Informa-se que foi aprovado pela tutela o novo projeto de
investigação arqueológica dedicado ao estudo do povoado fortificado do Bronze
Final do Outeiro do Circo (Beja), no âmbito dos Projetos de Investigação
Plurianuais de Arqueologia (PIPA) e que será desenvolvido entre 2014 e 2017.
Este novo projeto vem no seguimento de trabalhos
anteriores realizados entre 2008 e 2013, de forma não continuada, que
consistiram numa primeira avaliação do potencial arqueológico do sítio e da avaliação
do estado de conservação da muralha.
Os trabalhos a serem iniciados em Agosto de 2014 irão
centrar-se no estudo da área interior do povoado, estando programada a realização
de prospeção geofísica seguida da escavação arqueológica das áreas identificadas
com maior potencial arqueológico.
A campanha que terá início no dia 4 de Agosto conta com a
direção científica de Miguel Serra, Eduardo Porfírio (Palimpsesto/CEAACP) e
Sofia Silva (Palimpsesto) e com a participação voluntária de estudantes de
arqueologia da Universidade de Coimbra. Os trabalhos de geofísica serão da responsabilidade
de Bento Caldeira e José Fernando Borges, docentes da Universidade de Évora e
investigadores do Centro de Geofísica de Évora, em colaboração com Samuel Neves
e Rui Oliveira, alunos da mesma instituição. Integram ainda a equipa do
presente projeto, como consultores científicos, os seguintes investigadores:
Raquel Vilaça (Universidade de Coimbra/CEAACP), Virgílio Correia (Museu
Monográfico de Conímbriga/CEAACP), Rui Parreira (Direção Regional de Cultura
do Algarve/UNIARQ) e Sofia Soares (Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Beja/GEOBIOTEC).
O projeto é financiado
pela Câmara Municipal de Beja, e conta com os apoios da empresa de arqueologia
Palimpsesto, Lda. e do Regimento de Infantaria 3 do Exército Português, para
além de diversas colaborações científicas com o Instituto Politécnico de Beja,
Centro de Geofísica de Évora e Laboratório Hércules, ambos da Universidade de
Évora.
Resumo
do projeto:
O projeto “O Povoado do Bronze Final do Outeiro do
Circo (Beja)” pretende-se constituir como a continuação do estudo
monográfico do sítio arqueológico epónimo, dando continuidade às ações de
investigação desenvolvidas no âmbito do PNTA 2008-2011 “A transição Bronze Final / I Idade do Ferro no Sul de Portugal. O caso
do Outeiro do Circo”, mas não se restringindo aos limites físicos do sítio,
uma vez que se procura a integração dos dados obtidos na região conhecida como
“Barros Pretos de Beja”, onde
diversas novidades da Idade do Bronze têm sido evidenciadas, sobretudo através
de atividades de arqueologia comercial. De igual modo, não haverá um limite
cronológico rígido centrado no Bronze Final, uma vez que se procurará conhecer
as estratégias de ocupação da região envolvente ao Outeiro do Circo na longa
diacronia, com especial incidência para os períodos do Bronze Médio até à I
Idade do Ferro.
Destacam-se como mais-valias
deste projeto a integração de uma equipa experiente cujos membros estiveram na
sua maioria ligados ao projeto anterior, permitindo uma maior potencialização
dos recursos e surgindo como maior garantia de cumprimento das tarefas e
calendarização propostas. Trata-se ainda de um projeto multidisciplinar, não só
pela equipa científica, mas também pelo objetivo de vir a envolver
investigadores de outras áreas durante a sua realização, que possibilitem o
desenvolvimento de áreas específicas de investigação integradas nos objetivos
gerais do projeto.
Em termos da
investigação científica, este novo projeto incidirá sobretudo no estudo da área
interna do povoado do Outeiro do Circo, com recurso a trabalhos de geofísica,
prospeção e escavações arqueológicas, possibilitando um incremento do
conhecimento sobre a área habitacional e preenchendo uma lacuna no estudo dos
grandes povoados fortificados do Bronze Final no Sudoeste Peninsular, que foram
sobretudo intervencionados ao nível dos seus sistemas defensivos, sendo poucos
os que aportam dados concretos sobre as dinâmicas habitacionais e as atividades
quotidianas dos seus habitantes.
Em concreto, serão
desenvolvidas prospeções geofísicas em áreas chave já identificadas no Outeiro
do Circo, que permitirão a aquisição de dados para orientação das zonas a
escavar, mas também possibilitarão a obtenção de informações sobre outros
setores do povoado que servirão quer para definir estratégias futuras de
intervenção, quer para documentar com maior rigor algumas zonas já muito
afetadas por ações antrópicas anteriores, sobretudo ligadas à prática agrícola.
As prospeções
arqueológicas pretendem continuar o programa de monitorização do povoado de
modo a registar possíveis afetações provocadas pelos trabalhos agrícolas que
decorrem dentro de algumas parcelas de terreno do povoado, mas também para
aumentar o grau de conhecimento sobre o espaço do Outeiro do Circo no seu
conjunto.
As escavações
arqueológicas incidirão em duas áreas amplas na plataforma superior do Outeiro
do Circo, podendo a sua programação ser ajustada em função dos dados obtidos
pela prospeção geofísica. O principal objetivo passa por caraterizar as formas
e fases de ocupação da área interna, mas também se pretende avaliar o estado de
conservação dos vestígios arqueológicos com o intuito de promover uma futura
valorização patrimonial.
Especial destaque
merece também a vertente da educação patrimonial, que assumiu grande relevância
no PNTA anterior e cujas atividades se prolongaram para além das datas de
vigência do próprio projeto.
Neste âmbito
pretende-se promover uma série de ações (visitas, inquéritos, ateliers,
conferências, exposições, etc.) destinadas ao público em geral e com várias
ações concretas a serem pensadas para a comunidade local, não só como forma de
promover o conhecimento do sítio arqueológico e sensibilizar para a sua
proteção e valorização, mas também como troca de experiências com pessoas de
distintas formações e sensibilidades, o que possibilitará a difusão da
arqueologia como ciência integradora e de múltiplas facetas.
Uma última vertente
deste projeto incidirá sobre a possibilidade de criar um programa de
valorização patrimonial da área intervencionada, estando em grande parte
dependente do estado de conservação dos vestígios arqueológicos detetados. No
entanto, também se pretende promover esta vertente no decurso das campanhas de
escavação, abrindo o sítio arqueológico ao público em geral de modo a
acompanhar o desenvolvimento de um projeto arqueológico no terreno e em todas
as suas fases anteriores à eventual fruição pública do sítio arqueológico.