quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Notas de Campo (5) - Campanha de 2016

Chegou ao fim mais uma campanha de escavações no Outeiro do Circo...pelo menos no que ao trabalho de campo diz respeito!
Nesta 4ª e última semana intensificou-se o ritmo dos trabalhos de modo a concluir algumas das áreas intervencionadas e preparar outras para registo e selagem.
A sondagem 8 continua a ser aquela que cria maior expectativa devido ao aparecimento de materiais diversos, destacando-se a presença de grande número de fragmentos cerâmicos, mas também de ossos de animais e pequenos blocos de barro cozido.
Nesta última semana ainda houve tempo para iniciar o desmonte dos elementos pétreos que poderão corresponder ao derrube de algum tipo de estrutura relacionada com a muralha, mas só com o retomar das escavações arqueológicas no próximo ano é que se poderá esclarecer esta hipótese.




Também na sondagem 7, o nível em que se terminou a escavação nesta campanha já começa a revelar a presença de alinhamentos pétreos e de grande quantidade de fragmentos cerâmicos a mais de um metro de profundidade, o que gera naturais expectativas de que existam níveis e estruturas preservados uma vez que as lavouras mecânicas não atingem estas cotas.




A sondagem 11 ficou totalmente concluída e mais uma vez verificou-se a escassez de potência de solos existente na faixa central do povoado, mesmo neste local já mais aplanado e de menor altitude. No entanto, esta sondagem revelou-se importante para esclarecer a natureza do alinhamento de pedras que divide longitudinalmente o povoado e que de facto corresponde a uma divisão de propriedade de época moderna/contemporânea, pois as pedras do alinhamento assentavam directamente sobre uma fina camada de terras que se sobrepunha ao substrato geológico e não revelavam várias sequências de colocação de pedras devidamente sedimentadas.




Os últimos dias de trabalhos de campo ficaram guardados para os registos finais e para a selagem provisória das sondagens que irão ser retomadas na próxima campanha em 2017, a última do presente projecto.



Em paralelo com os trabalhos de campo contámos com a presença do nosso colaborador Samuel Neves (SPN - Engenharia e Geofísica) que se deslocou ao Outeiro do Circo para testar as potencialidades da detecção remota com recurso a câmaras térmicas e cujos resultados serão posteriormente comparados com os dados anteriormente obtidos com a fotointerpretação e a geofísica realizadas nas mesmas áreas de análise.
Aguardemos pois as novidades que poderão surgir em breve...




Também foi possível efectuar mais uma visita temática nesta última semana de trabalhos e que levou o grupo de voluntários até à cidade vizinha de Serpa, onde, após uma recepção por parte da Câmara Municipal de Serpa, houve oportunidade para conhecer o recentemente inaugurado Museu Arqueológico, seguido de um passeio pelo castelo e muralhas e naturalmente por algumas das ruas do centro histórico da cidade branca.



Esta semana ficou também marcada pela realização de duas conferências, a primeira da responsabilidade de Samuel Neves que mostrou a utilidade de diversos tipos de métodos não invasivos de detecção remota para a análise de estruturas arqueológicas soterradas.
A curiosidade pelo potencial de utilização de alguns dos métodos apresentados levou a um animado debate com vários dos cerca de 20 assistentes.




A última sessão do Ciclo de Conferências Outeiro do Circo 2016 ficou a cargo de Rui Mataloto, arqueólogo da Câmara Municipal do Redondo e investigador que se debruça sobre várias temáticas da pré-história recente e proto-história do Sul de Portugal e que neste caso nos veio falar sobre as imensas novidades surgidas no território de Beja durante a Idade do Ferro, contextualizando devidamente com o conhecimento produzido em outras regiões limítrofes. A apresentação contou com cerca de 30 interessados que mais uma vez proporcionaram um interessante debate.





Por último, o nosso MUITO OBRIGADO a todos os que contribuíram para uma grande campanha arqueológica neste Verão de 2016.
Aos nossos voluntários: Mladen Rachev, Victor Almiron, Denise Lima, Kate Leonard, Laura Pascual, Natalia Garcia, Oscar Villanueva, Luís Machado, Bruno Reginaldo, Luís Laceiras, Irene Faza, Miguel Rodrigues, Ana Ribeiro e Manuel Monteiro por todo o empenho, dedicação e alegria para além do desejo que possam regressar para o próximo ano.
Aos outros "voluntários" que arranjaram tempo e motivação para vir trabalhar connosco durante alguns dias, mesmo sob um calor abrasador: Carlos Rocha, Arminda Horta (e filha) e Ana Costa.
À Sofia Silva por ser a "verdadeira" coordenadora dos trabalhos...
Aos conferencistas que rapidamente aceitaram o nosso repto: António Carlos Valera, Kate Leonard, António Monge Soares, Samuel Neves, Rui Mataloto. E ao Ignacio Pavón Soldevilla que não pôde estar presente por motivos pessoais mas que rapidamente se prontificou a vir a Beja numa outra ocasião e que seguramente trataremos que aconteça.
Aos motoristas da Câmara Municipal de Beja e ao João Costa da União de Freguesias de Santiago Maior e São João Baptista pela paciência com os nossos constantes atrasos e aos restantes trabalhadores da união de freguesias que prepararam o terreno para desenvolvermos o nosso trabalho.
Aos elementos da Câmara Municipal de Beja que apoiaram as várias iniciativas, como as conferências e os ateliers, para além de toda a logística e trabalhos preparatórios: Teresa Brinca, Teresa Guerreiro, Tânia Matias, Telma Martelo, Ana Baltazar e Rui Aldegalega.
Ao Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança que forneceu as refeições à equipa de escavação entre os seus muitos afazeres.
Aos responsáveis dos vários ATL`s que nos visitaram e que continuam a mostrar de forma clara que vale a pena continuar a nossa aposta no programa educativo do Outeiro do Circo: Academia de Ginástica Zona Azul, ATL do Penedo Gordo, Be-Happy e Associação Juvenil Arruaça.
Ao João Chinita e ao Samuel Neves por colocarem de forma desinteressada e voluntária algumas novas tecnologias (DRONES!) ao serviço do Outeiro do Circo.
À Câmara Municipal de Serpa na pessoa da Arqt.ª Maria Manuel Oliveira pela recepção e apoio na visita que a equipa do Outeiro do Circo fez ao Museu Arqueológico de Serpa e ao Castelo.
À Santa Casa da Misericórdia de Beja e aos seus funcionários pela excelente visita guiada que nos proporcionaram no Hospital da Misericórdia.
E por fim às instituições que suportam este Projecto, à Câmara Municipal de Beja e em particular à vereadora Sónia Calvário por se envolver de forma muito directa em todas as iniciativas que dizem respeito ao Outeiro do Circo, à União de Freguesias de Santiago Maior e São João Baptista, na pessoa do seu presidente Miguel Ramalho que desde o início acolheu este projecto como seu, à Força Aérea Portuguesa - Base Aérea n.º11 por mais uma vez ceder instalações para a estadia da equipa e aos nossos colegas da Palimpsesto pela constante paciência para com a nossa dedicação ao Outeiro do Circo.
E esperamos sinceramente não nos termos esquecido de ninguém...

terça-feira, 30 de agosto de 2016

12 Lugares, 12 Meses, 12 Histórias - União de Freguesias de Salvador e Santa Maria da Feira

A última etapa do projecto "12 Lugares, 12 Meses, 12 Histórias" decorreu nos dias 19 e 20 de Agosto, mas só agora nos foi possível dispor de algum tempo livre para aqui apresentarmos o balanço da iniciativa.
Esta acção coincidiu com a campanha de trabalhos arqueológicos do Projecto Outeiro do Circo e desde logo é de assinalar a participação dos voluntários que integram a equipa de 2016 deste projecto, quer na conferência quer no percurso pedestre.
A conferência "Aldeias na planície durante a Idade do Bronze" realizou-se no dia 19 às 21:00 no Jardim das Alcaçarias (Beja), contando com cerca de 30 assistentes que tiveram a oportunidade de conhecer as últimas novidades que a arqueologia revelou na região de Beja, em especial os povoados abertos de planície, dos quais se identificou um no território desta união de freguesias.

No Sábado, dia 20, foi a vez do percurso pedestre, dedicado ao tema "Da Idade do Bronze à Idade do Ferro: entre a planície e a colina de Beja", levar os 34 caminheiros a desceram desde a Praça da República em Beja, em direcção à planície que espreita a Norte, onde houve lugar a uma breve explicação sobre o sítio de Lagarinhos 5, um povoado aberto de planície da Idade do Bronze, seguindo-se o regresso à urbe com uma pequena subida até ao Jardim Público. Este percurso com pouco mais de 8 km também serviu para contar a história do povoamento da própria cidade de Beja que durante a Idade do Bronze não seria ainda ocupada, mas encontrava-se rodeada de pequenos povoados de planície, para depois, já em plena Idade do Ferro se tornar um importante povoado fortificado. 


No final da caminhada a União de Freguesias de Salvador e Santa Maria da Feira ofereceu um repasto para recuperação das forças e que é sempre um bom momento de convívio entre os participantes, ao mesmo tempo que se poderiam visualizar os painéis referentes à exposição "Uma Aldeia da Idade do Bronze", com ilustrações de Susa Monteiro e José Luís Madeira que ajudam a compreender melhor como se vivia na planície de Beja há 3000 anos.

Aqui deixamos o nosso agradecimento à Câmara Municipal de Beja e aos seus técnicos que fazem o trabalho "invisível" que permite a realização destes eventos, bem como à União de Freguesias de Salvador e Santa Maria da Feira por todo o apoio e envolvimento directo nas iniciativas.
O mês de Setembro continua a percorrer os "12 Lugares...", desta vez com duas iniciativas, a primeira a 9 e 10 na Cabeça Gorda e depois a 16 e 17 em Albernôa e Trindade, que deveria ter sido realizada em Maio mas que foi cancelada devido ao mau tempo que se registou o fim-de-semana em que estava prevista.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Atelier "Viagem à Idade do Bronze"

No decorrer dos trabalhos da campanha de 2016 do Projecto Outeiro do Circo desenvolveram-se, em parceria com a Câmara Municipal de Beja, dois ateliers de arqueologia sob o título "Viagem à Idade do Bronze".
Estas sessões decorreram no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano e na antiga cafetaria do Castelo de Beja, tendo como destinatários crianças entre os 6 e os 12 anos de idade.
As actividades realizadas permitiram aos dois grupos distintos de participantes conhecerem de forma didáctica e divertida alguns aspectos relacionados com esta época, através de jogos pedagógicos de descoberta de artefactos e do manuseamento de vários tipos de materiais para recriar peças existentes na Idade do Bronze.
Aqui fica o nosso agradecimento aos entusiastas que aderiram aos ateliers, bem como aos voluntários da equipa do Projecto Outeiro do Circo, que colaboraram nas diversas actividades, auxiliando na sua execução e assim participando de forma integrada em todos os aspectos que se relacionam com o programa educativo do Projecto Outeiro do Circo.
Por fim, o nosso agradecimento à equipa da Câmara Municipal de Beja, em especial à Tânia Matias e à Teresa Guerreiro, sem as quais não teria sido possível realizar estas acções em simultâneo com os trabalhos de campo no Outeiro do Circo.




















domingo, 28 de agosto de 2016

Notas de Campo (4) - Campanha de 2016

Durante a 3ª semana de escavações no Outeiro do Circo os trabalhos prosseguiram a bom ritmo, em boa parte devido às tréguas do clima que se revelou mais ameno, com a continuação das sondagens 7 e 8 e a abertura de duas novas áreas de intervenção.
Na sondagem 7 surgiram as primeiras evidências que apontam para a presença de níveis provavelmente conservados. Referimo-nos a um alinhamento de grandes blocos pétreos identificados a quase 1 metro de profundidade após a remoção de uma espessa camada de terras negras que se revelou extremamente compacta e difícil de escavar. 
O cenário na sondagem 8 é bastante diferente pois começam a ser identificadas diversas realidades arqueológicas, o que leva a uma maior morosidade nos trabalhos. O alinhamento de pedras onde se identificou o bloco rochoso com "covinhas" marca claramente uma barreira, identificando-se unidades muito diferentes de um lado e outro desse alinhamento que no entanto parece ter sido bastante destruído por acção de lavouras mecânicas. 
Iniciaram-se ainda duas novas áreas de sondagem de menor dimensão com o intuito de prosseguir a avaliação dispersa do potencial estratigráfico da zona mais alta do povoado, à semelhança do pretendido com a sondagem 9, já concluída. Abriu-se a sondagem 10, com 2 x 2 metros, nas proximidades da sondagem 3 e junto ao moroiço de pedras que ocupa a zona mais elevada do Outeiro do Circo.
Tal como também havia sucedido na sondagem 9, também aqui o substrato geológico se encontrava a pouca profundidade, mas neste caso tal não se deverá exclusivamente à prática agrícola, mas antes à erosão e à pouca profundidade dos solos, o que mais uma vez não possibilita expectativas de se encontrarem estruturas conservadas. 
A sondagem 11, com 3 x 2 m, foi aberta um pouco mais para Sudoeste junto à linha de árvores que divide o povoado no seu eixo longitudinal e localizada numa zona mais plana e afastada das cotas mais altas. Aqui o objectivo também passava por tentar compreender a natureza do talude de pedras que se encontra coberto pela linha de árvores e ao mesmo tempo verificar se nesta zona mais plana é possível haver maior potência de solos. 
No trabalho de gabinete houve lugar ao início da marcação de materiais recolhidos em campanhas anteriores para além da continuação da lavagem e limpeza das peças que continuam a ser recolhidas na presente campanha. Antes dos trabalhos de marcação efectuou-se uma pequena sessão dirigida aos voluntários para explicação da metodologia a utilizar e uma mostra de materiais das campanhas passadas.
Nesta 3ª semana contámos ainda com a presença de João Chinita, que tem colaborado com o Projecto Outeiro do Circo na área de multimédia, ilustração e produção de conteúdos de divulgação, que efectuou algumas filmagens e fotos aéreas com drone no sítio e que serão em breve publicadas neste blogue.


Em relação ao Ciclo de Conferências, houve necessidade de proceder a uma alteração no programa uma vez que o conferencista agendado para dia 16, o professor Ignacio Pavón Soldevila, não pôde comparecer por motivos pessoais, sendo feita em substituição uma conferência a cargo dos responsáveis científicos do projecto, Miguel Serra e Eduardo Porfírio, com uma apresentação sobre o Outeiro do Circo e que percorreu os antecedentes da investigação em curso, passando pelos principais resultados do projecto anterior, pelo programa de Educação Patrimonial e terminando com a exposição dos objectivos do projecto em curso.
Esta sessão contou com 25 assistentes entre os voluntários do Outeiro do Circo e do Projecto Arqueologia das Cidades de Beja, cuja equipa também se encontra em escavações arqueológicas em Beja, e outros interessados nestes temas.
No dia 18 foi a vez de António Monge Soares brindar os cerca de 30 assistentes com uma apresentação sobre a Idade do Bronze no Sul de Portugal e que permitiu conhecer muitas das imensas novidades surgidas nos últimos anos no que a este período diz respeito.



Por fim falta referir apenas a participação de mais um grupo de Actividades de Tempos Livres, desta vez organizado pela associação juvenil Arruaça, e que levou 11 jovens acompanhados por 2 monitores a conhecerem o Outeiro do Circo, mas também o trabalho de gabinete, normalmente menos conhecido, no qual prestaram a sua ajuda e envolveram-se no contacto directo com os materiais arqueológicos.