O projecto "12 Lugares, 12 Meses, 12 Histórias - A Idade do Bronze na região de Beja" chegou ao fim após um ano intenso em actividades que pretenderam levar a todo o território do concelho de Beja o conhecimento sobre a Idade do Bronze. Cada iniciativa mensal era composta de três actividades com objectivos distintos. Por um lado, as conferências dirigidas às populações locais pretendiam dar a conhecer os sítios arqueológicos deste período em cada uma das freguesias e ao mesmo tempo fomentar alguma discussão sobre a importância do património arqueológico para o desenvolvimento local, para além de ser também uma oportunidade para contactar quem de facto conhece melhor os territórios abordados, o que gerou um importante volume de trocas de informações.
Um dia depois realizavam-se percursos pedestres destinados a percorrer caminhos de antigamente e ir aos locais onde existiram sítios arqueológicos de que hoje não restam vestígios observáveis. Optou-se assim por usar a oralidade como forma de transmitir o conhecimento produzido combatendo o esquecimento proporcionado pela ausência de outras informações.
Foto de Júlio Raimundo
Foto de Francisco Santos
No final de cada caminhada gerava-se facilmente um momento de convívio entre os participantes, que ao longo deste projecto se forjaram num verdadeiro grupo, e assim se tornando em autênticos embaixadores o que contribuiu de modo significativo para a sua divulgação, aumentando a capacidade de atrair outros interessados e recebendo-os de braços abertos.
Momentos estes que serviram para envolver outros saberes destas terras, desde a gastronomia, ao artesanato ou ao cante e assim criando curiosidade para motivar o regresso às aldeias e montes visitados.
Em muitos destes momentos de convívio aproveitou-se a ocasião para apresentação de pequenas exposições, compostas por painéis explicativos, mas por vezes também acompanhadas de artefactos e réplicas sobre a Idade do Bronze que proporcionavam um contacto mais directo com estas realidades. As exposições, por vezes mostradas nos locais de término dos passeios, foram entregues às respectivas juntas de freguesia para assim serem expostas em local digno e potenciando no tempo o efeito de informar as populações sobre o seu património muitas vezes desconhecido.
O conjunto de iniciativas realizadas juntou mais de 860 participantes ao longo do ano, sendo sempre importante analisar os números quando se pretende efectuar um balanço final e assim projectar futuras acções.
O número 12 que é marca da designação do projecto acabou por ser inferior ao pretendido. É que às 12 conferências realizadas nas 12 actuais freguesias do concelho de Beja há que acrescentar uma 13ª que serviu de apresentação prévia do projecto e que reuniu 40 assistentes no início de Janeiro de 2016 no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano em Beja onde também se deu a conhecer a riqueza arqueológica que este período da Idade do Bronze possui na região. Já as conferências realizadas nas freguesias, totalizaram 202 pessoas, numa média de quase 17 assistentes em cada uma, tendo a menor participação sido de 5 pessoas e a maior de 30, número atingido por duas ocasiões.
Quanto aos passeios, estes mobilizaram 539 participantes nos 12 percursos, uma média de quase 45 pessoas por percurso, com 71 caminheiros no percurso mais participado e 29 no menos concorrido. Há que acrescentar que ficou plenamente demonstrado o interesse que as populações locais têm por este tipo de actividades de ar livre com componente temática, não havendo desmobilização face a percursos efectuados em condições muito diferenciados ao longo do ano, suportando temperaturas superiores a 40º no Verão e outras de 5º no Inverno para além da chuva que se fez sentir de modo mais intenso na Primavera. Outro aspecto a destacar foi a adesão de participantes externos à região, que foi superior na fase final do projecto devido à divulgação conseguida e só possível em acções regulares, fidelizadoras de novos públicos.
O total de quilómetros calcorreados ficou-se por 112, ao longo dos quais se atravessaram 21 sítios arqueológicos dos 102 falados nas conferências. O percurso de menor distância teve 4,6 km e o maior 14,4 km numa média de 8,6 km em cada percurso.
Também no caso dos passeios se chegou ao 13! Para assinalar o fim deste projecto organizou-se um percurso extra, desta vez em meio urbano e que atraiu 82 curiosos que desta vez não percorreram locais de onde foram resgatados vestígios arqueológicos, mas puderam conhecer melhor esta época com uma visita guiada ao Núcleo Museológico da Rua do Sembrano, onde a exposição "Sob a terra e as águas - 20 anos de arqueologia entre o Guadiana e o Sado" serviu para mostrar os novos dados da Idade do Bronze, e não só, recentemente surgidos com as intervenções no âmbito do projecto Alqueva.
Para não destoar as exposições também não se ficaram pelas 12 realizadas nas freguesias, havendo lugar à 13ª inaugurada na Casa da Cultura de Beja com uma mostra fotográfica dos percursos rurais e mais algumas informações sobre este projecto.
Os números revelam o alcance desta iniciativa que cresceu ao longo do ano e ultrapassou as melhores expectativas, mas o verdadeiro sucesso não se reflecte em meras contabilizações, mas antes nas reacções de quem nelas participou.
Um outro balanço pode ainda ser feito. É que o contacto possibilitado pelas múltiplas iniciativas também foi gerador de conhecimento. Ao longo do ano a equipa organizadora foi diversas vezes abordada sobre assuntos que poderiam ter interesse para o estudo futuro deste período (e de outros), quer durante as conferências quer em contactos de diverso tipo. Para melhor ilustrar esta afirmação bastará dizer que a importância de comunicar directamente com as populações locais (que afinal são quem melhor conhece o território que estudamos) ficou bem batente em vários momentos, como em Santa Clara do Louredo onde nos foram dados a conhecer diversos materiais arqueológicos da Idade do Cobre oferecidos à junta de freguesia e determinar a sua proveniência para assim identificar um sítio inédito nesta zona. Também no Penedo Gordo, aldeia da União de Freguesias de Santiago Maior e São João Batista, conseguiu-se esclarecer a localização de uma necrópole da Idade do Bronze, há muito dada por perdida, por a sua designação corresponder a local actualmente desconhecido. Situação similar surgiu em Santa Vitória e Mombeja onde as designações dadas por arqueólogos aos locais de achados da Idade do Bronze não são hoje conhecidas localmente, mas o contacto com populares levou a que fosse possível recuperar em parte essa memória. Tivemos até um caso, na Trindade, onde a designação do sítio arqueológico não correspondia ao nome popularmente atribuído ao local, por incapacidade de compreender o sotaque por parte de quem o registou!
Casos houve, como em Trigaches, em que foi possível resgatar momentaneamente do esquecimento peças há muito identificadas e levá-las num regresso breve às terras de onde vieram, para aí puderem ser observadas e apreciadas.
A promoção e destaque dados a este projecto, com particular incidência na comunicação social, sobretudo local, para além da transmissão directamente proporcionada por aqueles que nele tiveram papel activo enquanto participantes também levou a que em certas ocasiões várias pessoas se lembrassem de velhos objectos, guardados durante várias décadas, que resgataram para nos serem presentes com o intuito se esclarecer a sua época, função ou importância, resultando inclusivamente na (re)descoberta de peças da Idade do Bronze que nos foram entregues de forma despretensiosa para se proceder ao seu estudo, publicação e devida salvaguarda.
Por aqui vemos que mesmo num projecto de divulgação como este, por vezes surgem impactos inesperados e que deste modo continuarão a alimentar um pouco mais as histórias que se podem contar...
O projecto "12 Lugares..." teve o seu fim, projectado desde o início, mas não ficará seguramente por aqui!
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