No momento em que faltam poucos dias para dar início a mais uma campanha de escavações no povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo, é chegada a altura de fazer um pequeno balanço dos trabalhos até agora realizados.
Nos próximos dias serão publicados os resumos dos resultados obtidos e das actividades realizadas no projecto nos anos de 2008 e 2009.
Ainda antes de entrarmos no tema propriamente dito, convém referir que já em 1989 foi apresentado à apreciação do então Instituto Português do Património Cultural, um projecto da responsabilidade de Rui Parreira e Teresa Matos Fernandes, sob o título “O Bronze do Sudoeste na Região de Beja”, que pretendia a “…obtenção de dados sobre o funcionamento das comunidades humanas do II milénio a. C. na região de Beja que permitam a discussão das teorias interpretativas e a formulação de um programa de pesquisa…” (FERNANDES e PARREIRA, 1989: 4). Tendo como campo de actuação o território dos Barros de Beja e visando uma sistematização de dados sobre as necrópoles e os habitat, este projecto pretendia entre outros objectivos, a realização de escavações no Outeiro do Circo “…para leitura das sequências estratigráficas num habitat que se julga ocupar uma posição central no sistema de lugares e funções da área em estudo…” (FERNANDES e PARREIRA, 1989: 5).
Infelizmente não houve financiamento para que este projecto avançasse, levando a uma estagnação da investigação sobre a Idade do Bronze desta região.
PNTA 2001 – 2004
Neste primeiro texto daremos conta dos antecedentes relativos ao projecto criado para o Outeiro do Circo no âmbito do PNTA de 2001.
Nesse ano foi aprovado um projecto de investigação da autoria de Miguel Serra, pelo já desaparecido Instituto Português de Arqueologia, que não contou com financiamento. Este facto impediu o cumprimento integral dos objectivos propostos que passavam genericamente pela realização de prospecções no povoado e áreas adjacentes, bem como pela realização de sondagens de avaliação no interior do povoado.
Apenas se realizaram algumas prospecções e um estudo da fotografia aérea, que no entanto permitiram revelar várias novidades em relação ao conhecimento que se possuía do sítio.
Foto 1: Monte da Bela Vista - Vertente Este do Outeiro do Circo (PNTA 2001)
Os principais resultados obtidos permitiram uma melhor observação do perímetro muralhado, documentando-se a existência de uma vasta área com um duplo troço defensivo, que já era parcialmente indicado em planta anteriormente publicada, onde se identificava ao longo de cerca de 400 m de extensão (PARREIRA, 1977: 33; PARREIRA e SOARES, 1981: 118).
Foto 2: Vista do Outeiro do Circo a partir de Este (PNTA 2001)
Foto 3: Dupla linha de taludes na zona Este do Outeiro do Circo (PNTA 2001)
Outro importante elemento observado apenas em fotografia aérea reporta-se à provável existência de uma entrada principal no topo Sul e que seria ladeada por dois bastiões semicirculares. No terreno não eram observáveis quaisquer elementos que comprovassem esta indicação, uma vez que os taludes são aí inexistentes, bem como outros vestígios que revelassem a presença da muralha.
Recolheram-se ainda diversos materiais cerâmicos atribuíveis ao Bronze Final e observou-se a existência de inúmeros blocos de barro cozidos que se concentravam sobretudo nos taludes da muralha e no seu exterior. Apesar de serem normalmente considerados como “barro de cabana”, já se tinha colocado a hipótese de poderem corresponder a uma eventual estrutura de barro que se sobreporia à muralha de base pétrea e que poderia suportar uma paliçada de madeira (BERROCAL-RANGEL, 1993).
Foto 4: Blocos de barro cozido junto ao talude exterior Oeste (PNTA 2001)
Por último foi ainda detectada uma rocha com “covinhas” no interior do povoado, que poderá ser associada à sacralização dos lugares de habitat (PARREIRA, 1995: 133).
Foto 5: Rocha com "covinhas" no interior do Outeiro do Circo (PNTA 2001)
Do conjunto de resultados obtidos neste projecto inicial destaca-se sobretudo a revisão da área ocupada pelo perímetro defensivo do Outeiro do Circo, anteriormente estimado em 8 ha (BERROCAL-RANGEL, 1993: 218) e que a análise da fotografia aérea permite situar nos 17 ha.
Os dados aqui relatados foram alvo de publicação (SERRA et alii, 2008) e serviram de base à reformulação do projecto que viria a ser aprovado em 2008 e que se encontra em curso.
Nos próximos dias publicaremos os resumos das campanhas de 2008 e 2009.
Foto 6: Talude na zona Sudoeste (PNTA 2001)
Foto 7: Interior do Outeiro do Circo. Vista para Nordeste (PNTA 2001)
Fig. 1: Cerâmica: taças carenadas (recolhas de superfície - PNTA 2001)
Fig. 2: Cerâmica: potes (recolhas de superfície - PNTA 2001)
Fig. 3: Planta do Outeiro do Circo com base na fotografia aérea (PNTA 2001)
Bibliografia
BERROCAL-RANGEL, Luis (1993), Los pueblos celticos del Suroeste de la Peninsula Iberica, Complutum – extra 2, Madrid.
FERNANDES, Teresa Matos e PARREIRA, Rui (1989), O Bronze do Sudoeste na Região de Beja, projecto de investigação apresentado ao Instituto Português do Património Cultural, documento policopiado.
PARREIRA, Rui (1977), O povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo, Arquivo de Beja, 28 – 32, pp. 31 – 45.
PARREIRA, Rui (1995), Aspectos da Idade do Bronze no Alentejo Interior, in A Idade do Bronze em Portugal – Discursos de Poder, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, pp. 131 – 134.
PARREIRA, Rui e SOARES, António Monge (1981), Zu Einigen Bronzezeitlichen Hoensiedlungen in Sud Portugal, in Madrider Mitteilungen, 21, pp. 109 – 130.
SERRA, Miguel, PORFÍRIO, Eduardo e ORTIZ, Rafael (2008), O Bronze Final no Sul de Portugal – Um ponto de partida para o estudo do povoado do Outeiro do Circo, Actas do 3º Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, Aljustrel, 26 a 28 de Outubro de 2006, VIPASCA, Arqueologia e História, Aljustrel, n.º 2, 2ª série, 2008, pp. 163 – 170.