O Projeto Outeiro do Circo vai estar presente na Mesa-redonda "A Idade do Bronze em Portugal: os dados e os problemas" que irá ter lugar em Abrantes nos dias 28 e 29 de Abril do corrente ano.
Programa completo e outras informações em: http://www.ipt.pt/mesa_bronze/
Aqui fica o resumo da comunicação a apresentar:
Os
senhores da planície. A ocupação da Idade do Bronze nos “Barros de Beja” (Baixo Alentejo, Portugal)
Miguel Serra
As escavações arqueológicas efetuadas no
povoado fortificado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Beja) servem de ponto
de partida para uma análise às formas de ocupação da Idade do Bronze, na região
de planície situada a oeste da cidade de Beja e marcada pela fertilidade dos
solos, conhecidos como “Barros Pretos”.
O Outeiro do Circo, já conhecido na
bibliografia sobre a Idade do Bronze do Sudoeste Peninsular devido à sua
dimensão e localização privilegiada, foi alvo de diversos estudos no âmbito do
projeto de investigação “A transição
Bronze Final / I Idade do Ferro no Sul de Portugal: o caso do Outeiro do Circo”
entre 2008 e 2013. Entre os principais resultados destacam-se a revisão da área
ocupada, atualmente cifrada nos 17 hectares ou a identificação de um complexo
sistema defensivo que integra muralhas, fossos e bastiões, onde se inclui a
escavação de um troço de “muralha
compósita”.
A dimensão e destaque que esta muralha
assumiria numa região pautada por relevos suaves e onde facilmente o domínio
visual alcança várias dezenas de quilómetros, constituem os principais pontos
de análise deste trabalho, procurando demonstrar a importância desta estrutura
para a criação de coesão social (através da mobilização de largos efetivos
populacionais para a sua construção), mas também para a coerção (através da
criação de cenários de afirmação do poder de uma elite dominante) junto das comunidades
que pontuariam este território durante a última etapa da Idade do Bronze.
Este aspeto remete para outro elemento de
análise, indispensável à compreensão da importância regional de um povoado com
estas caraterísticas, ou seja, o estudo do território envolvente e das formas
de ocupação que aí se efetivaram, numa perspetiva diacrónica, capaz de auxiliar
a procura das mudanças e permanências ocorridas no seio destas sociedades e
observáveis através das suas expressões arquitetónicas.
Assim, procuraremos analisar como se
processou o fenómeno de transposição do investimento coletivo na construção dos
espaços sepulcrais no Bronze Médio, materializado nas dezenas de necrópoles de
cistas conhecidas para esta região, para a construção de grandes obras defensivas
em vastos povoados localizados no topo de colinas, durante o Bronze Final.
Todavia, também olharemos para outras formas de ocupação mais discretas, que
ajudam a preencher o quadro geral do povoamento, como os recentemente
identificados povoados abertos de planície, de onde os grandes investimentos
construtivos parecem estar ausentes.
Por fim, analisaremos o fim deste mundo, que
terá atingido o seu apogeu durante o Bronze Final, através da estruturação,
organização, hierarquização e consolidação de um modelo de povoamento, e que
verá o seu colapso durante o 1º quartel do I milénio a. C. devido ao impacto
provocado pelos contactos coloniais, de que encontramos expressão numa série de
necrópoles na envolvente próxima do Outeiro do Circo.
Palavras-chave:
Povoamento,
Território, Arquiteturas, Idade do Bronze, Sudoeste Peninsular