segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

V Congresso de Arqueologia do Sudoeste - Posters

Arroteia 6 (Mombeja - Beja) no contexto da Idade do Bronze do Sudoeste Peninsular.Eduardo Porfirio e Miguel Serra (Palimpsesto, Lda. / CEAUCP-CAM)


Resumo

O sítio Arroteia 6 foi identificado no decorrer dos trabalhos de minimização de impactes sobre o património, a cargo da Palimpsesto, Lda., decorrentes do projecto “Conduta Santa Vitória, Mombeja, Beringel”, que consistia na implantação de condutas de abastecimento de água às freguesias rurais do concelho de Beja, da responsabilidade da EMAS, EEM. Foram detectados vestígios de estruturas escavadas no caliço brando da região que revelavam materiais genericamente enquadráveis na Idade do Bronze.
A escavação arqueológica resultou na identificação de um silo/fossa e de uma área com esparsos vestígios de combustão, embora esta última apresente um elevado grau de perturbação devido aos trabalhos agrícolas.
As características da implantação topográfica integram este sítio na categoria dos povoados de planície, enquanto que o espólio, principalmente o cerâmico permite situá-lo cronologicamente no Bronze Final. Sendo assim, este povoado seria contemporâneo do Outeiro do Circo, o que conjugado com a proximidade geográfica entre os dois locais, possibilita equacionar a existência de uma rede de povoamento estruturada e hierarquizada (Serra e Porfírio, np).

Antecedentes e Enquadramento da Intervenção
A área da intervenção arqueológica ocupa uma plataforma de vertentes suaves que apresenta uma morfologia ovalada, rodeada por pequenos cursos de água, e perfeitamente enquadrável na unidade geomorfológica da peneplanície alentejana (Oliveira, 1992: 11). O povoado deverá ocupar parte ou a totalidade desta plataforma, apesar de apenas se ter detectado uma estrutura, situada nos limites desta área uniforme (Fig. 1 e 2).

Fig. 1
Fig. 2

A existência de vestígios da Pré-história recente nesta zona havia sido referenciada aquando da realização de uma outra intervenção dirigida pelos signatários, na área de implantação do novo Reservatório de Mombeja. Este local designado por Monte da Arroteia 1, situa-se a cerca de 200 metros a Norte de Arroteia 6 e ocuparia o topo de uma pequena elevação de vertentes pronunciadas, ladeadas por linhas de água e com visibilidade para todos os quadrante, excepto para Norte e Oeste. Apesar de não terem sido detectados contextos arqueológicos conservados, foi recolhido um conjunto de cerca de três dezenas de fragmentos cerâmicos de produção manual, cujas características permitiam a sua atribuição ao período em questão (Porfírio e Serra, 2009).

Descrição dos trabalhos realizados e principais resultados
A intervenção arqueológica em Arroteia 6 possibilitou a identificação de duas áreas de interesse, das quais uma (Sondagem 2) havia sido bastante afectada pela intensa actividade agrícola, não permitindo definir com rigor o contexto arqueológico a que se reportava, mas documentando a existência de níveis pouco definidos com alguns vestígios de combustão (sedimento de coloração negra com carvões – Fig. 3), nos quais foram recolhidos alguns materiais cerâmicos da Idade do Bronze e um fragmento de dormente (Fig. 4, 5).

Fig. 3
A segunda área escavada (Sondagem 1) permitiu a identificação de uma estrutura negativa de tipo silo/fossa, cujos enchimentos embalavam uma grande quantidade de argila cozida e de carvões, um dormente e vários fragmentos cerâmicos, entre os quais se destaca um conjunto de taças carenadas enquadráveis no Bronze Final. Estes indícios levam-nos a colocar desde já a hipótese de estarmos perante um silo, que após desactivação, serviu como fossa, sendo preenchido com diverso material até à sua completa colmatação (Fig. 6, 7, 8, 9).
Fig. 6


Fig. 9

Nos dois contextos arqueológicos, foi recolhido um conjunto variado de amostras quer sedimentológicas quer antracológicas, cujo estudo futuro desempenhará um papel relevante no conhecimento mais aprofundado das realidades intervencionadas, nomeadamente através da possibilidade de conhecer o(s) elementos do interior do silo/fossa da Sondagem 1.

Integração cultural e conclusão
A análise espacial e morfológica da envolvência de Arroteia 6 permite considerar que os vestígios identificados se podem integrar no grupo dos povoados abertos de “fossas” da Idade do Bronze, semelhantes a outros recentemente identificados nas regiões vizinhas de Beringel e Trigaches (Antunes et alii, no prelo). Assim o parece indicar a semelhança verificada ao nível da estratégia de implantação, sendo que no caso em apreço se privilegiou uma plataforma constituída por terrenos férteis integráveis nos solos de tipo “Barros Negros”, com algumas linhas de água sazonais.
Considerando todo o grupo dos povoados abertos, este sítio assume especial importância por se situar a curta distância do Outeiro do Circo (menos de 1 Km em linha recta) e também por revelar uma ocupação datável do Bronze Final, conforme se comprova através da presença das taças carenadas, com paralelos em estações de outras regiões, que foram datadas com maior rigor (Santos, et alii, 2008).
A investigação sobre este tipo de povoados encontra-se ainda numa fase inicial, escasseando os estudos de materiais e a atribuição de cronologias absolutas às suas fases de ocupação. Podemos facilmente supor que alguns destes sítios de planície, já ocupados desde o Bronze Pleno, mantiveram as suas características e funções durante o Bronze Final, sendo contemporâneos do Outeiro do Circo, integrando-se naturalmente na sua esfera de influência, eventualmente sob a sua dependência directa.
As comunidades que habitaram o Outeiro do Circo, assumiriam a gestão de um vasto território, cuja diversidade de formas de exploração e utilização, começa a ser um pouco mais perceptível.
Os novos dados permitem equacionar a existência de uma verdadeira rede de povoamento hierarquizada e polarizada em torno de um sítio principal, devidamente fortificado e de enormes dimensões, que assumiria o papel de organização e controle de um vasto território que seria preenchido por diversos sítios de dimensões variáveis, situados em zonas planas, que teriam acesso directo aos recursos naturais, nomeadamente aos agropecuários, que explorariam. Num outro nível de análise, será ainda de supor a existência de pequenas quintas ou granjas, de ambiente familiar, aparentadas aos povoados abertos, quer ao nível da estratégia de implantação, quer no tipo de elementos constituintes, mas de dimensão inferior, que complementariam o povoamento da região.
Para completar o quadro do quotidiano destas populações, falta-nos ainda conhecer outro tipo de espaços, como as necrópoles, onde foram sepultados os habitantes do Outeiro do Circo (os habitantes dos povoados abertos, enterrariam os seus mortos, preferencialmente no próprio local, como sugere o aparecimento de enterramentos em fossas), ou as vias de comunicação, aqui entendidas como caminhos naturais, por onde circulariam bens e pessoas ou os espaços rituais, que para além dos existentes no interior do povoado (se entendermos as rochas com covinhas a partir de uma perspectiva simbólica) poderiam ocorrer em diversos tipos de lugares, como rios, colinas, etc.

Bibliografia:
Antunes, Ana Sofia, Deus, Manuela de, Soares, António Monge, Santos, Filipe, Arêz, Luís, Dewulf, Joke, Baptista, Lídia e Oliveira, Lurdes (no prelo), Povoados abertos do Bronze Final no Médio Guadiana, Encontro Sidereum Ana II, Maio de 2008.
Oliveira, José Tomás (coord.), (1992), Notícia explicativa da Folha 8 da Carta Geológica de Portugal, Direcção Geral de Geologia e Minas, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.
Porfírio, E. e Serra, M. (2009), Conduta Santa Vitória, Mombeja, Beringel (Beja). Sondagens Arqueológicas – Reservatório de Mombeja (Arroteia 1). Relatório Final. Relatórios Palimpsesto.
Santos, Filipe J. C., Arêz; Luís, Soares; António Monge, Deus, Manuela de, Queiroz; Paula F, Valério, Pedro, Rodrigues, Zélia, Antunes, Ana Sofia, Araújo, Maria de Fátima (2008) O Casarão da Mesquita 3 (S. Manços, Évora): um sítio de fossas “silo” do Bronze Pleno/Final na encosta do Albardão, Revista Portuguesa de Arqueologia, vol. 11, n.º 2, pp. 55-86.
Serra, M. e Porfírio, E. (no prelo), O povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Mombeja, Beja). Balanço de 2 anos de investigação, IIº Encontro de Jovens Investigadores, Universidade do Porto, CEAUCP/CAM, 9, 10 de Abril de 2010.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

V Congresso de Arqueologia do Sudoeste - Posters

Metais da Idade do Bronze do Museu de Beja.
Carlo Bottaini (FLUC; CEAUCP-CAM), Miguel Serra, Eduardo Porfírio (Palimpsesto, Lda.; CEAUCP-CAM)



Resumo
Apesar da intensidade de ocupação durante toda a Idade do Bronze nesta região, atestada pelo grande número de achados e sítios arqueológicos, os artefactos metálicos revelam-se escassos, documentando uma metalurgia de pequena escala efectuada em âmbito doméstico.
No Museu Regional Rainha Dona Leonor, em Beja, encontram-se depositados diversos materiais metálicos da Idade do Bronze procedentes da zona de Santa Vitória e Ervidel, conhecidas pela presença de importantes núcleos de necrópoles de cistas.
Apresenta-se o levantamento de todo o conjunto artefactual de metais deste período, no âmbito de novo estudo que pretende uma integração mais rigorosa, quer cronológica quer espacial, na realidade cultural do Bronze do Sudoeste na região de Beja.



Introdução
O presente trabalho resulta da necessidade dos autores efectuarem uma revisão dos conhecimentos sobre os metais da Idade do Bronze da região Oeste de Beja, em função das investigações desenvolvidas por estes num quadro de formação académica avançada e pelos trabalhos efectuados pelos signatários no âmbito do projecto “A transição Bronze Final / I Idade do Ferro no Sul de Portugal. O caso do Outeiro do Circo”.
Esta abordagem centra-se apenas no conjunto de peças existente no Museu Regional Rainha Dona Leonor, em Beja, mas pretende integrar os restantes elementos recolhidos nesta área geográfica.



Contextualização histórica
A zona ocidental dos “Barros Negros” é reconhecida pela presença de importantes achados e estações arqueológicas da Idade do Bronze do Sudoeste, nomeadamente as várias necrópoles de cistas do Bronze Médio que se concentram em dois importantes núcleos, a Norte, na Ribeira da Figueira e a Sul, na Ribeira do Roxo (Parreira, 1995: 132) e o imponente povoado do Outeiro do Circo com ocupação do Bronze Final (Serra et al., 2008). Neste vasto território também são conhecidos diversos achados casuísticos integráveis neste período, assumindo maior expressão a existência de diversas estelas (Barceló, 1991).
Actualmente assiste-se a um aumento exponencial de informação sobre a ocupação deste período na região, com a recente detecção de diversos povoados abertos de planície (Antunes et al., no prelo).
Os artefactos metálicos da Idade do Bronze nesta região pecam pela escassez, sendo sobretudo conhecidos pela sua associação a necrópoles.
Os primeiros metais referidos são os machados e o escopro da Mina da Juliana (Veiga, 1886: IV, 211), os dois punhais e o punção de Ervidel (Vasconcellos, 1927-29: 202) e um conjunto diversificado que inclui machados, punhais e uma ponta de dardo da região de Santa Vitória (Viana, 1944: 163, 164).
É apenas em meados do século XX que surgem os primeiros metais em contexto de escavação, na necrópole do Ulmo (Santa Vitória), onde são exumados dois punhais e um punção (Viana e Ribeiro, 1956). Um outro punhal descoberto anos mais tarde é também integrado numa necrópole (Medarra, Ervidel), apesar de se tratar de uma oferta (Ribeiro, 1966-67: 386).
A única peça proveniente do povoado do Outeiro do Circo e recolhida em prospecções corresponde a um cinzel (Parreira e Soares, 1980:115).
Na colecção do Museu Regional Dona Leonor em Beja encontram-se algumas das peças recolhidas nesta região, mas com pouca relevância quando comparadas com os restantes elementos integráveis no Bronze do Sudoeste.
É de referir ainda a presença de outras peças provenientes do Alto Alentejo, mais concretamente da região de Fronteira e que revelam o interesse de Fernando Nunes Ribeiro na Idade do Bronze de outras áreas geográficas como forma de tecer comparações com as realidades por ele documentadas mais a Sul.

Descrição do material
No Museu Regional Rainha Dona Leonor foi possível aceder a 11 peças atribuíveis à Idade do Bronze (Tabela 1). O material não tem número de inventário atribuído, pelo que decidimos associar-lhe uma referência nossa.
O contexto de proveniência e as circunstâncias em que os achados ocorreram são, na maioria dos casos, desconhecidos: apenas Bej_3 e Bej_7 apresentam alguma informação a este propósito.
O grupo mais representativo é o dos machados (Bej_1 a Bej_6), todos eles planos, tipologia bastante comum na área de estudo. À excepção de Bej_3, a falta de informações relativas aos contextos de procedência e às circunstâncias em que os achados ocorreram impede-nos avançar com mais detalhes.
O machado plano da Mina da Juliana – Bej_3 – procede de uma mina de cobre onde “…em muita profundidade fôram encontrados alguns machados e escopros de bronze, assim como calháos espheroidaes de pedra (percutores)…” (Veiga 1891: IV, 211, fig. XIII, n. 2 e 3).
Há notícia de mais dois machados planos, tipologicamente idênticos, procedentes da Mina da Juliana, sendo que um se encontra no Museu Nacional de Arqueologia (nr. Inv. 10246) enquanto que outro tem paradeiro desconhecido (Monteagudo 1977, n. 690 e 691; Bittel et al. 1969: II, 3, n. 1635).
Os metais da Mina da Juliana estão provavelmente ligados à exploração de minérios de cobre: a deposição de material metálico e/ou lítico em contextos de minas repete-se com bastante frequência, sendo este fenómeno explicável com actividades de extracção (ex. Alte, Algarve ou Quarta-Feira, Beira Alta entre outros).
O punhal Bej_7 foi encontrado ao “…lavrar numa courela próximo de Ervidel…”, em 1966. A peça foi oferecida a Fernando Nunes Ribeiro que teve, no ano seguinte, a possibilidade de averiguar as circunstâncias e o contexto do achado. A peça provinha de uma das sepulturas (n. 1) da necrópole de Medarra composta por um total de seis inumações em cistas. Foi a única em que apareceu metal. Fernando Nunes Ribeiro, com base na tipologia do material recolhido, atribui a necrópole ao Bronze final (1966-67: 388).
Da ponta de lança Bej_8 nada se sabe em relação quer ao contexto quer às circunstâncias do achado.
Bej_9 e Bej_10, apesar da falta de informações relativas ao contexto de proveniência, atendendo à tipologia e ao sítio de origem, Santa Vitória, fariam possivelmente parte de espólios de sepulturas.
Bej_9 é um punhal de cobre arsenical com dois rebites. Apresenta paralelos tipológicos com peças encontradas nalgumas sepulturas da mesma região (Bugalhos, p. ex.) (Soares 2009: 444, fig. 11, n. 4 e 5).
Bej_10 é uma ponta de dardo, em cobre arsenical (2,75 As) com folha sub-triangular percorrida por ligeira nervura central; apresenta longo espigão de secção circular na extremidade distal e quadrangular na parte proximal. Trata-se de objecto bastante raro em contextos ibéricos encontrando-se documentado quer em povoados (Outeiro de São Bernardo, Moura; Cerro dos Castelos de S. Brás, Serpa) quer em necrópoles (dólmen de La Pastora, Sevilla). Do ponto de vista tipológico, alguns autores procuram paralelos com o Mediterrâneo oriental e o Oriente Próximo (Montero Ruiz et al. 1996; Mederos Martín 2000). A ponta de dardo foi atribuída à II Idade do Bronze (Varela et al. 1986). Contudo, desconhecendo qualquer informação relativamente às circunstâncias do achado considera-se especulação avançar com a atribuição cronológica desta peça.
Finalmente, a ponta de seta BEJ_11, tal como os machados Bej_5 e Bej_6, procedentes de Fronteira, excedem o território de nosso interesse.




Nota 1: Em Bittel et al. 1968 constam analisados mais dois machados planos do Museu de Beja. Todavia, a falta de número de inventário e de descrição e/ou desenhos na publicação acima referida, impede-nos a atribuição discriminada a um dos dois machados planos que se encontram no museu. Ambos apresentam prova de que lhes foi retirada amostra. As análises deram o seguinte resultado: >10 (Sn); <>10 (Sn); 0,075(Pb); 0,58 (As); 0,21 (Sb); 0,13 (Ag); 0,1 (Ni); vest. (Bi) para o nr. 2477.

Conclusões
1. O presente trabalho enquadra-se no âmbito do projecto “A transição Bronze Final / I Idade do Ferro no Sul de Portugal. O caso do Outeiro do Circo”.
2. Procedemos ao levantamento de 11 artefactos metálicos atribuíveis, do ponto de vista tipológico, a diferentes períodos da Pré-História recente.
3. Grande parte do potencial informativo do material metálico por nós inventariado andou perdido: de facto, o desconhecimento das em que as peças foram encontradas e os parcos dados sobre os contextos de proveniência torna possível apenas um enquadramento de carácter eminentemente tipológico.

Bibliografia
Antunes A.S. et al., no prelo, “Povoados abertos do Bronze Final no Médio Guadiana”, Sidereum Ana II, Maio de 2008, Mérida.

Barceló J., 1991, “El Bronce del Sudoeste y la cronología de las estelas alentejanas”, Arqueologia, Porto, 21: 15 – 24.

Bittel, K et al., 1968, Studien Zu Den Anfangen der Metallurgie, Man Verlag, Berlin, B. 2, T.3.

Mederos Martín, A., 2000: “Puntas de jabalina de Valencina de la Concepción (Sevilla) y del área palestino-israelita”. Madrider Mitteilungen 41: 83-111.

Monteagudo L., 1977, Die Beile auf der Iberischen Halbinsel, PBF, Munchen.

Montero Ruiz, I. and Teneishvili, T.O. 1996: “Estudio actualizado de las puntas de jabalina del Dolmen de la Pastora (Valencina de la Concepción, Sevilla)”. Trabajos de Prehistoria 53 (1): 73-90.

Parreira R., 1995, “Aspectos da Idade do Bronze no Alentejo Interior”, em A Idade do Bronze em Portugal – Discursos de Poder, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa: 131 – 134.

Parreira R. et al., 1980, “Zu einigen bronzezeitlichen Hohensiedlungen in Sudportugal”, Madrider Mitteilungen, Madrid, 21: 109 – 130.

Ribeiro, F. N., 1966/67, “Noticiário Arqueológico Regional”, Arquivo de Beja, Beja, vol. 23-24: 382 – 389.

Serra M. et al., 2008, “O Bronze Final no Sul de Portugal – Um ponto de partida para o estudo do povoado do Outeiro do Circo”, Actas do 3º Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, Aljustrel, 26 a 28 de Outubro de 2006, Vipasca, Aljustrel, s. 2, n. 2: 163 – 170.

Soares, A. M., 2000, Necrópole do Bronze do Sudoeste de Bugalhos (Serpa), Vipasca, Aljustrel, 9: 47 – 52.

Vasconcellos J. L., 1927/29, “Estudos da época do bronze em Portugal”, OAP, Lisboa, Série 1, vol. 28: 201 – 203.

Veiga E., 1886, Antiguidades Monumentais do Algarve, IV, Imprensa Nacional, Lisboa.

Viana A., 1944, “Museu Regional de Beja: Ferragens artísticas, esculturas de osso, proto-históricas, machados da idade do bronze, ferragens romanas, jóias de ouro, fivelas, amuletos e outros objectos”, Arquivo de Beja, Beja, vol. 1: 155 – 166.

Viana A. et al., 1956, “Notas históricas, arqueológicas e etnográficas do baixo Alentejo”, Arquivo de Beja, Beja, vol. 13: 110 – 167.

sábado, 20 de novembro de 2010

V Congresso de Arqueologia do Sudoeste - Posters

No rescaldo do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste que se realizou nos dias 18, 19 e 20 deste mês em Almodôvar, iremos disponibilizar no blogue ao longo dos próximos tempos, alguns dos posters apresentados e que de algum modo, se relacionam directa ou indirectamente com o Projecto Outeiro do Circo.


Um projecto de arqueologia social em Mombeja (Beja)Eduardo Porfirio e Miguel Serra (Palimpsesto, Lda. / CEAUCP-CAM).

 

Na sua génese o projecto “A transição do Bronze Final/Ferro Inicial no Sul de Portugal – o caso do Outeiro do Circo”, apresentava uma vertente dedicada à interacção com a população, procurando de algum modo, envolvê-la directa ou indirectamente nos trabalhos arqueológicos, evitando o lugar-comum do trabalho científico ser muitas vezes desligado das comunidades onde se insere. Com isto, pretendia-se inscrever o projecto na vivência quotidiana das comunidades, fazendo com que de algum modo, elas o sentissem como seu.
Esta vertente constitui-se também como um meio privilegiado para estruturar um programa cultural de longa duração, que pretende criar raízes e crescer sem perder de vista toda uma série de objectivos relacionados com o desenvolvimento regional e a valorização de bens patrimoniais de cariz local.
Várias instituições e acordos internacionais reconhecem que divulgar e dar a conhecer o património de uma forma estruturada e numa linguagem adaptada ao público-alvo, é uma componente fundamental para a preservação futura desse mesmo património. Deste modo, a divulgação é fulcral para a protecção e qualificação do património arqueológico, não se podendo proteger aquilo que se desconhece (ICOMOS, 1990; Conselho da Europa, 1992; Martín e Sivan, 2010).
A contribuição do património cultural para o desenvolvimento local e regional, é reconhecida desde há muito, no entanto, urge trabalhar no sentido de uma conciliação dos elementos históricos e geográficos individualizadores das localidades com as suas potencialidades económicas. Pretende-se assim, criar uma oferta cultural, regionalmente diferenciada e potencialmente única que proporcione experiências inéditas e distintivas ao turista e contribua para a divulgação do conhecimento sem desvirtuar a componente científica e cultural (Turismo de Portugal, 2007).
Nos dois primeiros anos de projecto (2008/2009), antes que tudo, foi necessário reafirmar localmente a mais-valia histórica e patrimonial do Outeiro do Circo, contrariando a perspectiva de abandono e esquecimento que muitas vezes rodeia os sítios arqueológicos não classificados. Em grande medida isto foi conseguido através da divulgação junto da população local, dos motivos que justificam o interesse que a comunidade científica nacional e internacional tem dedicado a este povoado. Este elemento contribuiu decisivamente para alterar a percepção que os habitantes da área de influência do projecto detinham sobre o sítio arqueológico, funcionando o capital de prestígio das instituições científicas como instrumento certificador da importância deste elemento patrimonial, à escala peninsular.
O processo de divulgação comportou ainda a produção de notas e artigos para a imprensa regional e local, a dinamização de uma campanha intitulada “Visite-nos ou Junte-se a nós” que apelava à participação voluntária nos trabalhos arqueológicos e a realização de visitas guiadas aos trabalhos arqueológicos, contabilizando estas, um total de cento e vinte visitas em dois meses. Foi também concebido uma página no Facebook e um blogue, alojado em www.outeirodocirco.blogspot.com, para divulgar informação relacionada com o projecto num espectro espacial mais alargado.
Visita guiada às escavações do Outeiro do Circo.
 
Participante na Campanha "Visite-nos ou Junte-se a nós".
No geral, procurou-se que estas actividades constituíssem para os participantes uma experiência formativa interessante, fornecendo-se numa linguagem adequada aos destinatários, toda uma série de conhecimentos teóricos e práticos sobre os objectivos e fases do projecto, as características do povoado e respectivo contexto espacial e histórico-cultural, sobre o processo de investigação em arqueologia e de que modo este poder ser rentabilizado a nível local. As repercussões positivas e o interesse demonstrado pelos participantes nas actividades realizadas foram determinantes para a concepção de uma nova fase de actuação, conceptualmente mais aprofundada, assumindo as características de um projecto de educação patrimonial. Este trabalho foi desenvolvido por um dos signatários no âmbito do Mestrado - Arqueologia e Território da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, daí resultando um documento que sistematiza e fundamenta todas as actividades programadas. Sistematização ao nível do discurso e da narrativa utilizados no decurso das actividades de divulgação, para tornar perceptível a importância e o contexto histórico do povoado do Outeiro do Circo. Neste sentido, a inexistência de estruturas arqueológicas escavadas e conservadas, poderia ser um óbice à inteligibilidade da importância do sítio, devido à associação correntemente vulgarizada entre a preservação de elementos estruturais e relevância patrimonial (González Méndez, 1995). Deste modo, a linha de taludes bem evidente no terreno e na fotografia aérea, foi utilizada como elemento central na estruturação do argumento que serve de base às visitas guiadas. Como complemento recorreu-se a alguns dos pressupostos da arqueologia da paisagem, explorando-se a relação de centralidade que o Outeiro do Circo parece desempenhar em relação a um território com grandes potencialidades do ponto de vista agrícola. Alguma da cultura material (cerâmica, elementos de foice e de mós por exemplo) recolhida no decorrer dos trabalhos arqueológicos, pode ser utilizada para reforçar esta perspectiva, que encontra correspondência directa no quotidiano de muitos dos participantes que de um modo ou de outro se relaciona ainda com a ruralidade (González Mendez e Criado Boado, 2000: 56).
A exploração de temáticas relacionadas com a paisagem e o território possibilita igualmente contrariar o carácter unidireccional que muitas vezes regula a relação entre arqueólogos e público (González Marcén, 2010). Neste caso, as comunidades locais são uma fonte de informação insubstituível pois percorrem e trabalham este mesmo território desde há gerações, deparando-se com diversos vestígios do passado e contribuindo com maior ou menor intensidade para a alteração da paisagem.
O projecto tentou salvaguardar e rentabilizar cientificamente algum deste conhecimento, encetando estratégias de colaboração que consistiram na recolha de informações sobre a actividade agrícola e consequentes alterações topográficas no Outeiro do Sítio, sobre vestígios que possibilitem a localização de sítios arqueológicos e também sobre as profundas alterações que a paisagem envolvente sofreu ao longo do século XX com a transformação da charneca em montado e mais recentemente em olival intensivo.
O montado, o olival intensivo e os últimos vestígios da charneca.
Solicitou-se uma participação mais activa, com um apelo à população para colaborar na identificação de locais utilizados como barreiros para a olaria e para fábricas de tijolo. Estas informações serão utilizadas no âmbito da caracterização dos elementos de argila presentes no sistema defensivo do povoado, da responsabilidade de Ana Bica, doutoranda na Universidade de Coimbra e colaboradora do projecto. Deste modo, caminhou-se no sentido de estimular a participação da comunidade local no decurso do próprio processo de investigação, contribuindo para a obtenção de dados que posteriormente serão trabalhados em gabinete e laboratório.
A implementação do novo projecto ao longo do ano de 2010, permitiu desde logo, diversificar as áreas de actuação e rentabilizar o investimento em tempo e recursos através de actividades realizadas em articulação com outras entidades, tais como a Junta de Freguesia de Mombeja, a Associação Juvenil e Cultural de Mombeja e a Biblioteca Municipal de Beja. Em conjunto com as duas primeiras entidades, organizou-se um evento envolvendo os artesãos e artistas da freguesia, em que a participação do projecto materializou-se numa pequena exposição constituída por cartazes, filmes e outro material de divulgação. O projecto Outeiro do Circo apareceu associado com a produção artesanal e artística de Mombeja, numa óptica que privilegia uma concepção abrangente do conceito de património.
                                  Evento em conjunto com os artesão e artistas de Mombeja.
Tornava-se necessário alargar o âmbito espacial da divulgação, apresentando por exemplo o projecto à população da cidade de Beja. Deste modo, articulou-se com a biblioteca desta cidade a realização de uma palestra seguida de debate, dedicada fundamentalmente à apresentação dos resultados de dois anos de trabalhos no Outeiro do Circo na vertente científica e social e uma antevisão das estratégias de investigação e actuação futuras. Este evento foi antecedido de uma exposição com alguma da produção científica alusiva ao projecto, assim como de alguns artigos da imprensa local e regional.
                                                           Exposição na Biblioteca de Beja.

                                  
Palestra na Biblioteca de Beja - Conversas com B de Beja.
Folheto divulgativo.
A estratégia de divulgação do projecto nos meios de comunicação social ampliou-se igualmente, somando à imprensa regional as rádios locais e a televisão. Neste último caso, a concepção de uma reportagem do programa Portugal em Directo da RTP, resultou de um diálogo com os jornalistas, estruturando-se em dois grandes blocos com objectivos diferenciados, um localizado no Outeiro do Circo, dedicado à apresentação dos resultados do projecto e um outro filmado em Mombeja, para dar a conhecer a perspectiva da população e das entidades políticas sobre o decorrer dos trabalhos arqueológicos. A repercussão do repto lançado no final da reportagem, convidando à visita das escavações arqueológicas, materializou-se num incremento do número de visitantes que ascendeu a 80 durante a Campanha de 2010.

"Portugal em Directo" em Mombeja

Ao nível local iniciou-se uma colaboração mensal com o jornal da Associação Juvenil e Cultural de Mombeja, na qual foram sendo apresentados artigos dedicados ao projecto, à investigação em arqueologia e uma série intitulada Viagens pela história da arqueologia de Mombeja, sobre a divulgação do património arqueológico da freguesia, ao mesmo tempo que homenageava as personalidades e instituições responsáveis por esse trabalho.

                                       Jornal da Associação Juvenil e Cultural de Mombeja.



Para o futuro estão planeadas várias actividades nomeadamente uma visita ao Museu Regional de Beja, e uma sessão de divulgação em Mombeja dedicada à apresentação dos últimos desenvolvimentos do projecto e de vários trabalhos realizados pela Palimpsesto Lda. em sítios arqueológicos da freguesia.

Bibliografia:


Conselho da Europa, 1992, Convenção Europeia para a Protecção do Património Arqueológico (revista), http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/legislacaosobrepatrimonio/, (consultado em Outubro 2010)

Conselho da Europa, 2005, Convenção Quadro do Conselho daEuropa Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/legislacaosobrepatrimonio/, (consultado em Outubro 2010)

González Marcén, Paloma, 2010, La dimensión educativa de la arqueología, Memorial Luis Siret - I Congreso de Prehistoria de Andalucía: La tutela del patrimonio prehistórico, http://www.memorialsiret.es/doc/SD-Gonzalez-Dimension-educativa-arqueologia.pdf (consultado em Outubro 2010)

González Méndez, Matilde e Criado Boado, Filipe, 2000, La edad del hierro: de la investigación a la ilustración. Planteamientos y diseño del proyecto de recuperación del castro de Elviña, CAPA, 12, pp. 51-61.

González Mendéz, Matilde, 1995, La concepción de un proyecto de valorización social del património arqueológico. El plan de Toques como referente, Archivo Español de Arqueologia, 68, pp. 225 – 241.

ICOMOS, 1990, Charter for the protection and management of the archaeological heritage, http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/legislacaosobrepatrimonio/, (consultado em Outubro 2010)

Martín, Marcelo e Sivan, Renée, 2010, Patrimonio, turismo y rentabilidad socicultural, Memorial Luis Siret - I Congreso de Prehistoria de Andalucía: La tutela del patrimonio prehistórico, http://www.memorialsiret.es/doc/SD-Gonzalez-Dimension-educativa-arqueologia.pdf (consultado em Outubro 2010).

Turismo de Portugal, 2007, Plano Estratégico Nacional do Turismo – Para o desenvolvimento do turismo em Portugal, Ministério da Economia e Inovação, Lisboa.

sábado, 30 de outubro de 2010

O povoado do Outeiro do Circo foi alvo de uma referência especial no âmbito da conferência "Ecos do Extremo-Ocidente na transição do II para o I milénio a. C." da autoria de Raquel Vilaça e Carlo Bottani, respectivamente consultora e colaborador do projecto. Esta conferência surge no contexto do projecto científico luso-italiano: Ai confini della terra di Gerione: le relazione tra il Portogallo atlantico e il Mediterraneo centrale alle soglie della colonizzazione fenicia.


domingo, 26 de setembro de 2010

Outras perspectivas sobre o Outeiro do Circo

Muitos têm sido aqueles que visitam o Outeiro do Circo e registam fotograficamente momentos ou pormenores que aparentemente não estão relacionados com a prática arqueológica. Algumas destas fotografias que descobrimos na internet, dão testemunho dos ritmos cíclicos da natureza que desde sempre influenciaram o tempo das sociedades humanas. A compreensão do modo como esta interrelação se materializa no quotidiano das populações do passado e se manifesta nas esferas do simbólico, faz sem dúvida, parte das nossas preocupações enquanto arqueólogos.

Do blogue nestemar.

Do blogue cidades invisíveis.

Projecto Outeiro do Circo - Campanha de 2010 - Arquivo de Media

No momento em que ainda se faz o balanço da Campanha deste ano, colocámos na nossa página do Facebook, dois arquivos de áudio relativos às Notas de Imprensa difundidas pela Rádio Pax (101.4 FM, Beja) e um de vídeo com a reportagem exibida no Portugal em Directo (RTP) de 9 de Agosto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As escavações da Campanha de 2010 vistas pelo fotógrafo António Cunha








Nota: Todas as fotografias são da autoria de António Cunha, a quem agradecemos a autorização para as publicar e difundir salvaguardando devidamente a autoria. Obrigado!

V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular

Vai ter lugar entre 18 e 20 de Novembro, o V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular a realizar em Almodôvar.


O projecto Outeiro do Circo estará presente com a apresentação da comunicação:

O Bronze Final nos “Barros de Beja”. Novas perspectivas de investigação.
Miguel Serra e Eduardo Porfírio (Palimpsesto, Lda. / CEAUCP-CAM); geral@palimpsesto.pt

Resumo: No âmbito do projecto de investigação “A transição Bronze Final / Iª Idade do Ferro no Sul de Portugal: o caso do Outeiro do Circo”, têm vindo a ser realizadas escavações no emblemático povoado fortificado do Outeiro do Circo, que possibilitam o estabelecimento de novas considerações sobre o povoamento de altura durante o Bronze Final. Estas intervenções centradas numa zona de talude na parte Sudoeste do povoado, têm permitido documentar um sistema defensivo, que conjuga arquitecturas de terra e de pedra num possível complexo de rampas.

As informações obtidas no terreno, têm sido conjugadas com a realização de trabalhos de fotointerpretação, encarados como um auxiliar precioso para conhecer os limites e a morfologia das muralhas do Outeiro do Circo no conjunto dos seus 17 ha. Assim, tem sido possível definir de forma mais precisa o prolongamento de troços duplamente muralhados e uma área de entrada defendida com dois bastiões anexos à muralha.

Para além da ocupação no Outeiro do Circo, assiste-se actualmente a um grande incremento de dados sobre o IIº milénio num vasto território envolvente, possibilitado por intervenções de emergência associadas a grandes projectos públicos como o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Surgiram grandes novidades relacionadas com a ocupação de planície, revelando uma intensa ocupação do território através de estratégias complexas, materializadas nos povoados abertos de fossas. As novas perspectivas de investigação que este conjunto de informações possibilita, lança-nos o desafio de procurar compreender as estratégias de povoamento ao longo da Idade do Bronze nesta região.

Será também apresentada uma comunicação referente a um sítio da Idade do Bronze intervencionado pela empresa Palimpsesto, Lda., mas que integra também o âmbito da investigação do projecto:

Arroteia 6 (Mombeja – Beja) no contexto da Idade do Bronze do Sudoeste Peninsular.
Eduardo Porfírio e Miguel Serra (Palimpsesto, Lda.); geral@palimpsesto.pt

Resumo: Durante os trabalhos de minimização de impactes sobre o património, a cargo da Palimpsesto, Lda., decorrentes do projecto “Conduta Santa Vitória, Mombeja, Beringel”, relativo à implantação de condutas de abastecimento de água às freguesias rurais do concelho de Beja, da responsabilidade da EMAS, EEM, foram detectados vestígios de estruturas escavadas no caliço brando da região que revelaram materiais genericamente enquadráveis na Idade do Bronze.

A intervenção arqueológica permitiu identificar duas áreas de interesse, ambas sob a designação de Arroteia 6, das quais uma apresentava-se bastante afectada pela intensa actividade agrícola característica desta região dos “Barros Negros”, não permitindo definir com rigor o contexto arqueológico a que se reportava, mas documentando a existências de níveis com materiais cerâmicos da Idade do Bronze. A segunda área escavada, permitiu a identificação de uma estrutura negativa de tipo silo/fossa, cujos enchimentos embalavam diversos materiais, entre os quais se destaca um conjunto taças carenadas enquadráveis no Bronze Final.

A análise espacial e morfológica da envolvente à área de intervenção permite considerar que estes vestigíos se podem integrar no grupo dos povoados abertos de fossas da Idade do Bronze, semelhantes a outros recentemente identificados nas regiões vizinhas de Beringel e Trigaches.
De facto, a área envolvente desenvolve-se numa plataforma homogénea de planimetria elipsoidal, composta por terrenos férteis integráveis nos solos de tipo “Barros Negros”, próxima de linhas de água sazonais, revelando a mesma estratégia de implantação de outros sítios semelhantes.

O povoado deverá ocupar parte ou a totalidade desta plataforma, apesar da intervenção apenas ter detectado uma estrutura, situada nos limites desta área.

Pretende-se efectuar igualmente algumas considerações sobre a eventual contemporaneidade entre este sítio e o povoado do Outeiro do Circo, bem como a relação entre ambos, integrando-os na rede de povoamento que começa a emergir nesta região.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nova Secção: Colaboradores.

Iniciamos uma nova secção deste blogue designada "Colaboradores", na qual iremos convidar vários investigadores a participar com pequenos artigos dedicados directa ou indirectamente ao Outeiro do Circo.

A primeira contribuição é da autoria de Gérard Chouquer, membro do CNRS-INSHS e professor de arqueogeografia no Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra e é dedicada à questão dos parcelários pré-romanos do Alentejo.

Seria de bom tom realizar uma breve apresentação da obra de Gérard Chouquer, no entanto, a intensa actividade académica e a proficuidade da sua produção científica, em conjunto com o nosso desejo de não cometer falhas leva-nos a remeter para os seguintes links do sítio Archéogéographie:



Resta-nos agradecer a Gérard Chouquer pela sua disponibilidade incondicional em aceitar o nosso repto para inaugurar esta rubrica.

La recherche des parcellaires préromains en Alentejo: une question de méthode en archéogéographie.

Cette brève présentation est issue d’un cours de photo-interprétation que j’ai donné à l’Université de Coimbra en 2009 et en 2010. Je remercie Miguel Serra de m’avoir proposé de la publier sur le blog d’Outeiro do Circo.

On peut penser que la recherche de vestiges ou de traces de parcellaires datant de l’Âge du Bronze ou des deux Âges du Fer dans la péninsule ibérique est tout simplement impossible. On n’espère pas, en effet, rencontrer des formes fossilisées visibles sur le terrain comme le sont celles du Dartmoor ou du Bodmin Moor en Cornouailles (Fleming 2008). De même, on n’imagine pas que des campagnes de prospection aérienne ou la pratique patiente de la photo-interprétation puisse donner, par des traces visibles sur des photographies aériennes, des résultats comparables à ceux qu’on obtient plus au nord, en France, aux Pays-Bas, dans les pays germaniques ou scandinaves et dans les Îles Britanniques, ou même dans des pays méditerranéens, comme dans le Tavogliere des Pouilles en Italie du sud, où des indices extrêmement nombreux ont permis la lecture de formes du Néolithique et de la Protohistoire.

Cette brève note a néanmoins pour but de tenter d’ouvrir une brèche dans cette opinion un peu compacte, bien que en partie fondée. En effet, je souscris pleinement au constat de la difficulté que présente la recherche dans les pays ibériques. Mais il me semble qu’une recherche expérimentale pourrait être de nature à modifier quelque peu l’idée. Le problème, selon moi, est de nature méthodologique et non historique. Autrement dit la question n’est pas de se dire qu’il n’y a peut-être pas eu de parcellaires ou de planimétries à ces hautes époques, mais plutôt de se dire qu’on ne sait pas bien comment les chercher ni ce qu’il faut voir.

D’autres chercheurs ont déjà tenté cette recherche. Ricardo González Villaescusa, par exemple, s’est interrogé sur le fait de savoir s’il y avait possibilité d’identifier des formes protohistoriques ibériques dans le Levant espagnol (González Villaescusa, 2002).

En choisissant quelques exemples dans l’Alentejo, au sud du Portugal, il me paraît possible de suggérer que la recherche de formes planimétriques anciennes est du domaine du possible, et qu’ensuite ces formes peuvent, avec toute la prudence qui s’impose, être éventuellement rapportées à des périodes préromaines.

Pour la bonne lecture de cette note, on suggère au lecteur d’afficher les missions indiquées (Google Earth ; Live Search Maps) sur son ordinateur et effectue les agrandissements nécessaires pour mieux voir les traces dont il est question.

Lombador

Dans ce modeste lieu du sud de l’Alentejo, la disposition actuelle du parcellaire est un éventail de grandes parcelles triangulaires centrées sur le village. Mais lorsqu’on effectue des agrandissements significatifs de l’image de Bing Maps (Live Search Maps), quasiment à la limite de la résolution, la texture de l’image met en évidence de très nombreux alignements fossiles dont la plupart correspondent à des parcellaires ou à des modelés agraires disparus.

Par exemple, dans le schéma d’interprétation donné ci-dessous, les traces vertes sont à mettre en relation avec le parcellaire médiéval et moderne. Mais les traces rouges sont discordantes et soulignent une phase antérieure du dessin parcellaire. Bien entendu il est ici complètement impossible de spéculer sur l’ancienneté ni même l’exacte contemporanéité de ces traces. Il n’y a pas de forme remarquable, pas de métrologie particulière qui attirerait l’attention sur telle ou telle strate. L’exemple n’a pas d’autre ambition que de démontrer la possibilité de lecture de très nombreuses traces fossiles ? Qu’on en fasse l’inventaire, qu’on en dresse la cartographie et il sera alors possible d’évaluer ou non la pertinence d’une recherche.
Fig. 1 - Lombador, Alentejo méridional. Partie sud-ouest du terroir. Nombreuses traces parcellaires et viaires fossiles. Cliché disponible sur Bing Maps (Microsoft Virtual Maps), non daté.

Fig. 2 - Lombador. Interprétation du cliché précédent.

Serpa

Voici un autre exemple, du même genre. Au sud de Serpa, dans des charnecas dénudées et livrées à la culture situées à l’est de la Quinta de São Brás, une véritable transparence de l’image aérienne disponible permet des lectures de paléoformes.

Le schéma d’interprétation de cette zone offre, en plus du parcellaire actif contemporain, deux autres orientations parcellaires utiles pour reconstituer d’éventuelles planimétries agraires anciennes.

Fig. 3 - Serpa, Alentejo. Quinta de São Brás. Dans une zone de parcellaire remembré, nombreuses informations sur l’état ancien du parcellaire et de la voirie. Cliché disponible sur Bing Maps, non daté.

Fig. 4 - Serpa, Alentejo. Quinta de São Brás. Interprétation du cliché précédent.

Outeiro do Circo

Avec cet exemple, il est possible de franchir un pas supplémentaire. Il est inutile de présenter ce site majeur de la fin de l’âge du Bronze aux lecteurs de ce blog, ni même de leur dire combien une utilisation intelligente de l’image aérienne permet d’avancer dans la connaissance de l’oppidum : il suffit de lire l’article « Photo-interprétation à Outeiro do Circo ».

Mon but est de montrer que les environs de l’oppidum sont porteurs d’une information paléo-planimétrique intéressante qui peut apporter des connaissances sur des états antérieurs de l’occupation du sol.

Le parcellaire du XXe s., observable sur les plus anciennes photographies aériennes, est de forme géométrique courante, traduisant des divisions d’époque moderne. Il ne transmet donc pas d’informations plus anciennes. Pour cette raison, l’identification de formes plus anciennes ne peut se faire que par des indices appropriés en photo-interprétation : traces d’humidité sur sols nus ou de coloration et de hauteur dans les végétaux.

Fig. 5 - Le parcellaire actuel autour de Outeiro do Circo. Document G. Chouquer.

Les diverses missions disponibles donnent des informations, notamment sous la forme de marques humides sur le sol. On peut utiliser la mission en Noir et Blanc de 1984, ou celle de 2006 sur Gooogle Earth.

Et c’est ici qu’apparaît le problème méthodologique. L’observation des images laisse apparaître très nettement une espèce de trame paléohydrographique très fortement diffusée dans l’espace et microdivisée, qui est traduite sur les images par de très vifs indices hygrographiques (damp marks de la terminologie anglaise). Peut-on considérer que ces traces sont uniquement des formes hydrographiques?

Fig. 6 - Beringel, à l’est du gisement de Outeiro do Circo. Détail de la mission de 2003 mise à disposition sur Google Earth. L’échelle linéaire est de 500 m.

Fig. 7 - Beringel, Outeiro do Circo. Interprétation exclusivement hydrographique du cliché précédent. L’échelle linéaire est de 500 m.

Nous pouvons, au contraire, considérer que la densité et la forme de cette trame suggèrent d’anciens modes d’organisation agraire. Deux aspects peuvent attirer l’attention :


— La forme croisée des lignes désigne non pas une forme hydrographique entièrement naturelle, mais une forme probablement hybride, hydro-parcellaire.


— La présence de traces humides épaisses, mais dont une limite est en ligne droite, et ceci sur le côté aval de la pente, suggère une limite, un effet de barrière, ou un obstacle à la libre circulation de l’eau en surface. Cette barrière, c’est une limite (fossé, haie, terrasse selon les cas) qui a longtemps retenu les feuillages, l’humidité et créé localement un milieu différent dont la marque est ainsi visible sur des images aériennes.

C’est ainsi que d’anciennes limites agraires peuvent être repérées, mêmes après leur disparition.

Fig. 8 - Beringel, Outeiro do Circo. Lecture de l’effet de barrière dans la circulation des eaux de ruissellement, permettant de mettre en évidence d’anciennes limites agraires.

Dans ces conditions, nous pouvons proposer une cartographie plus vraisemblable des traces d’humidité qui associe un réseau hydrographique et un parcellaire.

Fig. 9 - Beringel, Outeiro do Circo. Les marques soulignées par la couleur marron renvoient à un probable parcellaire de type hydro-parcellaire.

La carte suivante exploite cette piste pour l’ensemble de la zone entourant le site de Outeiro do Circo. Ce relevé propose différentes informations : des voies dessinant un croisement à l’est du site de l’oppidum ; de nombreuses traces de limites parcellaires. Comme ces traces n’ont rien à voir avec la planimétrie actuelle, nous sommes donc en présence d’une strate archéologique.


Bien entendu, un relevé de photo-interprétation ne donne pas la date des éléments, ni ne donne d’éléments pour attester ou non la contemporanéité de toutes ces traces. Il faut, à cette étape, relayer la recherche en changeant de méthodologie.

Fig. 10 - Mombeja et Beringel, Outeiro do Circo. Relevé des traces de voies et de parcellaires fossiles visibles sur les missions aériennes.

En guise de conclusion....

Ces quelques exemples suggèrent que la recherche sur les planimétries préromaines en Alentejo - habitats, voies et parcellaires - doit passer par une phase de cartographie de tous les indices lisibles sur les missions aériennes. La méthodologie revient à constituer des cartes de compilation, à la plus grande échelle possible, afin de lire les détails. Cette cartographie ne répond pas définitivement à la question de l’identification ni à celle de la datation des parcellaires, mais elle est néanmoins un passage obligé de la recherche.

Lexique

Carte de compilation
Carte sur laquelle on reporte toutes les informations utiles lues sur les missions aériennes et les cartes, afin de disposer d’une représentation à la même échelle. Avec des outils de superposition comme Adobe Illustrator, ou mieux, avec un SIG, on peut réaliser cette superposition film par film et disposer d’un précieux outil de travail et de comparaison.

Hydroparcellaire, fluvioparcellaire, trame fluviaire
Ces termes hybrides qui associent à chaque fois un mot désignant le réseau hydrographique (hydro/ fluvio) et un autre désignant la trame parcellaire ou viaire désignent des formes dans lesquelles l’interpénétration entre les éléments naturels et les éléments socialement construits atteint un degré tel qu’il est sans intérêt de chercher à séparer le physique du social. Ainsi, beaucoup de trames parcellaires construites par les habitants et les agriculteurs ne sont que l’aménagement de réseaux naturels de circulation en surface des eaux.

Indice hygrographique
Trace d’humidité en surface individualisée par rapport à un contexte plus sec, et qui peut traduire une forme disparue. Les indices hygrographiques révèlent le plus souvent des paléochenaux et des parcellaires.

Métrologie
Analyse des mesures et de leur éventuelle répétition (ce qu’on nomme périodicité) dans une trame quelconque. La métrologie est l’un des volets de l’analyse de morphologie agraire (ou urbaine).

Parcellaire actif / fossile
On nomme parcellaire actif le parcellaire en usage au moment de la prise de vue. Il s’oppose au parcellaire fossile, fortuitement préservé ou réapparu grâce à des indices d’humidité ou de coloration de la végétation.

Planimétrie.
On donne à ce terme son sens premier en géographie : tout ce qui, à la surface de la terre, n’est ni l’orographie (relief), ni l’hydrographie (cours d’eau), c’est-à-dire l’habitat, les voies de communication, le parcellaire, les modelés agraires, les divers monuments. Lorsqu’on réalise une analyse de morphologie agraire on ne travaille pas exactement sur un “paysage” mais sur un ensemble de formes planimétriques.

Bibliographie

Andrew FLEMING, The Dartmoor reaves. Investigating prehistoric land divisions, ed. Windgather Press, 2008 (1ère édition en 1988), 224 p.


Ricardo GONZÁLEZ VILLAESCUSA, Las formas de los paisajes mediterráneos, Universidad de Jaén, 2002.
Site de l’archéogéographie : www.archeogeographie.org

Gérard Chouquer
Directeur de recherches au CNRS-INSHS
et professeur d’archéogéographie à l’Université de Coimbra
(juillet 2010)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Campanha 2010: testemunhos

Pelo 3ºano consecutivo integro a equipa de voluntariado das escavações do Outeiro do Circo. É já um marco de passagem nesta minha jornada de formação académica.
A cronologia e a dimensão do povoado foram determinantes na minha decisão de participar, revelando-se a escavação do sítio ainda mais determinante para a minha vontade de continuar.
A complexidade de compreensão da escavação exige grande empenho e dinamismo, proporcionando uma constante aprendizagem.
Não posso deixar de referir a equipa de escavação que para além de ser motivadora e agradável fomenta o conhecimento em arqueologia…e não só!!!
É de salientar também a simpatia da população de Mombeja, bem como a excelente gastronomia.
Espero por novas campanhas e novas descobertas.

Saudações arqueológicas.

Sofia Silva
Arqueóloga, licenciada pela Universidade de Coimbra (2010)

Sendo este o meu segundo ano de comparência nas campanhas do projecto do Outeiro do Circo, saliento que todo o ambiente envolvente é de certeza um chamativo à participação nesta investigação. Desde a complexidade e monumentalidade do sítio arqueológico em si, à agradável equipa de participantes, aliada à boa cozinha alentejana, o incentivo à minha participação e continuidade neste projecto cresceu e cresce de ano para ano.
Aguardo com expectativa o desenrolar do processo de investigação e como tal a minha continuada cooperação.
Beijinhos e abraços
Felicidade e alegria
Haja vinho e chaves de casa
Diana Fernandes
Arqueóloga, licenciada pela Universidade de Coimbra (2010)



Antes de mais, gostaríamos de agradecer, aos arqueólogos Miguel Serra e Eduardo Porfírio por nos terem aceite para trabalharmos no seu projecto. Foi de facto extremamente importante para nós, pois permitiu-nos, pela primeira vez, entrar em contacto com o trabalho de campo arqueológico e poder assim perceber melhor toda a teoria relacionada com o Bronze Final e métodos de escavação leccionada ao longo do ano lectivo e assim aplicá-los. Apesar da Universidade nos dar uma bagagem essencial, existem coisas que só com a prática é que vamos aprendendo! Portanto, aconselhamos vivamente a todos os alunos do curso de arqueologia, a procurar escavar nas suas férias, pois para além da aprendizagem, uma escavação permite-nos conhecer novos sítios, novas pessoas, criando-se laços de união.
Exemplo do que mencionamos anteriormente, foi a formação que nos foi dada pelas nossas colegas Diana e Sofia, de topografia, ou as noções de desenho de campocom o arqueólogo Miguel, ou mesmo até de como procedermos numa escavação, com a ajuda de todos os elementos que integraram a 2ºcampanha.
Apesar das dificuldades iniciais, que sucedem a qualquer pessoa que se aventure pelo mundo arqueológico, o Alentejo, com as suas temperaturas elevadas, um solo duro, adicionando o chamado "vento das cinco", o abrir de pulsos e ainda a questão que se faz inevitavelmente nos primeiros dias agrestes "Será que é isto que quero para a minha vida?", a experiência no Outeiro do Circo valeu a pena, sendo de realçar a hospitalidade da população de Mombeja, e ainda mais importante o receber bem do grupo de arqueólogos."

Ana Tavares e Vera Leal
Estudantes do 1ª ano de Arqueologia na Universidade de Coimbra


Participar na campanha de 2010 do Outeiro do Circo foi deveras interessante. Todos estes dias passados em Mombeja, na companhia de todos os envolvidos foi bastante gratificante, em especial trabalhar com pessoas tão perseverantes e dedicadas como o Miguel e o Eduardo. Sinto que aprendi muito com eles e com todos os companheiros de campanha. Um muito obrigado a todos.
Posso dizer que chegando ao fim deste período de campanha, desta experiência, me será difícil desligar deste grande projecto, não só pelo que descrevi acima, mas também por se tratar de um período e de sociedades que me despertam bastante curiosidade.
Outro dos aspectos agradáveis foi o dia-a-dia em Mombeja e o convívio com os seus habitantes. Em especial pelas senhoras da Associação de Solidariedade Mombejense, que nos tratavam sempre tão bem com os seus preparados culinários.
Acabo assim este pequeno comentário dizendo que será sempre um prazer voltar ao Outeiro do Circo, mesmo que faça ainda mais calor e a terra fique ainda mais dura.
Mais uma vez obrigado a todos os envolvidos neste fantástico projecto.


Luís Costa
Estudante do 1ª ano de Arqueologia na Universidade de Coimbra