também existem as linhas que representam as correias ou tahali.
A outra estela apenas possui uma figura, representando possivelmente a parte inferior do ancoriforme (invertida na imagem em baixo). Apesar de não serem observados na reprodução em baixo, esta estela também possui, em baixo relevo, os extremos inferiores curvos dos cabos de alabardas ou machados.
A terceira estela, desaparecida e da qual só conhecemos um esboço de José Leite de Vasconcellos, parece representar o punho de uma espada representado em alto relevo (Díaz-Guardamino 2010).
Estelas de Mombeja (adaptado de Vasconcelos 1906: estampa II)
A outra estela apenas possui uma figura, representando possivelmente a parte inferior do ancoriforme (invertida na imagem em baixo). Apesar de não serem observados na reprodução em baixo, esta estela também possui, em baixo relevo, os extremos inferiores curvos dos cabos de alabardas ou machados.
A terceira estela, desaparecida e da qual só conhecemos um esboço de José Leite de Vasconcellos, parece representar o punho de uma espada representado em alto relevo (Díaz-Guardamino 2010).
Estelas de Mombeja (adaptado de Vasconcelos 1906: estampa II)
A localização exacta do sítio permaneceu incerta e foram infrutíferas as tentativas de o localizar ao longo dos anos, face à ausência de vestígios correlacionáveis com a existência de uma necrópole de cistas na zona do topónimo "Alcarias".
Uma breve referência de Abel Viana (1945: 330) poderá estar relacionada com este sítio. Numa curta passagem descritiva de alguns materiais cerâmicos da Idade do Bronze existentes no Museu de Beja, Abel Viana menciona um vaso decorado que seria proveniente do sítio Alcaria de Ervidel (!), que havia sido depositado no museu em 1917 pelo Conselheiro Francisco Xavier de Menezes.
Esta situação foi subitamente alterada quando em Fevereiro de 2016 a equipa coordenadora do Projecto Outeiro do Circo foi contactada pelo colega arqueólogo Rui Ribolhos, que acompanhava este blogue com regularidade, pela atenção que dedica aos temas relacionados com a História, sobretudo por se tratar da terra onde tem as suas origens.
Uma breve referência de Abel Viana (1945: 330) poderá estar relacionada com este sítio. Numa curta passagem descritiva de alguns materiais cerâmicos da Idade do Bronze existentes no Museu de Beja, Abel Viana menciona um vaso decorado que seria proveniente do sítio Alcaria de Ervidel (!), que havia sido depositado no museu em 1917 pelo Conselheiro Francisco Xavier de Menezes.
Esta situação foi subitamente alterada quando em Fevereiro de 2016 a equipa coordenadora do Projecto Outeiro do Circo foi contactada pelo colega arqueólogo Rui Ribolhos, que acompanhava este blogue com regularidade, pela atenção que dedica aos temas relacionados com a História, sobretudo por se tratar da terra onde tem as suas origens.
Contou-nos então o que a seguir citamos:
"Meu avô (José Filipe do Ó) recebeu de uma
herança por volta de 1950, um terreno/fazenda da parte de um tio solteiro.
Para gente pobre, como o meu avô (casado e com dois filhos para
sustentar) foi uma dádiva dos deuses.
Este terreno fora desde tempos imemoriais, "cavado" à mão e o meu avô
querendo aproveitar ao máximo as qualidades da terra, pediu uma lavra
mecanizada. No decorrer desta operação e perante o olhar do meu avô e de
meu pai (José Filipe), eis que a máquina parou perante um obstáculo pétreo.
Ao quererem retirar a dita pedra, constataram tratar-se de uma pedra que
servia de tampa de sepultura. Foram descobertas por eles duas sepulturas
que pela descrição (esteios pétreos no fundo, laterais e servindo de tampa.
Para além da surpresa relativamente ao que estavam ali "a fazer pedras
talhadas" num sitio onde não há pedras, mais espantados ficaram ao
constatar que se tratava de duas sepulturas.
O meu pai recorda-se perfeitamente de cada uma conter um esqueleto intacto,
desfeitos por contacto com os elementos.
Uma delas continha espólio sendo constituído por, segundo a memória do
meu pai, duas peças cerâmicas intactas "tijela" (vaso?) e "jarro" (potinho/púcaro?)."
No seguimento deste contacto foi possível fazer um reconhecimento à dita propriedade na companhia de Rui Ribolhos e do seu pai, José Filipe, que nos indicou o local aproximado onde estes vestígios haviam sido identificados na década de 50 do século passado. No terreno os únicos vestígios correspondiam a fragmentos de lajes que poderão ter pertencido a cistas, uma vez que na zona envolvente já não encontramos mais materiais semelhantes, concentrando-se estes numa área relativamente restrita. Apesar da ausência de outros vestígios mais específicos, julgamos que as informações recolhidas permitiram-nos a identificação concreta da localização da necrópole de Alcarias e por inerência do local onde foram recolhidas as três estelas de Mombeja.
Bibliografia:
Díaz-Guardamino, M. (2010), Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Península Ibérica. Madrid: Tese de Doutoramento apresentada à Universidade Complutense de Madrid.
Vasconcellos, J. L. (1906), Estudos sobre a época do Bronze em Portugal. O Archeologo Português, 11, pp. 184-185.
Viana, A. (1945), Museu Regional de Beja: alguns objectos da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e da Época Romana, Cerâmica Árabe. Arquivo de Beja, vol. 2, fasc. III-IV, pp. 309-339
Díaz-Guardamino, M. (2010), Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Península Ibérica. Madrid: Tese de Doutoramento apresentada à Universidade Complutense de Madrid.
Vasconcellos, J. L. (1906), Estudos sobre a época do Bronze em Portugal. O Archeologo Português, 11, pp. 184-185.
Viana, A. (1945), Museu Regional de Beja: alguns objectos da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e da Época Romana, Cerâmica Árabe. Arquivo de Beja, vol. 2, fasc. III-IV, pp. 309-339
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