Com a devida autorização do autor partilhamos neste espaço um texto de Luís Raposo sobre algumas memórias afectivas que o ligam ao Outeiro do Circo.
Luís Raposo
Raízes alentejanas (2): alguma arqueologia*
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Nas minhas férias em Beringel uma das coisas que me dava mais prazer era ouvir estórias de velhos tempos e dos vestígios que deles ainda existissem – e ninguém mas regateada, dada a fama que já tinha de aficionado das pedras antigas. Depois lá ia eu, a pé ou à boleia de carroça, à procura desses vestígios. Duas das estórias escutadas, conduziram-me a dois sítios arqueológicos. Um esqueci depressa: um poço ou forno que ainda hoje penso ter sido islâmico, junto à estrada para Ferreira, por detrás de uma antiga casa de cantoneiros que creio já ter sido demolida. Outro acompanhou-me durante mais tempo: o povoado do Outeiro do Circo, em Mombeja. Por lá andei durante dois ou três verões. Depois, procurando sobre Beringel e seu termo nos Arquivo Paroquiais, acreditei na minha insensatez juvenil ter feito “descoberta sensacional”: a referência à importância das muralhas do local e ao próprio significado do topónimo ”circo”. Afinal, verifiquei depois que não havia descoberta nenhuma, porque já Mestre Leite de Vasconcelos o tinha visto e até publicado em “O Arqueólogo Português”. Guardei os cacos, mas não esqueci completamente o lugar.
Nas minhas férias em Beringel uma das coisas que me dava mais prazer era ouvir estórias de velhos tempos e dos vestígios que deles ainda existissem – e ninguém mas regateada, dada a fama que já tinha de aficionado das pedras antigas. Depois lá ia eu, a pé ou à boleia de carroça, à procura desses vestígios. Duas das estórias escutadas, conduziram-me a dois sítios arqueológicos. Um esqueci depressa: um poço ou forno que ainda hoje penso ter sido islâmico, junto à estrada para Ferreira, por detrás de uma antiga casa de cantoneiros que creio já ter sido demolida. Outro acompanhou-me durante mais tempo: o povoado do Outeiro do Circo, em Mombeja. Por lá andei durante dois ou três verões. Depois, procurando sobre Beringel e seu termo nos Arquivo Paroquiais, acreditei na minha insensatez juvenil ter feito “descoberta sensacional”: a referência à importância das muralhas do local e ao próprio significado do topónimo ”circo”. Afinal, verifiquei depois que não havia descoberta nenhuma, porque já Mestre Leite de Vasconcelos o tinha visto e até publicado em “O Arqueólogo Português”. Guardei os cacos, mas não esqueci completamente o lugar.
Quando, estando já na Faculdade e direccionado para o Paleolítico, aceitei o desafio e o bom acolhimento em sua casa do António Monge Soares para “fazer prospecções” na Serra de Ficalho e no Chança, às vezes com cenas divertidas que também valerá a pena recordar um destes dias, falei-lhe do Outeiro do Circo… e lá lho fui mostrar. Recolhemos mais cacos, claro. Juntei-os aos que já tinha e entreguei tudo ao Rui Parreira, por ser entre a minha roda de amigos aquele que julgava estar mais vocacionado para os estudar (como realmente veio a fazer, com artigo publicado no "Arquivo de Beja"). Esta estória foi contada mais recentemente por eles os dois, conforme entrevista incluída no blogue do excelente Projecto do Outeiro do Circo, onde se junta de forma exemplar investigação e envolvimento comunitário, e que tem realmente revelado algo que jamais pensaria ali existir: um verdadeiro povoado central do final da Idade do Bronze e inícios da Idade do Ferro – e nem sei bem se já o incorporámos plenamente nos nossos modelos de intelecção desses períodos no Sul de Portugal.
E porque falo do Outeiro do Circo, mais a mais sem fotos antigas, não posso deixar de lembrar nova ida ao local, já “noutra encarnação”, em Julho de 2012, com o Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia: uma jornada magnífica de confraternização com os colegas, a presidente da Junta e as cantadeiras de Mombeja, orgulhosas do seu Coral Feminino.
*Post (texto e fotos) publicado no perfil de Facebook de Luís Raposo