O ano de 2021 correspondeu ao fim de um ciclo de investigação sobre o povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo que se iniciou em 2008. O ano passado também assistiu ao final do projeto de investigação que arrancou em 2019.
No respeitante aos trabalhos de campo, o verão de 2021 marcou o fim das escavações arqueológicas no Outeiro do Circo no âmbito do projeto de investigação em curso. Os trabalhos permitiram definir um troço da muralha da Idade do Bronze em bom estado de conservação e que apresentava um esquema construtivo semelhante ao detetado em trabalhos anteriores, mas com algumas diferenças importantes.
A muralha é composta por um muro situado na parte mais elevada do talude, com cerca de 2,5 metros de largura, claramente delimitado por dois alinhamentos regulares de pedra e com o seu interior preenchido por um enchimento de pedra e terras de tom claro com muitas cinzas, que indicam ação do fogo.
A inclinação do talude é preenchida por uma rampa de barro cozido que termina junto a um muro de contenção na zona exterior.
Na zona mais interior da área de escavação detetou-se um alinhamento de pedras paralelo à muralha e um nível de barro cozido que forma um espaço aplanado junto ao alinhamento de pedras. A compreensão da funcionalidade destas duas estruturas só poderá ser clarificada com a prossecução das escavações nos próximos anos.
Os trabalhos de escavação permitiram também a recolha de um vasto conjunto de materiais, sobretudo cerâmicas do Bronze Final e restos de faunas, para além de um pequeno conjunto de fragmentos de cobre ou bronze, e alguns artefactos em pedra ligados a atividades agrícolas, como dormentes de mós e denticulados de foice.
Durante a campanha de escavações foi promovido o habitual ciclo de Barferências, conferências científicas em regime informal destinadas ao voluntários, e que incidiram em temas tão distintos como a zooarqueologia, a divulgação patrimonial ou a fotogrametria aplicada ao património.
Realizaram-se também outras ações de formação, com destaque para uma visita ao Museu Regional de Beja para assistir a trabalhos de levantamento digital de estelas da Idade do Bronze.
No plano de divulgação da campanha de 2021 incluíram-se ainda algumas visitas com os voluntários a monumentos e museus da região e a participação num percurso pedestre na aldeia de Mombeja, organizado pela Câmara Municipal de Beja.
Apesar das limitações impostas pela pandemia, os trabalhos de campo tiveram
visitas regulares registando-se a presença de 74 visitantes durante o mês de Agosto e a atenção dos
meios de comunicação com a realização de três reportagens televisivas.
Em relação à produção científica o ano de 2021 possibilitou a participação em diversos encontros como as jornadas internacionais "Amanhar a Terra - Arqueologia da Agricultura (do Neolítico até ao período medieval)", em Palmela, com uma comunicação sobre as evidências arqueológicas relativas a práticas agrícolas e pecuárias documentadas no Outeiro do Circo, o XXI Curso de Verão do Centro de Estudos Ibéricos, da Guarda, dedicado ao tema "Novas fronteiras, outros diálogos: cooperação e desenvolvimento", com a comunicação "Projeto Arqueológico Outeiro do Circo (Beja. Portugal): educação patrimonial e envolvimento comunitário", o XI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, em Loulé, com uma apresentação de balanço dos trabalhos de 2019 a 2021 e as VI Jornadas de Pré e Proto-história da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com apresentações nas sessões sobre "Territórios e Paisagem: formas de perceção e construção" e "A (in)transmissibilidade do conhecimento a nível social".
Para além das participações enunciadas, o Projeto Outeiro do Circo organizou um colóquio de balanço dos trabalhos realizados entre 2008 e 2021, que decorreu em Outubro no Museu Regional de Beja e contou com a participação de diversos investigadores ligados ao Outeiro do Circo.
Foram publicados dois artigos, o primeiro enquanto capítulo do livro "Between the 3rd and 2nd Millennia B.C: Exploring Cultural Diversity and Change in the Late Prehistoric Communities, coordenado por Susana Lopes e Sérgio Gomes, publicado pela editora Archaeopress, da autoria de Miguel Serra, com o título "A Slow Awakening on the Plain: The Bronze Age in the Beja Region (South Portugal)" e o segundo no âmbito do catálogo do novo Museu de Arqueologia de Alvalade (Santiago do Cacém), "Memórias da terra, das águas e dos povos", da autoria de Miguel Serra e com o título "Guerreiros do Bronze: a Idade do Bronze nas planuras do Sado".
Diversos outros artigos entregues em 2021 aguardam ainda publicação, de que daremos conta nas respetivas ocasiões.
Em termos de
divulgação destaca-se a participação na iniciativa "
Há vida no Museu", organizada pelo Museu D. Diogo de Sousa no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, com a realização de um vídeo sobre a parceria entre o Projeto Outeiro do Circo e este museu sobre o apoio ao tratamento do espólio resultante das escavações no Outeiro do Circo e à realização de diversas ações de divulgação patrimonial.
Foram ainda produzidos alguns conteúdos online de divulgação dedicados ao público em geral, centrados em jogos didáticos inspirados na investigação científica sobre o Outeiro do Circo, como puzzles e jogos de memória.
No final do ano procedeu-se à entrega de um
novo projeto à Câmara Municipal de Beja, que pretende combinar uma série de estudos analíticos com ações educativas, para desenvolver entre 2022 e 2023, do qual se aguarda resposta.
BOM ANO!